terça-feira, 26 de julho de 2011

"O solteiro mais cobiçado do mundo"





O solteiro mais cobiçado do mundo


Era um jovem com o mais promissor
dos futuros. Nascido em um império,
dele herdeiro. Cresceu entre duas
capitais do que chamamos de "alta
cultura", com esta naturalidade nossa
de quem salta cadáveres por pressa,
cidades-clímax, feitas de sonhos
de proporções magníficas, ou, talvez,
praticamente maníacas. Gerado
no útero da mulher, dizia-se,
mais linda do mundo, o pai,
alega-se no mesmo tom superlativo,
o todo-poderoso dentre os homens
sobre a Terra conhecida. Este menino
e logo rapaz, com futuro do qual
se esperava nada menos que o gigante
e o mamute, tão promitente, era filho
de deuses, nada menos que organismo
divinizável. Em suas veias
desaguavam o Tibre e o Nilo,
em suas glândulas se agitava
o Mediterrâneo. Quem
duvidaria que seus genes
eram estopa e estofo para Homeros,
Virgílios? O que poderia impedi-lo
de tornar-se maior que Alexandre,
o Grande? O que deteria o destino
ainda pubescente deste futuro
macho-alfa supremo do planeta?
Não se sabe se ele herdou os traços
afrodisíacos da mãe (que cria,
porém, ser encarnação de Ísis), se
herdou o jeito de Marte do pai (que
por sua vez cria encarnar Roma). Isso
tudo foi há muito tempo. Cesárion,
filho de Caio Júlio César
e Cleópatra Diva Filopátor,
tem 17 anos, é uma fonte
da qual jorram testosterona
e sonhos, em suas coxas
habita toda uma dinastia.
Mas Cesárion, dezessete
anos de idade, um dia (há não
tanto tempo) o feto mais
promissor do futuro,
será morto hoje
por ordens de Otaviano,
seu irmão adotivo,
o futuro Augusto.
Talvez fruto
e exemplo da velha batalha
entre ornamento e função,
limite fisiológico de tudo
o que é idealizado,
sabemos que coroa
alguma jamais
protegeu
qualquer pescoço
e cidadão ou meteco,
rei ou plebeu,
alguém entre vocês
ainda tem dúvidas
sobre quais as relações
entre promessa e futuro?



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2 comentários:

Anônimo disse...

Kaváfis reciclado em poema prolixo e cabotino. Teus "reflexos" históricos são intragáveis. Teu corpo não urge que volte a versar?

Ricardo Domeneck disse...

Caro Anônimo, você encontra sua resposta aqui:

http://ricardo-domeneck.blogspot.com/2011/07/comentarios-um-poema-recente-e-resposta.html

abraços com hombridade,

RD

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