quinta-feira, 26 de julho de 2012

Outras vozes que nos faltam mas ainda nos acusam: Glauber Rocha





Tento imaginar em vertigem o que Glauber Rocha poderia estar fazendo hoje por nós se não houvesse sido desintegrado ("I saw the best minds of my generation destroyed by madness starving hysterical naked" ad infinitum) pelo infante mutante a grunhir e babar ácido-Alien pela boca e feridas entre as grades do Berço Esplêndido, suas mãozinhas já tão rechonchudas por sua gulodice canibal,  a República Punitiva do Brasil não espera que lhe abram alas. O facão sempre esteve em sua mão. Glauber Rocha nasceu em 1939 e poderia estar agora mesmo produzindo em algébrico auge aos 73 anos de idade. Se Jakobson percebeu que sua geração jamais seria perdoada pelo massacre iniciado com a morte absurda de Blok e coroando-se em sarças com a de Maiakóvski – a morte que ele especificamente vociferou como acusação naquele brilhante documento contra a destruição das melhores mentes de uma folha de calendário, seu A Geração que Desperdiçou seus Poetas, – a morte de Glauber Rocha certamente pesa em pêndulo feito foice sobre a cabeça da geração que nos legou a Trans(ai)ção Democrática. Que José Sarney ainda consuma parte do nosso oxigênio e tenha Fundação em seu nome paga com dinheiro público, enquanto o Glauber Rocha de Maranhão 66 já não seja mais sequer por desventura ossos, é apenas uma figura (como na teologia cristã) para o descalabro de nossa miséria. Não é irônico, como alguns diriam exultando-se no hackneyed-clichê, é demasiado literal. Brasileiros rebolam e sambam sobre sua própria carniça para espantar as moscas. Ouvir a frase-de-efeito ::: Desenvolvimento Sustentável ::: quando tal desenvolvimento em sua base não permite o Sustento a todos e ainda destrói o sustento dos que o têm, mostra-nos não como perdemos o bonde da História, mas como parecemos conduzí-lo. Se Josué de Castro escreveu que o mundo divide-se entre os que não comem e os que não dormem, com medo da revolta dos que não comem, a democracia contemporânea já garantiu o sonífero para todos. Quem dorme não tem fome. Quem não tem pão, que cace seu ansiolítico. Nós, poetas, já estamos dormindo.




 

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