Soube pelo Demônio Amarelo, espaço mantido pelo querido Dirceu Villa, que Cat Power esteve de passagem pelo Brasil e fez uma excelente apresentação em São Paulo. A notícia me trouxe velhas lembranças ligadas a Chan Marshall. Em primeiro lugar, lembrei-me imediatamente de sua apresentação em São Paulo em 2001, no SESC Vila Mariana, que foi um verdadeiro desastre. Cat Power era já famosa naqueles tempos por subir completamente bêbada no palco, incapaz de terminar qualquer canção, com problemas no violão, no piano. Aquela noite não manchou a admiração que eu tinha por ela, minha paixão por sua música, mas ficou na memória como uma noite triste. Era muito triste vê-la naquele estado, por mais que alguém pudesse tentar glamourizar o artista atormentado, bêbado, sofredor. Ela parecia imensamente infeliz, sozinha naquele palco enorme do SESC Vila Mariana, apenas com um piano e todo o álcool do mundo. Parafraseando o poeta polonês Zbigniew Herbert, que em seu poema sobre Tucídides falava sobre o "preço do exílio" nos versos "exiles of all times / know what price that is", eu diria aqui que "artistas bêbados de todos os tempos sabem que tristeza é esta."
Outra lembrança foi a da primeira vez que ouvi/vi Cat Power. Era tarde da noite, eu era ainda um adolescente, zapeando pela televisão, quando apareceu o vídeo para a estupenda canção "Nude as the news", do álbum What Would The Community Think, de 1996, com uma Chan Marshall novíssima, de cabelos curtos, claramente embriagada, em imagens em preto-e-branco, tagarelando, caminhando, ensandecida e ao mesmo tempo calma em sua loucura. Foi amor à primeira vista, e esta canção segue sendo uma de minhas all-time-favorites, com seu texto absurdo e enraivecidamente erótico.
("Nude as the news", Chan Marshall, ou Cat Power)
No entanto, o primeiro álbum de canções de Cat Power que comprei foi Moon Pix, de 1998. Do álbum, creio que minha canção favorita é aquela que a própria Cat Power declara ser uma de suas favoritas: "Metal heart", que vocês podem ouvir aqui neste vídeo, com Cat Power ainda muito moça, indie girl descabelada, em 1998.
("Metal heart", ao vivo em San Francisco)
Além das lindas canções de sua própria autoria, Chan Marshall é uma intérprete muito boa, que já lançou dois álbuns com versões para canções alheias. Minha favorita ainda é sua versão para a deslumbrante "Moonshiner", que já foi cantada, dentre outros, por Bob Dylan. A de Cat Power é de longe a mais linda.
("Moonshiner", canção popular, na versão de Chan Marshall)
"Moonshiner" é seguramente, ao lado de "O mundo é um moinho", do Cartola, a canção mais triste do mundo.
Moonshiner
tradição popular norte-americana
I've been a moonshiner
For seventeen long years
I spent all my money on whisky and beer
I go to some hollow
And set up my holy holy still
If drinking does not kill me
Then I don't know what will
I go to some bar room
And drink with my friends
If women and men would come to follow
To see what I might spend
God bless them handsome men
I wish they were mine
Their breath is as sweet as
The dew on the holy holy vine
You're already in hell, you're already in hell
I wish we could go to hell
When the bottle gets empty
Then life ain't worth the drown
Ela está cada vez mais bonita. A idade a transformou num mulherão. Desde que deixou de beber, suas apresentações, pelo que tenho lido, tornaram-se perfeitas, maravilhosas. Espero pela chance de vê-la/ouvi-la aqui no Berlimbo. Encerro esta postagem com a entrevista abaixo, mostrando uma Chan Marshall honesta, sincera, cândida, terna, singela, linda Chan Marshall.
(Chan Marshall em entrevista para o New York Times)
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terça-feira, 1 de junho de 2010
Das canções favoritas: "Metal heart", de Chan Marshall, ou Cat Power
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