quarta-feira, 4 de julho de 2012

"O dia em que um celebra-se", poeminha circunstancial para o próprio aniversário







O dia em que um celebra-se

Toda alegria talvez remonte
a uma herança economizada
de quem não
a usufruiu a tempo.
Usucapião
de júbilo não houve.
Se memoro aniversários
como aquele há pouco, 
em pranto
porque de todos
não um moço,
não será pomposo
rememorar fracassos
e comemorar as fugas
às estatísticas
de obituários?
São já alguns meus mortos,
mas poucos se comparados
aos de outros, tantos.
Só hoje, permita, 
hoje só, 
que seja bastante 
aquele corpo
adorável e adorante
me
esperando na cama,
os amigos bêbados
no boteco mais tarde,
a garrafa de champanhe
barata no café-da-manhã
com este menino
dizendo, ouçam!, 
que sou o primeiro.
Não és o primeiro,
quiçá tu sejas
o último, última
talvez essa data,
quiáltera a queria, 
mas basta,
alegria repentina
e nunca tardia,
que seja efêmera
e dure
o espaço
deste gole
da saliva
própria
e alheia.


Ricardo Domeneck, circunstancial de aniversário, Berlim - 4 de julho de 2012.


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