Mostrando postagens com marcador orgulho dos amigos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador orgulho dos amigos. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Apresentando um amigo berlinense - MARIUS FUNK - sua página de música e a seleção de 15 canções excepcionais dentre suas favoritas

Eu costumava ver este rapaz toda vez que ia a um clube aqui de Berlim chamado Scala, que já fechou. Discotequei ali algumas vezes, funcionava em um prédio velho e teve o fim de quase todo clube berlinense dos últimos anos: foi obrigado a cerrar as portas porque os proprietários decidiram reformar o prédio e transformá-lo em morada de luxo. O rapaz sempre me chamava a atenção, não apenas por ser muito bonito e também diferente da loirice alemã por vezes homogênea demais, mas porque meu instinto dizia que havia mais que apenas looks ali. Nunca se sabe, é claro. Aconteceu várias vezes de tomarmos o mesmo bonde para casa, o que me levou a crer que morávamos no mesmo bairro. Na verdade, como descobriria depois, moramos em bairros fronteiriços, ele em Pankow, eu em Prenzlauer Berg. Depois de tanto nos vermos no mesmo clube e transporte público, puxei papo uma noite e o convidei para o evento às quartas-feiras que coorganizo. Daí em diante tornamo-nos amigos e tive com isso a sorte de conhecer um rapaz incrivelmente educado, além de inteligente e apaixonado (deveria dizer obcecado) por música.

Marius Funk nasceu em Berlim (antes da Queda do Muro, na então Berlim Ocidental) em janeiro de 1986, de pai mongol e mãe alemã, o que explica este rosto marcante. Cresceu e viveu toda a sua vida aqui, agora capital.

Costuma surpreender quando encontramos um berlinense, um nativo. Por causa do Muro, viver em Berlim não era exatamente considerado um luxo. Em geral encontramos hoje berlinenses, nascidos aqui, com mais de 50 anos. Com a migração para a cidade na década de 90 - após a Queda do Muro - há toda uma geração de meninos e meninas berlinenses chegando agora à maturidade, com cerca de 20 anos. Eu costumo brincar que você reconhece um/a berlinense da seguinte maneira: ou ele/a está carregando uma bengala, ou um skateboard. Ou seja, os berlinenses nativos (geralmente bem orgulhosos de o serem) são na maioria muito velhos ou muito novos. Na minha faixa etária (estou hoje nos meus mid-thirties), o que encontramos é o grande número de alemães que se mudaram para Berlim na década de 90 ou início dos anos 2000. Mais uma vez, eu costumo brincar que a Queda do Muro teve, entre suas consequências, o esvaziamento de até 65% do estado alemão de Baden-Württemberg, no sul do país, de onde tenho a impressão de que veio quase todo imigrante que conheço na cidade - inclusive o meu Moço, Jannis. Marius pertence a uma geração que nasceu e começou a crescer ainda na Berlim dividida, como outros amigos meus. E só quem viveu entre alemães sabe como um berlinense em geral diferencia-se dos outros. Não creio que eu conseguiria viver em qualquer outra cidade deste país. Se em alguns países a maior cidade é o epítome do que costumamos associar com o lugar (como Paris e França, por exemplo, ou Buenos Aires e Argentina), em outros a relação é contrária. Eu costumo dizer que há Berlim... e há a Alemanha - ainda que, infelizmente, Berlim esteja se tornando cada vez mais a capital mesmo da Alemanha, em todos os tristes sentidos.

Marius Funk é hoje uma de minhas fontes principais de música nova e também um dos meus DJs favoritos, sem mencionar que gosto muito, muito dele como amigo. Convido-o pelo menos uma vez por mês para tocar na SHADE inc, como é o caso de hoje à noite. Como passei a dedicar meu tempo quase integral à escrita e ao trabalho com vídeo, hoje quase não discoteco e estou bem próximo de aposentar-me como DJ, pois não tenho tempo para acompanhar o fluxo estonteante de música nova acontecendo. Os últimos movimentos que surgiram na Europa, como o dubstep e agora seus desdobramentos, começam já a atropelar-me. Foi por isso que sugeri a Marius que passasse a discotecar, pois sua paixão e o conhecimento sobre música pop que demonstrava eram realmente incríveis. Faz agora um par de anos que passou a tocar em nosso evento com frequência. Desde então, sua carreira tem seguido bem rápida e já foi convidado a tocar em dois grandes festivais da Alemanha.

