sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Jovens poetas europeus: Nora Gomringer


Conheci Nora Gomringer em dezembro de 2007, quando nos apresentamos juntos no festival Berlín-Barcelona: Transferència Poètica, na capital catalã, organizado pelo Instituto Goethe e Projectes Poétics Sense Títol, dirigido por Eduard Escoffet. Éramos 4 poetas berlinenses, com Monika Rinck e Ann Cotten além de Nora e moi. No ano seguinte, dividimos palco uma vez mais no Festival Yuxtaposiciones, na Casa Encendida, em Madri. Nora é uma das melhores poetas vocais que já tive o prazer de ver/ouvir, e seus textos sustentam-se na página, o que explica a força de suas performances. Publicou cinco livros de poemas até o momento: Gedichte (2000), Silbentrennung (2002), Sag doch mal was zur Nacht (2006), Klimaforschung (2008) e Nachrichten aus der Luft (2010). Preparei a postagem abaixo para a Modo de Usar & Co. em 2009. Estava pensando em seu poema "Du baust einen Tisch / Você constrói uma mesa", e quis compartilhá-lo uma vez mais.



Nora Gomringer
Ricardo Domeneck, especial para a Modo de Usar & Co., a 11 de setembro de 2009

Nora Gomringer nasceu em Neunkirchen, no estado alemão do Sarre (Saarland), em 1980. Cresceu entre a Alemanha, a Suíça e os Estados Unidos, devido às viagens e residências de seu pai, o poeta suíço-boliviano Eugen Gomringer. Estudou Literatura Anglo-americana, Germanística e História da Arte. Estreou em livro no ano 2000, com o volume Gedichte, ao qual se seguiram Silbentrennung (2002), Sag doch mal was zur Nacht (2006) e Klimaforschung (2008), coletâneas de textos e poemas, sempre acompanhados de álbuns sonoros com a oralização de sua maior parte. Está entre os poetas alemães mais ativos no terreno de pesquisa da poesia oral e sua relação com a poesia escrita. Entre os muitos prêmios recebidos por seu trabalho oral e literário, destacaríamos o Prêmio de Poesia Nikolaus Lenau, concedido a Nora Gomringer em 2008. A poeta vive hoje na pequena cidade alemã de Bamberg.


Apresentamos nesta postagem dois textos de Nora Gomringer, tentando exemplificar suas pesquisas poético-oral e poético-literária. No vídeo abaixo, o texto oral "Du baust einen Tisch", oralizado em Barcelona em dezembro de 2007, durante o festival Transferència Poética: Berlín-Barcelona, organizado pelo Instituto Goethe da cidade, com a participação ainda das poetas Monika Rinck, Ann Cotten e deste que vos escreve. O acompanhamento musical é do grupo barcelonês Bradien.



POEMAS DE NORA GOMRINGER


(Nora Gomringer, "Du baust einen Tisch", com o grupo Bradien, Barcelona, dezembro de 2007)

:

Você constrói uma mesa
tradução de Ricardo Domeneck

Mesa sob a qual você então estica os pés
Mesa para a qual você carrega tábuas num cruzamento
Você constrói para ela
E para si uma mesa
Uma mesa para dois sob a qual
Quatro pés possam esticar-se
Uma mesa à qual você se senta com ela
Eu o vi carregar tábuas num cruzamento
Tábuas para uma mesa
Que você constrói com ela
Para os seus pés e seu esticar-se
Mesa para quatro cotovelos
Quatro pés
Quatro antebraços
Duas panelas
Uma mesa para vocês dois
Para a qual você arrasta tábuas num cruzamento
No qual estou com meu carro
Você constrói uma mesa
Mesa para ela e mesa para você
Uma merda de mesa para vocês dois
Sob a qual vocês esticam seus pés
Um diante do outro
Diante de si
Mesa sob e sobre a qual tudo é dito
Uma mesa assim uma mesa para dois
Para a qual tábuas são arrastadas num cruzamento
Diante de mim
Você constrói uma mesa
Uma mesa sob a qual eu pisaria nos dedos de todos
Uma mesa à qual já não sou assunto
Uma mesa assim você constrói para ela
Contanto que sob esta ela estique os pés
Que ela coma
O que você põe à mesa
Que você constrói
Da qual você carrega as tábuas
Diante de mim
No farol
Você passou com tábuas para uma mesa
Quisera
Que você a construísse para...

:

Du baust einen Tisch
Nora-Eugenie Gomringer

Tisch unter den du dann Füße streckst
Tisch für den du Bretter über die Kreuzung trägst
Du baust für sie
Und dich einen Tisch
Einen Tisch für zwei unter den sich
Vier Füße strecken können
Einen Tisch an dem du sitzt mit ihr
Ich habe dich Bretter über eine Kreuzung tragen sehen
Bretter für einen Tisch
Den du baust mit ihr
Für ihre Füße zum Darunterstrecken
Tisch für vier Ellbogen
Vier Füße
Vier Unterarme
Zwei Töpfe
Einen Tisch für euch zwei
Für den schleppst du Bretter über eine Kreuzung
An der ich stehe mit meinem Auto
Einen Tisch baust du
Tisch für sie und Tisch für dich
Einen Scheißtisch für euch zwei
Unter den ihr eure Füße streckt
Entgegenstreckt
Euch entgegenstreckt
Tisch unter und an dem alles gesagt ist
So einen Tisch einen Tisch für zwei
Für den Bretter über eine Kreuzung geschleppt werden
An mir vorbei
Baust du einen Tisch
Unter dem ich jedem auf die Zehen trete
Einen Tisch an dem ich kein Gespräch mehr bin
So einen Tisch baust du für sie
So lange sie ihre Füße unter ihn streckt
Isst sie,
was du auf den Tisch bringst
den du baust
dessen Bretter du schleppst
an mir vorbei
im Scheinwerfer
gingst du vorbei mit Brettern für einen Tisch
ich wünschte
du bautest einen für...


§

Cama
tradução de Ricardo Domeneck

Uma banquisa
Que vaga pelo mundo
Até haver barulho
E surgir a luz
A derreter os corpos
De focas em humanos

Que reentram em circulação
A rota aquosa
Nas veias alargadas dos dias

Aqui descansam os peixes
Logo abaixo da superfície
Espalham-se, quando a luz desce
Apresentam-se dois à caça
E juntos acampam

:

Bett
Nora Gomringer

Eine Eisscholle
Die in der Welt treibt
Bis es Licht wird
Und Lärm gibt
Der die Robbenleiber
Zu Menschen schmelzt

Die wieder eingehen in den Kreislauf
Die wässrige Bahn
In den geweiteten Adern der Tage

Hier ruhen die Fische
Knapp unter der Oberfläche
Streuen sich, wenn das Licht sinkt
Zur Jagd finden sich zwei ein
Die gemeinsam lagern


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