quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Minha palestra de três dias sobre a poesia brasileira no Centro Cultural Brasil-México: lista dos poetas e poemas que li e comentei

Lendo o "Inferno de Wall Street" no Centro Cultural Brasil-México

Entre os dias 13 e 15 de dezembro, conduzi três falas sobre a poesia brasileira no Centro Cultural Brasil-México a convite da diretora do Centro, a poeta e tradutora Paula Abramo, e da Embaixada do Brasil. A ideia era falar sobre poesia contemporânea, mas em conversa com Paula, ao perceber como poetas importantes brasileiros do porte de Sousândrade e Augusto dos Anjos são desconhecidos no México, decidi que seria interessante começar pela própria Modernidade Poética Brasileira, aquela que começa com a geração genial de escritores das duas últimas décadas do século XIX, a que deu ao mundo Machado de Assis, Joaquim de Sousândrade, Raul Pompeia, Cruz e Sousa, alcançando, já no século XX (mas seus contemporâneos), Euclides da Cunha, Lima Barreto, Pedro Kilkerry, Augusto dos Anjos. São escritores que foram contemporâneos, criando nossa Modernidade poética juntos, ainda que a historiografia literária brasileira insista, em sua preguiça demente, em separá-los por escolinhas literariazinhas, fazendo daqueles textos geniais ilustraçõezinhas de estilinhos europeus. Discuti a relação entre esta Modernidade e o Modernismo do Grupo de 22, mas não tenho espaço para elaborar a ideia aqui, por ora.

É provavelmente um erro postar esta lista aqui, pois conheço bem a fobia dos brasileiros por listas deste tipo. Não haverá apenas um, provavelmente, daqueles que não estão realmente interessados em crítica e poesia, mas tão-só no tal de Cânone, que se ofenderá. Mas eu não tenho tempo a perder com a neurose alheia, basta-me a minha, e como sei que há muito mais leitores interessados e inteligentes neste espaço que os usuais anônimos iracundos, posto aqui a lista, na esperança sincera de uma conversa adulta com quem quer que a deseje, se a desejar.

NÃO É PROPOSTA DE CÂNONE. Não estou sugerindo qualquer evolução, qualquer teia de heranças. A organização cronológica é mera conveniência aqui. Nas palestras, com exceção do primeiro dia em que fui de Sousândrade a João Cabral, saltei entre décadas e poéticas. Entre os contemporâneos, os vivos, estes são alguns dos poetas que me interessam. Quisera apresentar ainda mais poetas, mas o espaço era reduzido, e só pudemos, em muitos casos, ler um único poema.

NOTA IMPORTANTE: ainda que Paula Abramo tenha traduzido vários poemas especialmente para estas palestras, a seleção dos textos de cada poeta teve que se restringir na maioria dos casos a traduções disponíveis. Houve poemas que eu gostaria muito de ter apresentado e comentado, como "A Última Elegia", de Vinícius e Moraes - talvez seu melhor poema, ou "Cismas do destino", aquela coisa incrível de Augusto dos Anjos. Não foi, infelizmente, possível traduzir os textos, tão complexos, a tempo. O trabalho seguirá. Paula Abramo e eu pretendemos iniciar uma página com estes textos, que traga traduções inéditas e apresentações críticas de cada poeta, uma espécie de ponte entre Brasil e México. O primeiro nome que dei à palestra foi "Poesia Brasileira entre a Segunda e a Terceira Guerras Mundiais", pois pretendia falar sobre o pós-guerra e discutir um pouco minhas ideias sobre a historicidade poética, sobre a ideia de um poema pré-distópico, questionando os equívocos atuais de certas poéticas que se querem "trans-históricas". Como tudo começou por fim com Sousândrade, devo chamar a "antologia" agora:

(Última nota: seria uma demonstração de generosidade se escolhessem alegrar-se com as inclusões antes de se irarem demasiado pelas exclusões. Há alguns poetas que respeito que ficaram de fora. Entrarão, porém, na página eletrônica que Paula Abramo e eu prepararemos.)


POESIA BRASILEIRA
ENTRE A GUERRA DO PARAGUAI
E A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL



Sousândrade

"O inferno de Wall Street"

§

Cruz e Sousa

"Litania dos pobres"

§

Augusto dos Anjos

"Monólogo de uma sombra"
"Soneto a meu filho morto"

§

Manuel Bandeira

"Poética"
"O cacto"
"Vou-me embora pra Pasárgada"

§

Oswald de Andrade

"Cântico dos cânticos para flauta e violão"
"Manifesto Antropofágico"

§

Carlos Drummond de Andrade

"Poema de sete faces"
"Elegia 1938"
"A Máquina do Mundo"

§

Murilo Mendes

"Janela do caos"