Ele está agora preparando suas primeiras produções pessoais de música, mas se recusa a mostrá-las até que estejam prontas. Outra característica dele: um perfeccionismo por vezes enlouquecedor.

Na semana passada, Marius decidiu começar uma página onde fará sugestões diárias de música nova. A quem interessar o que está acontencendo na Europa, mas não só, recomendo muitíssimo uma visita diária a sua página SongTreat:


SONGTREAT: PÁGINA DE MARIUS FUNK PARA A APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE MÚSICA NOVA


A propósito, seu nome - Marius Funk - não é pseudônimo ou codinome de artista. "Funk", que em alemão é usado para o campo semântico de "rádio", é realmente seu sobrenome. Eu sempre achei muito engraçado, de tão apropriado. Pedi a Marius que fizesse uma listagem de 15 bandas (e suas respectivas canções favoritas) que em sua opinião deveríamos acompanhar. Seguem abaixo as 15 escolhidas.




QUINZE BANDAS E CANÇÕES EXCEPCIONAIS, SELECIONADAS POR MARIUS FUNK



§ - Teengirl Fantasy - "Cheaters"




§- Jozif - "Suddenly Somethin'"




§- Helios - "Woods And Gives Away"




§- The Kilimanjaro Darkjazz Ensemble - "Embers"




§- Altrice - "Modern Song"




§ - Portugal. The Man - "The Sun"



§ - Wolfgang - "Back To Back" (acoustic version)




§ - Jeniferever - "A Ghost In The Corner Of Your Eye"



§ - Onra - "The One" (feat. T3 from Slum Village)



§ - Hard Mix - "Now Her"




§ - The Magician - "Magic Tape Nine" (his latest monthly mix)
Magic Tape Nine by TheMagician



§ - Under Byen - "Det Er Mig Der Holder Træerne Sammen"




§ - Midland - "Leitmotif"




§ - Anoraak - "Nightdrive With You" (Saycet Remix)



§ - Totally Enormous Extinct Dinosaurs - "Waulking Song"



.
.
.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Meu amigo Jorge Wakabara visita Berlim. Postagem com um conto, sua colagem "Monstro", e minhas respostas para seu famoso "Questionário Dourado"

Meu amigo Jorge Wakabara está em Berlim há uma semana, misturando meus mundos paulistano e berlinense, fazendo deles agora nosso mundo paulistano-berlinense em uma experiência comum. É sempre uma sensação de cócegas no contexto, criando canais entre mundos estanques, quando amigos próximos meus de São Paulo visitam-me em Berlim. O legal é que eles saem daqui entendendo por que eu escolhi viver nesta cidade.

Conheci Jorge em 1999, creio. Tínhamos um amigo em comum, Roberto Borges, que era como eu membro da Tribo de Teatro Tumutupugá, com a qual encenamos, naquele mesmo ano, a peça 1999, para a qual servi de dramaturgista. Não, não dramaturgo, mas dramaturgista, aquele que tomava as improvisações e os textos não-teatrais que todos traziam para os ensaios, e os limava, redigia, teatralizava. Com esse trabalho coletivo, entravam no texto da peça fragmentos de Charles Baudelaire, Gaston Bachelard, Hilda Hilst, Vladimir Maiakóvski, Robert Browning, José Saramago, e até meus, contrabandeados por mim no trabalho de costura dos fragmentos.

