quinta-feira, 10 de junho de 2010

Outra noite no Festival de Poesia de Berlim, com poetas alemães, italianos e espanhóis

Na terça-feira, houve uma leitura no Poesiefestival Berlin com os poetas deste ano no projeto Versschmuggel, algo como "contrabando de versos", uma oficina de tradução em que pares de poetas, sempre um germânico e o do país ou língua "convidada", diferente a cada ano, passam uma semana traduzindo um ao outro, mesmo sem conhecer a língua do colega, com a ajuda de um tradutor profissional. A ideia se assemelha, talvez, a descrições que li sobre a maneira como Boris Schnaiderman, Haroldo de Campos e Augusto de Campos trabalharam nas traduções de poetas russos modernistas, ou a forma como W.H. Auden traduziu, em parceria, poetas de línguas que desconhecia. Chama-se o conceito, aqui na Alemanha, de Nachdichtung, em que um tradutor faz uma primeira versão literal, respeitando apenas o tal de "sentido", e faz então, para o poeta que vai "pós-poetizar" o texto, anotações sobre o contexto em que o texto se insere, sobre eventuais referências intertextuais, jogos de palavras, informações sobre o registro, se culto ou coloquial, para que, juntos, os dois poetas então recriem o poema na outra língua. Em 2008, quando a Última Flor do Lácio foi a convidada do festival, fui pareado com a poeta alemã Sabine Scho, Angélica Freitas com o também alemão Arne Rautenberg, Paulo Henriques Britto com o austríaco Hans Raimund, e Marco Lucchesi com o alemão Nikolai Kobus. Havia ainda poetas portugueses e africanos. No ano passado, a oficina pareou poetas germânicos e poloneses, e este ano, como o foco do festival recai sobre os países mediterrâneos, os pares dos alemães eram poetas italianos. Fui à leitura pois um dos convidados era Nanni Balestrini (Milão, 1935), e queria a oportunidade de ouvi-lo pela primeira vez.

Depois desta leitura, houve outra com poetas espanhóis e cantores de flamenco contemporâneos, que musicaram textos de poetas como Ibn Arabi (1165 - 1240), Jorge Luís Borges (1899 – 1986) e Joan Brossa (1919 - 1998). Meu querido Eduard Escoffet (Barcelona, 1979), um dos melhores jovens poetas da Catalunha, acabou participando da leitura, lendo poemas do interessante poeta catalão Biel Mesquida (Castelló de la Plana, 1947), que não pôde comparecer por motivos de saúde e pediu a Escoffet que o representasse. A outra poeta era María Eloy-García (Málaga, 1972), e os cantores eram Curro Piñana e Ginesa Ortega. Saí de lá com algumas impressões e ideias, geradas pelas leituras, mas ainda preciso matutar mais antes de borrá-las por aqui. Deixo vocês com um vídeo de Curro Piñana, cantando textos de poetas árabes.




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