quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Para celebrar minha passagem por São Paulo: "Mula": Tetine + Ricardo Domeneck ::: livre para baixar pelo selo Slum Dunk Music + texto/traduções/vídeo

Tetine


O duo Tetine está inextricavelmente ligado a minha memória afetiva de São Paulo, mesmo que morem já há uma década em Londres, onde produziram seus últimos discos, lançaram álbuns pelo prestigioso selo Soul Jazz, organizaram compilações da música paulistana da década de 80, expuseram na Whitechapel e colaboraram com Ladytron, Robin Rimbaud e outros. Estão, de certa maneira, também inextricavelmente ligados a minha memória afetiva de Londres. Mas lembro-me de caminhar pela Rua dos Pinheiros escutando os álbuns Alexander´s Grave (1996) e Música de amor (1998), de trombar com eles em inferninhos paulistanos. Ter-me tornado amigo de Bruno Verner e Eliete Mejorado, colaborado com eles e ainda lançado em vinil na Alemanha seu L.I.C.K. My Favela (2007), estão entre as coisas que me alegram nesta existência.

Em São Paulo por estes dias, celebro estar na Pauliceia Desvairada com minha colaboração com o duo Tetine (São Paulo/Londres)

::::: "Mula" (2007) ::::::



música de Bruno Verner e Eliete Mejorado, texto meu. Livre para ser baixado a partir da página do selo Slum Dunk Music no Soundcloud (basta clicar em MULA - Tetine + Ricardo Domeneck).

Encerro com o texto no original, as traduções para o castelhano do poeta argentino Cristian De Nápoli (Buenos Aires, Argentina, 1971) e para o alemão, da poeta Sabine Scho (Ochtrup, Alemanha, 1970); e, por fim, o vídeo de Eugen Braeunig para a faixa e uma entrevista que conduzi com o Tetine em Londres em 2006.


Mula
Ricardo Domeneck


..............Minha
senhora: os unicórnios
que caem com a raiz
não
voltam mais; ainda
que van-goghs até
que engasgues,
.......sigo mula
a indiciar o caso
excepcional
do sem espécie,
self-archived tool, exílio
............dos catálogos
a especificar o espaço
para a porcentagem da escolha
do puro, alheia que se agita
antes de abrir, dose cavalar
de juramento e
egüidade. Poupa-me,
Popeye: longe de mim
impor-me híbrida
à tua hípica -
brutalmente homogênea,
especialista em fronteiras,
.......eject de habitat,
eis-me, excelentíssimo,
a de cascos
.......não-retornáveis,
nula nulla
tal qual high bred hybrid
relinchando o já morto:
muslos de mulícia,
esterilizável, aureolar,
............multívaga
....... ambiqüestre
....de mulas prontas,
perdoai vossa serva
preguiçodáctila aos berros
perturbando vosso áureo
piquenique do sublime,
.......illicit mule
espirrando em vosso épico.
............Não
há Blade
Runner que resista
mesmo euzim
..............fake mullah,
insciente dos teus métodos,
ó sussurrável, hoof muffler
da palha de meu estofo.
Prometo-me estóica
.........e subcutânea,
bem fazes em esporear-me
o couro catecúmeno à chuva
do teu cuspe, inestimável
senhor de eco intumescido:
.......até que a mula
.......aqui fale
como manda
o figurino,
e encontre a exit
de quem às caras
me dera lamber o mundo
com a própria língua: mulo
fundindo
.......com a função da forma
os extremos do exorcício e
a fanfarra do sem categoria.