Jorge e eu nos tornamos muito amigos e tenho memórias ótimas de conversas por caminhadas, descendo ou subindo a pé a Rua dos Pinheiros, zanzando pela Vila Madalena, na nossa São Paulo do início do século. Com ele, tinha conversas literárias que eram completamente diferentes das que tinha com outros amigos escritores. Suas perspectivas nunca eram formalistas, eram sempre intuitivas, instintivas, vinham de um gut feeling. Sua escrita era despretensiosa, e isso era refreshing, sem empáfia. Suas leituras eram também alheias às modas do momento, mesmo a muitas das minhas obsessões; ele lia Márcia Denser, Caio Fernando Abreu e João Silvério Trevisan, por exemplo. Seus poetas eram Allen Ginsberg, Ana Cristina Cesar. Nós compartilhávamos o amor por Hilda Hilst e Clarice Lispector, mas era também bom ouvir sobre um mundo literário com referências diferentes das minhas. Eu não amava J.D. Salinger como ele, nem me entusiasmava com C.F. Abreu, mas era legal saber que havia muitos cânones pessoais, que cada altar recebia seu santo.

Hoje, Jorge Wakabara é jornalista e editor de moda, braço direito de Lilian Pacce. O mais importante: ainda é um dos meus amigos mais queridos.

Reproduzo nesta postagem 3 coisas ligadas a Jorge Wakabara:

§ - em primeiro lugar, seu conto "Cinco minutos na cama", que publiquei há anos em uma versão antiga da Hilda Magazine.

§ - em segundo, a série de colagens "Monstro", inédita, que deveria ter entrado numa revista que planejei mas jamais saiu do projeto.

§ - por fim, reproduzo aqui o que ele já publicou em seu blogue esta semana: minhas respostas para o seu divertidíssimo "Questionário Dourado", uma sátira com o Questionário Proust que ele tem feito com amigos há muito tempo.


:


CINCO MINUTOS NA CAMA
Jorge Wakabara

Quando você olhou o meu pé e começou a rir, eu nunca pensei ter tanta placa tectônica dentro do meu crânio, por debaixo desse meu couro cabeludo, e pelos poros dessa minha pele que se revelou quente e áspera: pura reação psicossomática. Você riu, Carlos, por causa de um dedo, o meu dedo que seria o médio, o do meio, que era nitidamente maior que o meu dedão. E você disse, Carlos, com um humor que não te é peculiar, que eu tinha quatro mãozinhas no lugar de duas mãos e dois pés. Eu era, de repente, uma anormalidade digna de um 'freak-show'. Então eu estava ali, nu, com tantas coisas a serem vistas, e você notou o pior dos meus defeitos físicos. Notou-o descompromissadamente. Como se o fato de teu namorado ter aquele dedo médio comprido fosse equivalente à morte de um cachorro, ou ao enterro de uma vizinha chata. Eu fiquei muito perturbado, talvez sem razão, porém terrivelmente perturbado. O meu cabelo, por exemplo, podia estar feio e eu o cortaria, ou o pintaria, ou até mesmo o rasparia, se fosse esse o caso. O dedo, Carlos, não se corta, não se arranca, e muito menos se morde, já que se tratava de um dedo do pé e não da mão e ficaria muito mais difícil para mim, que tinha pouco condicionamento físico e alongamento, alcançar o dedo médio do meu pé com os meus dentes. Mesmo que ele fosse tão anormalmente comprido. Eu te detestei por vívidos e intensos segundos, eu te desejei morto e enterrado, mas antes de tua morte, ah, Carlos, desejei ainda que você sofresse doenças horrorosas, que te fariam coçar e escamar inteiro; imaginei tua cabeça estourando e teus miolos gritando "chega" em uma freqüência tão alta que não seriam escutados pelo ouvido humano. Depois eu quis que você se sujeitasse e lambesse aquele meu dedo médio horroroso, e todas as veias saltadas do meu pé magro horroroso, e ainda a minha canela magra, peluda e horrorosa; eu te chamaria de porco, canalha, bruto, e sussurraria com autoridade: "lambe mesmo, Carlos", "mais aqui", "agora te esmago". No entanto, teu sorriso cínico se desmanchou pouco a pouco e você, Carlos, percebeu que talvez eu tivesse certos traumas com aquele dedo específico, e também percebeu que talvez eu não gostasse que falassem daquele meu defeito físico. Imaginou que certamente eu já havia sofrido com gozações de família, colegas e desconhecidos. Eu derreti embaixo dos lençóis, levando as minhas terceira e quarta mãozinhas para longe de teu senso crítico com um “ar de cotidiano”, como se essas coisas acontecessem todos os dias, como se o cachorro tivesse morrido durante o enterro de uma vizinha chata. Esbocei algumas frases que lembravam algo muitíssimo inteligente vindo de alguém bem resolvido, enquanto apalpava o feio, o bobo, o metido que cresceu mais do que devia, e o acariciava, sangue do meu sangue, pele da minha pele, pedaço de mim metade adorada de mim, ao mesmo tempo em que mentalizava: "Calma, dedo. Não foi nada dessa vez".

