Exercitando-me antes dos ensaios para minha performance,
nos jardins do palacete Gutshaus Landsdorf.
17 de julho de 2012, foto da poeta israelense Maya Kuperman.
Deixei ontem Berlim ao lado dos poetas Johannes CS Frank (Reino Unido, 1982), Maya Kuperman (Israel, 1982) e Max Czollek (Alemanha, 1987); dos músicos Gustavo Carvalho (Brasil), Caspar Frantz e Julian Arp (Alemanha); da cenógrafa Lilly Jaeckl e do artista visual Dieter Puntigam (Áustria), a caminho da pequena vila de Landsdorf, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental (Mecklenburg-Vorpommern, norte da Alemanha, às margens do Mar Báltico) para a primeira performance do festival Zeitkunst. Fundado em 2009 com a ideia de unir músicos e poetas para colaborações, o festival deste ano é inteiramente dedicado a John Cage no centenário de seu nascimento, marcando a única apresentação de música moderna dentro do tradicional Festspiel Mecklenburg-Vorpommern, dedicado à música erudita - mas em geral já "clássica", em torno de grandes BBB como Beethoven, Bach e Brahms.
O festival ocorrerá ainda em Berlim, Paris, Tel Aviv e também em cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba (no Brasil, entre 12 e 20 de novembro).
Cada um dos poetas recebeu uma peça musical de Cage para a qual deveria escrever um texto. As peças são todas dos anos 40 e início dos 50, como "Living Room Music" (1940), "A Room" (peça para piano preparado, 1943), "A valentine out of season" (peça para piano preparado, 1944), "4´33´´" (1947), "Nocturne" (1947) ou "Suite for Toy Piano" (1948).
A peça que me foi confiada era-me até então desconhecida, de sua fase inicial, a linda "In a Landscape" (1948). A peça foi composta quando Cage lecionava na lendária Black Mountain College, no estado americano de North Carolina, por onde passariam poetas como Robert Creeley e Robert Duncan, pensadores como Paul Goodman, e coreógrafos como Merce Cunningham.
In a Landscape
Category: | Musical composition |
Dated: | Black Mountain, North Carolina, August 1948 |
Instrumentation: | Piano or harp solo |
Duration: | 8' |
Premiere and performer(s): | August 20, 1948 (with the choreography) |
Dedicated to: | for Louise Lippold |
Choreography: | Louise Lippold |
Published: | Edition Peters 6720 © 1960 by Henmar Press. Also published in "John Cage: Pianoworks (1935-1948)", Edition Peters 67830 © |
Nossas instruções, como poetas, eram simples: dizer e fazer o que nos importava dizer e fazer neste momento, e principalmente resistir à tentação de dizer/fazer algo cageano ou cageanamente. Os diretores artísticos do festival disseram: sejam vocês mesmos ao som de Cage. Nada me pareceria mais cageano que isso, esta liberdade.
Como nos últimos tempos minha maior preocupação e obsessão como poeta tem sido a relação humana com a história como narrativa, parti de uma ideia que me voltava sempre, a de "refutar" as últimas linhas do texto "If I told him: a complete portrait of Picasso", de Gertrude Stein, o qual ela encerra com os versos
Let me recite what History teaches.
History teaches.
Parecia-me também apropriado invocar Gertrude Stein em um texto a ser lido com uma composição de John Cage, estes meus dois mestres queridíssimos. Meu texto, que absolutamente nada tem de steiniano ou cageano, recebe influxo maior, na verdade, de poetas públicos alemães que tenho lido muito nos últimos tempos, como Bertolt Brecht, Heiner Müller, Thomas Brasch e Hans Magnus Enzensberger, do polonês Zbigniew Herbert, a forma como estes retornam à História Clássica para falar de seu presente, e ainda a partir de minha leitura de historiadores. Estou buscando outra dicção no momento e o texto, intitulado "Deixem-me recitar o que a História ensina", segue sendo alterado ininterruptamente.
A performance é amanhã, às 20:00. A ver o que o acaso cageano me reserva.
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