domingo, 9 de outubro de 2011

"O cartógrafo confuso" ou "Notas às margens do Tejo", poema inédito, escrito em Lisboa



O cartógrafo confuso
ou Notas às margens do Tejo

a luz a luz de lisboa
após uma década de chiaroscuro
em berlim me cega me atordoa
depois de suar por ruas
de sujeira e descalabro
que fazem sentir-me em casa
posto-me feito um mastro
cambaleante
diante do estuário do tejo
no miradouro do cais das colunas
com esta folha de papel sulfite
apoiada sobre um livro de ruy belo
fumando um dos meus gauloises
cantarolo “cais” diante das águas
querendo enfim borrar a fronteira
entre a escrita e a vida
o esganiçar da minha voz
assustando as gaivotas
as garças as pombas
mas os peixes seguem próximos
logo abaixo do espelho das águas
dentro de seu líquido espaço
acústico
e não sei se estou longe da cama
que me foi emprestada
pois os portugueses apesar
de haverem viajado o mundo
têm parâmetros esquisitíssimos
de distância
e digo eis que cheguei até aqui
mas ninguém entenderia o que
com aqui quero dizer
se o futuro é uma folha em branco
certamente está amassada
e cheia de vincos
o nome o rosto de um moço
que se invisibilizou
fazem com que os limites
da cidade de lisboa
se estendam até a alemanha
não compreendo que cartógrafos
ignorem tal força centrípeta
em seus mapas
que imperialistas e conquistadores
não tenham jamais adotado tal estratégia
para aumentar seus impérios
ora perder e então viajar



Ricardo Domeneck. Lisboa, 24 de setembro de 2011, no miradouro do Cais das Colunas.


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