§

Henriqueta Lisboa

"O ser absurdo"
"O mito"

§

Vinícius de Moraes

"Soneto da separação"
"Poética"
"A brusca poesia da mulher amada"

§

Cecília Meireles

"Mar absoluto"
"Reinvenção"

§

Jorge de Lima

"A ave"
"Invenção de Orfeu" (excerto)

§

João Cabral de Melo Neto

"Psicologia da composição"
"Uma faca só lâmina"

§

Haroldo de Campos

"Galáxias - e começo aqui" (na voz do próprio autor)
"Galáxias - circuladô de fulô" (na composição musical de Caetano Veloso)
"o â mago do ô mega"
"nascemorre"

§

Décio Pignatari

"hembra hambre hombre"
"beba coca cola" (com composição sonora de Gilberto Mendes e em vídeo)

§

Augusto de Campos

"pulsar" (com a composição sonora de Caetano Veloso)
"cidade city cité" (na voz do próprio Augusto de Campos)

§

Paulo Leminski

"um dia a gente ia ser homero"
"eu queria tanto"
"Desencontrários"

§

Leonardo Fróes

"Metafísica e biscoito"

§

Sebastião Uchoa Leite

"Biografia de uma ideia"

§

Roberto Piva

"A piedade"
"Praça da república dos meus sonhos"
"Piazza 10"

§

Orides Fontela

"Múmia"
"Clima"

§

Wally Salomão

"Retrato de um senhor"

§

Ana Cristina Cesar

"Arpejos"
"21 de fevereiro"
"Nada, esta espuma"

§

Zuca Sardan

"Tropicália"

§

Francisco Alvim

"Muito obrigado"
"Descartável"
"Argumento"

§

Paulo Henriques Britto

"Dez Sonetóides mancos III"

§

Lu Menezes

"Molduras"

§

Josely Vianna Baptista

"vivos em meu corpo (sílex in"

§

Carlito Azevedo

"Vaca negra sobre fundo rosa"

§

Jussara Salazar

"Splendor Fulgores"

§

Ricardo Aleixo

"Paupéria revisitada"
"o real irreal" (composição sonora e em vídeo)

§

Marcos Siscar

"Tome seu café e saia"
"Dor"
"O poeta decide ser Borges"

§

Hilda Machado

"Miscasting"

§

Marília Garcia

"Le pays n´est pas la carte"
"Svetlana"

§

Fabiano Calixto

"E-mail para Carlito Azevedo"

§

Izabela Leal

"Fuga em dó maior"

§

Dirceu Villa

"O cutelo"

§

Pádua Fernandes

"Prelúdio imóvel e desenvolvimentos"

§

Eduardo Jorge

"Diante de uma paisagem pensou: Kierkegaard"

§

Laura Erber

"Geografia de Salinas"

§

Marcelo Sahea

"Clonazepan"
"Menos é mais"

§

Angélica Freitas

"dentadura perfeita"
"ai que bom seria ter um bigodinho"
"família vende tudo"
"love me"
"às vezes nos reveses"

§

Ana Guadalupe

"pé esquerdo"

§

Érico Nogueira

"Deu branco"

§

Juliana Krapp

"Limite"
"Permanência"

§

Érica Zíngano

"Os conservadores deveriam fazer alguma coisa de útil"

§

Ismar Tirelli Neto

"Preocupações épicas"

§

Victor Heringer

"Meridiano 43"


(NOTA: por um descuido na hora de fotocopiar a apostila, ainda que estivesse na lista com vários poemas Hilda Hilst acabou ficando de fora, algo pelo qual não hei-de me perdoar. Mas Paula Abramo e eu temos o projeto de preparar uma pequena antologia, onde ela certamente terá destaque. Outra ausência séria é a de Pedro Kilkerry, pela qual peço aqui, publicamente, perdão.)

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5 comentários:

Diego Calazans disse...

Muito interessante a seleção, Ricardo. Alguma chance de a palestra ser disponibilizada em vídeo? A "antologia" é tão bacana que é uma pena não poder vê-la em um livro recheado de comentários seus.

Pádua Fernandes disse...

Caro Ricardo, não sei se mereço estar aí... Mas, de qualquer forma, obrigado! Abraços, Pádua.

Ricardo Domeneck disse...

Se está, é porque eu acho que merece.

No entanto, quem NÃO está, não é porque não mereça, mas simplesmente porque, roubando de Andrew Marvell:

"Had we but world enough, and time..."

abraço

RD

Ricardo Domeneck disse...

Diego,

a palestra vai virar antologia digital, com mais poetas ainda.

abraço

RD

Paulodaluzmoreira disse...

Ricardo,
Interessantíssima sua seleção, meu caro. Arejada, aberta para o presente e atenta à nossa tradição [no sentido não mofado do termo].

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