2004


§


Monstro
um texto-colagem de Jorge Wakabara (2006)

(clique nas imagens para aumentá-las)






§

Ricardo Domeneck responde em Berlim às perguntas douradas de Jorge Wakabara:


QUESTIONÁRIO DOURADO INTERNACIONAL
COM RICARDO DOMENECK

(publicado originalmente no blogue Caminho Dourado. Adicionei aqui algumas notas em vermelho sobre as respostas.)


1. Me conta uma coisa que você fazia há 5 anos e não faz mais.
Ir no Biu.

(restaurante de comida caseira na Rua Cardeal Arcoverde, ao qual eu ia muito com meus amigos paulistanos quando morava na cidade, no início da década.)

2. Me diz um filme que você gostaria de ter feito, e o porquê.
“A professora de piano”, pra poder convidar a Isabelle Huppert quando eu quisesse pra gente tomar champanhe e ver uns pornôs.





(este filme é uma das minhas obsessões, eu o vi 11 vezes no cinema, ele conjuga todas as minhas preocupações políticas, estéticas, metafísicas e um vasto etc.)


“Me dá essa taça logo, então”

3. Me diz uma coisa que você comprou e nunca usou. Por que você nunca usou?
Uma calça xadrez no Mercado Mundo Mix da qual eu me arrependi assim que pus os pés pra fora do galpão. Isso foi em 2001! Coloca que foi em 2001!

(ah! meus tempos de pseudo-clubber!)

4. Qual é a fase da sua vida que você quer lembrar pra sempre?
Quando eu morava no Sobrado, com um bando de gente inteligente mas proletariado, escrevendo meu 1º livro e mais facilmente deslumbrado com as coisas.

5. Qual é a palavra que você está usando muito agora?
Banause” – que é uma expressão alemã pra cafona.

6. Me conta uma coisa muito exótica que você amava nos anos 90.
A tatuagem no braço esquerdo do Jon Bon Jovi – especialmente na perspectiva generosamente doada pelo vídeo “Keep the faith”.

(os anos 90 deram-nos uma adolescência meio insana, mas esta resposta vocês devem creditar mais à minha sexualidade adolescente desenfreada.)




Bon Jovi - Keep The Faith
Hochgeladen von umusic. - Musikvideos, Sänger Interviews, Konzerte und mehr.

7. Me fala o que te faz rir muito, e o porquê.
Qualquer tipo de humor autodepreciativo.

8. Que personagem de novela você gostaria de ser? Por quê?
Viúva Porcina, porque é o mais perto que o Brasil já chegou de Almodóvar.


9. Me diz um defeito seu e um defeito meu.

Meu: Quando dois amigos meus que me tinham como elo passam a ter um relacionamento independente de mim, a minha primeira reação incontrolável é a ofensa.

Seu: na 1ª semana de julho de 2001, eu costumava achar você um pouquinho judgemental (a Carrie já disse isso pra Miranda).

10. Qual é a música mais linda que você já ouviu?
Vou dizer a 1ª que me veio na cabeça, sem pensar muito. “Rising”, da Lhasa de Sela.



.
.
.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Amigos fotógrafos e suas publicações recentes: Terceira postagem: a série "Fashion victim", de Adelaide Ivánova.