Ricardo Domeneck
Berlim – agosto mês de desgosto, 2007

:

Mula

..............Minha
senhora: los unicornios
que caen de raíz
no
vuelven más; aunque
guadañes cual vangogh
hasta que te atragantes,
.......sigo mula
testimoniando el caso
excepcional
de lo sin clase,
self-achived tool, exilio
............de los catálogos
delimitando el espacio,
el porcentual de la elección
de lo puro, ajena que se agita
antes de abrirse, en dosis de caballo
los juramentos y la
yegualdad. Para un poco,
Popeye: lejos de mí
plantarme híbrida
sobre tu hípica –
brutalmente homogénea,
especialista en fronteras,
.......eject de habitat,
heme aquí, excelentísimo,
la de cascos
.......no retornables,
nula nulla
tal cual high bred hybrid
relinchando lo ya muerto:
muslos de mulicia,
esterilizable, aureolar,
............multívaga
........ambicuestre
....mula tan lista para el viaje,
perdonad a vuestra sierva
perezodáctila en berridos
perturbando vuestro áureo
picnic de lo sublime,
........illicit mule
estornudando en vuestra épica.
............No
hay Blade
Runner que resista
ni que fuera
..........fake mullah,
ignorante de tus métodos,
lo susurrable, hoof muffler
de la paja en mi colchón.
Prométome estoica
......y subcutánea,
bien haces al espolearme
el cuero catecúmeno a la lluvia
de tu saliva, inestimable
señor de eco inflamado
......y que la mula
............comience a hablar
como dios
manda
y alcance la exit
del que asomara
cabeza dando a lamer
mundo con su propia lengua: mulo
que funde con la función
....de la forma
los extremos del exorcicio y
la fanfarria de lo sin categoría.

(traducción de Cristian De Nápoli)


:


Muli


...........Meine
Dame: Einhörner
die wie Haarwurzeln
ausfallen, wachsen
nicht wieder; selbst
wenn du vangoghst bis
du erstickst,
.......bleibe ich Muli,
um den besonderen Fall
des unspeziellen
anzuzeigen,
self-archived tool, exiliert
............von Katalogen,
die Sphäre zu spezifizieren
für den Prozentsatz der reinen
Auslese, das vor dem Öffnen
geschüttelte Andere, Pferdedosis
an Eseleid und
Stutenähnlichkeit. Piss off,
Popeye: verschone
mich Hybrid
in dein Gestüt zu zwingen –
unbehauen homogen,
Grenzgangspezialist,
...........eject aus dem Habitat,
so bin ich, Euer Ehren,
von den Hufen an
...........vom Umtausch ausgeschlossen,
eine amulierte null
wie ein high bred hybrid
wiehernd den Toten gelyncht:
Muskli der Muliz,
sterilisierbar, auratisch,
............umherirrend
..........doppelpferdig,
.......stutbereit,
verzeiht Eurem Kuli
sein unpaarhuffaules Geblöke,
das Euer goldenes
Picknick des Sublimen stört,
.......illicit mule
spuckt Euch in die Epik.
...........Kein
Blade
Runner kann widerstehen,
auch meine Wenigkeit nicht,
.......fake mullah,
deiner Methoden nicht fähig,
großer Anmurmelbarer, hoof muffler
aus Stroh meines Polsters.
Ich schwöre, stoisch
..........und subkutan zu sein,
du tust gut daran, meinem Fell
.....die Sporen zu geben
unter dem katechumenen Regen
deiner Spucke, unermesslicher
Herr des angeschwollenen Echos:
.......bis dieses Muli
.......hier spricht
wie es der gute Ton verlangt,
und den Exit derer findet,
die vor aller Augen
die Welt ablecken
mit dem eigenen Zungenschlag: Maulesel
verschweißt
...........mit der Funktion der Form
die Extreme der Exorzitien und
die Parade des Kategorielosen.

August im Verdruss, 2007

(Übersetzung von Sabine Scho)


§

Abaixo, você pode ver o vídeo de Eugen Braeunig para esta faixa:



§

Conduzi esta entrevista com o Tetine em Londres, em 2006, postada mais tarde na revista eletrônica FLASHER, que eu editava naquela época.



§

Você pode saber mais sobre o Tetine AAQQUUII.

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Um comentário:

Paulodaluzmoreira disse...

Está lindo o poema, Ricardo. Essa mula está em excelente forma. Aliás sobre mulas e outras montarias eu podia conversar contigo um monte - mulas de Jalisco, mulas de Minas Gerais e mulas do Mississippi. Tem um parágrafo-poema do Guimarães Rosa descrevendo o processo de "falsificar" uma mula que é sensacional. Acho que eu devia perder a vergonha na cara e te escrever um email, né?

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