Conheci Adelaide Ivánova em 2003. O ano é meio lendário para os dois: Ivánova chegava a São Paulo, eu vivia meu ano de interstício estressante entre São Paulo e Berlim por problemas de visto. Dividimos teto n`O Sobrado, a casa na Vila Madalena que "mitologizamos", onde nos primeiros anos desta década que ora se encerra refugiaram-se, em pindaíba financeira e amorosa, em rodízio de divisão dos 4 quartos, jovens poetas, atores, cineastas, antropólogos em meio a teses de doutorado, e outras criaturas estranhíssimas. Fui um dos membros fundadores, morando ali por 8 meses em 2001, e depois por mais 10 meses em 2003. Ali escrevi muitos poemas do meu primeiro livro, Carta aos anfíbios (2005), quase todos os da segunda parte, por exemplo. Nessa segunda passagem, a sra. Adelaide Ivánova chegou de Recife e também se instalou n`O Sobrado. Ali organizei sua primeira exposição de fotos. Ela tinha 20 anos, eu tinha 25. Ali jorrava uma fonte de secreções corporais, álcool e outras invitations to Mr. Hyde, como gosto de dizer. Ali tivemos brigas, que podiam tanto girar em torno de pratos sujos como gritos de "desliga essa merda de som, não aguento mais ouvir Los Hermanos!". Deixo com vocês adivinhar quem gritava para quem esta última.

Esse ano, Ivánova veio à Alemanha e viveu alguns meses em Berlim, onde reatamos nossa amizade. Bebemos, suamos ao sol, dançamos até cair, e colaboramos em uma peça, sua instalação "100 Men", projeção sobre lençol que ela apresentou no evento que coorganizo às quartas-feiras, e para a qual preparei uma peça sonora cafona, irritante e divertidíssima. Juntos, almodovaricamos muito em Berlim.

Adelaide Ivánova postou na semana passada um novo slideshow com sua série "Fashion Victim" (2005 - 2008). Mostro-a a vocês aqui. Se Adelaide estivesse aqui, eu diria a ela "Ô mulher, ficou muito legal o slideshow, você sabe como gosto desta ironia que se emaranha entre a invectiva e a self-deprecation, de quem anda na corda bamba, sem saber onde termina a resistência e onde começa o colaboracionismo, aturando aqueles chatos que se julgam muito puros e fora do sistema e não sabem o risco que nós corremos como agentes duplos." É o que eu diria a Adelaide Ivánova se ela estivesse aqui, sobre seu sarcasmo com as It Girls, só por tantas delas serem tão descerebradas.

"Fashion Victim", a série. Adelaide Ivánova "veste" e "usa" Prada, Louis Vuitton, Lenny, Neon, Daslu e, em suas próprias palavras, "todas as vacas desocupadas que costumava fotografar."


adelaide ivánova's_the fashion victim series from adelaide ivánova on Vimeo.




Tenho alguns originais dela na minha minúscula coleção, e ela, obviamente, também figura na Hilda Magazine.

.
.
.

domingo, 24 de outubro de 2010

Amigos fotógrafos e suas publicações recentes: Segunda postagem: "Die Schwulennummer: Das Plakat", de Heinz Peter Knes.

Conheci Heinz Peter em 2004, no lendário clube Black Girls Coalition, que infelizmente já não mais existe, ficando apenas na memória de uma Berlim caótica, criativa e livre no período pós-Muro imediato, que aos poucos vai também deixando de existir para se transformar cada vez mais na capital da Alemanha. Somos hoje muito amigos e discutimos muito sobre o nosso trabalho, confio demais em sua sabedoria. Já colaboramos de várias maneiras, mas as mais notáveis foram seu pequeno livro Corps (2009), publicado na França como separata da revista Double, para o qual escrevi um dos meus poemas favoritos, em inglês e português, o texto "Corpo". Discuti esse trabalho e o texto em um artigo do ano passado.

Nossa mais recente colaboração ::::: um díptico fotográfico seu que retrata o túmulo do cineasta Friedrich Wilhelm Murnau (1888 - 1931), com poema meu em inglês ::::::: será publicada no mês que vem pelo projeto eletrônico This Long Century.

Informações práticas: Heinz Peter Knes nasceu em 1969, em Gemünden am Main, sul da Alemanha. Após uma passagem por Colônia, o fotógrafo vive desde o início da década em Berlim, de onde já fotografou para revistas como Purple, Butt, i-D, Nylon, 032c, Dutch, Doingbird, e Camera Austria, entre outras. Heinz Peter já me retratou em vários momentos, e uma foto minha acaba aparecendo em sua mais recente publicação: a edição limitada de 1000 exemplares de um cartaz gigante :::: (140 x 200cm) :::: com sua série "Die Schwulennummer", algo como "O Número Viado". Aqui, na ironia típica de Heinz Peter, "número" é usado tanto no sentido matemático, também de "edição", e sub-repticiamente como em "cada uma das partes executadas (de dança, música, etc.) de um espetáculo de variedades", algo circense, aludindo a certa teatralidade que ele critica na cena homossexual. Em sua página pessoal, há um diálogo entre mim e Heinz Peter sobre a noção de gênero, identidade, queerness, e outros gudes, mas apenas em alemão. A série tem 32 fotos.


(Heinz Peter Knes, "Die Schwulennummer")



Apresentei já há dois anos alguns trabalhos de Heinz Peter Knes na Hilda Magazine.

Abaixo, detalhe da apresentação do cartaz no lançamento que organizei para meu querido Heinz Peter Knes em nosso evento semanal às quartas-feiras. Já tenho o meu exemplar, que também guardei com as outras originais assinadas deste que é meu grande amigo e um dos melhores fotógrafos alemães em atividade.




.
.
.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Alguns anúncios, antes de voltar a fazer gênero

Há alguns pontos que gostaria de acrescentar à postagem da semana passada, em que volto a discutir a questão do GENDER, especialmente após as intervenções muito boas e inteligentes de Érico Nogueira e Dirceu Villa, dois poetas com quem me é sempre muito estimulante debater. Não se trata, por fim, apenas da questão de gênero, como em GENDER. Eu acho que seria muito interessante trazer a própria questão de gênero como GENRE a esta discussão, assim como uma conversa mais ampla sobre os papéis e funções possíveis para o poeta em nosso contexto histórico, meditando sobre os vários papéis e funções que os poetas já exerceram em suas respectivas comunidades, ao longo dos tempos, como os poetas-xamãs, que eram (e ainda são em muitas regiões) os médicos e sacerdotes da comunidade; os aedos na Grécia antiga, fundadores dos mitos "nacionais" (uso o conceito anacrônico com parcimônia) em seus épicos, unificadores da comunidade; os bardos medievais, que acompanhavam os senhores em batalhas, para registrar-lhes a História; o sofisticadíssimo serviço de entretenimento dos trovadores provençais/occitanos, etc.

Penso nos cataclismos e transformações na relação entre o poeta e sua comunidade após a Revolução Francesa, algo que pode claramente ser sentido em Baudelaire e Rimbaud, ou mesmo nos jacobinos Wordsworth e Coleridge. E, não nos enganemos, ainda estamos sob os efeitos, como poetas, dos novos cataclismos e transformações catalisados pela Revolução Russa na relação entre o poeta e sua comunidade. Se Maiakóvski e Mandelshtam os sentiram nos ossos, ainda os sentimos na pele, pelas ondas de choque que nos chegam. Tenho me esforçado para esclarecer os meandros de minha defesa por um trabalho crítico que englobe forma, função e contexto.

Mas voltarei a isso na próxima postagem, tentando dialogar com a postagem de Érico Nogueira e a de Dirceu Villa.


Hoje, gostaria apenas de fazer alguns anúncios rápidos.

§ - HILDA magazine, que edito aqui no Berlimbo com um amigo, o designer britânico Oliver Roberts, está novamente no ar. Após alguns problemas com nosso servidor, mudamos o endereço da revista eletrônica, que agora é

http://www.hildamagazine.com

Lá você encontrará trabalhos que cruzam as fronteiras dos gêneros e das nacionalidades, em fotografia, vídeo, música e textualidade, de artistas contemporâneos e primordialmente jovens, que iniciaram seus trabalhos neste século, neste contexto histórico, com algumas exceções sempre necessárias, já que deixamos o dogma para os cinquentões.

Esta é a mission statement da revista:

HILDA magazine recognizes no borders between genres or national identities, and wishes to gather artists who are residents of various metropoles around the globe such as Berlin, London, São Paulo, New York, Moscow, Buenos Aires or Tokyo, where they settled in the interest of word and image exchange. We are in the business of cross pollination between lands, languages and artistic practices.

HILDA magazine is interested in cultural interventionists, political activists and any creature who has chosen to follow the code of freaks. The magazine likes to chant "one of us, one of us" at each new update. For those who do not quite fit in the puzzle.


§ - Iniciamos esta semana, na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co., um ciclo crítico sobre o poeta florentino Guido Cavalcanti (1250 -1300).



Assim como fizemos com o poeta Caio Valério Catulo (84 a.C. - 54 a.C.), uma das fontes da est-É-tica que seguimos, convidamos cinco poetas brasileiros contemporâneos brasileiros para o ciclo, discutindo a obra de Cavalcanti, um dos melhores exemplos do que venho chamando de poesia tesa, mais que densa, concreta ou concisa. Inicia o ciclo crítico o poeta paulistano Dirceu Villa. O ciclo contará ainda com artigos e traduções de Eduardo Sterzi (RS), Érico Nogueira (SP), Bruno Brum (MG) e Rodrigo Damasceno (BA).


§ - Na semana que vem, o coletivo de que faço parte funda nosso novo projeto, que substituirá o evento semanal Berlin Hilton (2005 - 2010), que organizamos por cinco anos no clube Neue Berliner Initiative. O novo projeto chama-se SHADE inc. A estreia será no dia 07 de abril, com uma performance de Wolfgang Müller, do lendário coletivo berlinense Die Tödliche Doris (1980 - 1987), apresentando seu trabalho sonoro Seance Vocibus Avium (2008); uma pequena apresentação do cantautor berlinense Petula; uma intervenção do duo de videoartistas AlexandLiane; e DJ sets das lendas berlinenses Peaches e T.Raumschmiere.


(T.Raumschmiere - "Monster Truck Driver")

O projeto traz-nos ainda mais próximos do sonho de ter our own private Cabaret Voltaire. Primeira filipeta e programa abaixo.








§ - Ocorre hoje, no Rio de Janeiro, o evento Estrondo, organizado pela editora 7 Letras para marcar o lançamento do projeto Lado7, no qual a editora vem reunindo, há vários meses, a oralização de textos, feita pelos próprios poetas no estúdio montado por Jorge Viveiros de Castro na editora.



Chacal e Carlito Azevedo participam do evento, além dos jovens poetas cariocas Alice Sant´Anna e Gregorio Duvivier. O programa do evento o apresenta nestas palavras:

"Uma nova forma de veicular a poesia brasileira será lançada com Estrondo pelo selo Lado7, da editora 7Letras. O espetáculo traz os consagrados poetas Chacal e Carlito Azevedo e os jovens Alice Sant’Anna e Gregorio Duvivier interpretando ao vivo seus poemas com o acompanhamento musical do grupo Lado7. A versão de estúdio de Estrondo, com produção musical de Newton Cardoso e Nelson Duriez, será lançada no formato de audiolivro durante o evento, que comemora os vinte anos do CEP 20.000."

Espaço Cultural Sérgio Porto – Rua Humaitá 163 – tel. (21)2266-08696
quarta-feira, dia 31 de março de 2010
a partir das 20h30.


§ - O poeta carioca/gaúcho Marcelo Sahea lançou este mês o livro Nada a dizer (São Paulo: E, 2010).




O autor o apresenta com as seguintes palavras:


"Do meu livro anterior (Leve), lançado há quatro anos até hoje, progressos significativos ocorreram nas minhas buscas dentro do que aos poucos reconheço como arte da palavra.

É que embora ainda não as tenha abandonado, poesia, bem como poeta, são estanques denominações que vêm se mostrando insuficientes para definir o esforço que tenho feito no sentido de ampliar o alcance e a potência (que só é possível pela contaminação por outras formas de expressão – música, arte sonora, artes visuais, eletrônica, arte digital, etc – ) da minha produção poética.

Este Nada a Dizer, oficialmente meu terceiro livro, apresenta impressões desses avanços e abre picadas para o que ainda há de vir.

Nele, os poemas inéditos (a maior parte) despontaram a partir das minhas pesquisas e experiências no terreno da performance e da poesia sonora. A outra parte é composta por poemas e textos que andavam dispersos em revistas, antologias e sites literários desde 2005 e que decidi aglutinar em um suporte único.

São poemas em verso, poemas visuais, textos para página e palco, poemas objeto, textos-colagens, códigos, poema QR-Code, contágios, perquirições e tal.

A célebre e uma das definitivas definições de poesia (“I have nothing to say/ and I am saying it/ and that is poetry/ as I needed it”) que o compositor, músico, pintor e poeta norte-americano John Cage deu em seu livro Silence (1961) foi, desde a concepção deste Nada a Dizer, decisiva para a escolha do seu nome de batismo.

Coisa natural para poetas (ou artistas da palavra) como eu, sabedor de que quanto mais se diz, mais da poesia se dista.
--- Marcelo Sahea, março de 2010.

§

Eis os anúncios.

RD.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Orgulho dos amigos: Niklas Goldbach

Niklas Goldbach é um bom amigo aqui no Berlimbo, e também um artista visual que respeito imensamente. Trabalhando primordialmente com vídeo, já aprendi muito com ele sobre edição e outras quinquilharias digitais.

Membro antigo e fundador do nosso coletivo Kute Bash, Niklas é o responsável, por exemplo, pela realização dos conceitos que o coletivo cria para os flyers da Berlin Hilton.

No mês passado, ocorreu em Paris sua primeira grande exibição solo, na Galerie Bendana-Pinel.
Por ocasião da exposição, Niklas Goldbach concedeu esta entrevista para o Le Monde:



Escrevi um pequeno ensaio sobre os seus vídeos ao mostrar três deles em minha Hilda Magazine, em 2008. Você pode ver estes trabalhos na revista digital.

§

Abaixo, a entrevista de Niklas Goldbach para a revista Flasher, da qual fui um dos fundadores e o editor durante o ano de 2006:




Você pode visitar a página pessoal do artista AAQQUUII.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Orgulho dos amigos: Joseph Ashworth

Conheci primeiro a William Green, em 2006, quando discotequei em Londres pela primeira vez. Quem o apresentou a mim, em uma festa de Erol Alkan, foi nosso amigo em comum, Jonjo-Jury Andrews, também DJ, que me contou que William (ou Will, como todos dizem) tinha um projeto musical muito legal com seu amigo Joseph Ashworth (ou Joe), chamado JOE AND WILL ASK?.

Viria a conhecer Joseph apenas no ano seguinte, quando os convidei para se apresentarem como Joe and Will ask? em nosso evento-interventor semanal, a berlin hilton, our own private Cabaret Voltaire. Will é um daqueles típicos dandies londrinos, do tipo que ama aquela Londres que sempre me pareceu um circo. (Não sou um grande fã da capital inglesa.) Joe, no entanto, é uma das criaturas mais delicadas e tímidas que já conheci. Sempre me surpreendo ao imaginá-lo em um projeto como o que tem com Will.

Estou muito feliz por eles: foi lançado hoje o seu primeiro EP, chamado "Claymore", com um dos selos musicais mais hypados da Europa nos últimos anos, o francês Kitsuné Music.



§

Arquivo do blog