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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fincomeço: neste dia, hoje, quarta-feira, 28 de setembro de 2011, saúdo um a mais, um a menos



Este ano de 2011 tem sido um ano de fins abruptos, começos involuntários, os quais tenho recebido entre o susto e o siso. Hoje, após seis anos e meio organizando os eventos, festas, intervenções e performances semanais neste bairro de Prenzlauer Berg, em pleno Berlimbo, primeiro sob o nome de Berlin Hilton, depois como SHADE inc, celebramos pela última vez no clube que nos abrigou desde 2005, após abandonarmos o primeiro por ter se tornado pequeno demais e a relação com os donos demasiado difícil. No clube Neue Berliner Initiative, conhecido como NBI, pudemos enfim fazer do evento o que queríamos: uma ponte entre cenas e guetos, um local onde os mais improváveis indivíduos se encontrassem. Seria impossível relatar aqui tudo o que aconteceu por ali. Tive a chance de organizar performances de heróis meus ou simplesmente beber com eles quando passavam pela festa. Ali organizamos, muitas vezes pela primeira vez em Berlim, performances e concertos de artistas como Planningtorock, Stereo Total, Bunny Rabbit, Mystery Jets, AIDS-3D, Barbara Panther, Tetine, Hellvar, Ben Butler & Mousepad, Exercise One, Herpes, Glen Meadmore feat. Vaginal Davis, Heatsick, Khan, Kevin Blechdom, Angie Reed, Deize Tigrona, Thieves Like Us, Wolfgang Müller (Die Tödliche Doris), entre outros; tocaram ainda, como DJs, artistas como Peaches, Ellen Allien, Apparat, Modeselektor, Fischerspooner, Telepathé, CocoRosie, oOoOO, Change/Thomas Muller, Heartthrob, Gebrüder Teichmann, T.Raumschmiere, etc. Não vou citar as pessoas inacreditáveis que passaram pela festa para beber ou assistir a uma performance, pois seria passar dos limites aceitáveis do name dropping.

Hoje, acaba uma era da vida noturna berlinense. Não sou eu a dizer, mas as muitas pessoas que têm reagido à notícia desta última festa. O clube fecha esta semana por ter se tornado impossível manter-se neste bairro (gentrification, dears, gentrification...) e nós talvez quiçá oxalá sigamos em frente, mas em outro local, outro bairro, com outro projeto.

Nosso convidado especial desta noite é o nova-iorquino Black Cracker, produtor do duo CocoRosie, Bunny Rabbit, e incrível artista solo. Já falei sobre ele aqui.





O futuro? Não nos esqueçamos da tautologia sábia de Scarlett O´Hara:

"Tomorrow is another day"

Abaixo, uma pequena seleção de vídeos de performances na Berlin Hilton/SHADE inc, reunidos nestes últimos seis anos. Da grande maioria não há qualquer registro, estávamos geralmente ocupados demais sendo felizes para pegar numa câmera. Mas por sorte há estes, feitos por amigos, às vezes por mim. Ajudam minha memória já excitada.

RIP Berlin Hilton/SHADE inc (2005 - 2011)



Kevin Blechdom (2006)

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Mystery Jets (2009)

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Jailhouse Fuck (2009)

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Wolfgang Müller - Die Tödliche Doris (2009)

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Ellen Allien discotecando em 2010.

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Herpes (2009)

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Apparat + Akia discotecando em 2010.

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Lesley Flanigan (2010)

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Akia (2009)

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Thomas Muller a.k.a. Change discotecando em 2010.

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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Apropriação e paródia: cartaz de maio para a SHADE inc, seguido de programa ilustrado do mês

Convite e cartaz de maio de 2011 para a SHADE inc. Para quem nunca os viu antes: a ideia é apropriar-se, reencenar ou parodiar imagens fotográficas conhecidas do século passado, da arte ou do fotojornalismo. Este mês o jogo foi com uma de minhas favoritas: "Le saut dans le vide" (1960) – o salto para o vazio de Yves Klein (1928 – 1962). Eu diria que desta vez foi menos uma paródia que uma homenagem escancarada.


Clique na imagem para aumentá-la.


Maio de 2011. Concebido pelo coletivo SHADE,
fotografado e produzido por Niklas Goldbach.



Para quem não reconhece a foto, veja a original de Yves Klein abaixo.


Yves Klein - "Salto para o vazio" (1960)


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Programa ilustrado deste mês
our little tiny private Cabaret Voltaire


Quarta-feira, 4 de maio de 2011.


A noite de ontem foi uma daquelas que ficarão na minha memória por algum tempo, forte o bastante para resistir a todos os goles de tequila por vir. Dois ícones do nosso subterrâneo abriram a noite: um concerto cowpunk do canadense Glen Meadmore, com participação especial da lendária e única Vaginal Davis. Por volta das 2:30 da manhã, uma apresentação divertidíssima e sorridente da nova-iorquina Cherie Lily, deliciosa. Além destas criaturas de outra dimensão, DJ sets dos meus queridos Marius Funk e Dickey Doo. Na plateia: Peaches, Larry Tee, Joel Gibb, Danni Daniels e outros queridos.




Glen Meadmore e seu cowpunk




Cherie Lily e sua houserobics


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Quarta-feira, 11 de maio de 2011.


Na próxima quarta, teremos um show de uma banda de Frankfurt chamada Les Trucs e um DJ set do meu amigo Florian Pühs, vocalista e letrista da banda synthpunk alemã Herpes e também produtor de música eletrônica.



Les Trucs (Frankfurt) - "Waiting for my superhero skills to come out"




Florian Pühs - "Reproduction"


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Quarta-feira, 18 de maio de 2011.


Nesta noite, discoteca nosso companheiro de coletivo Daniel Reuter, também conhecido como Almost Straight, e trago novamente Bryan Kessler a Berlim, um moço muito novo de Colônia, que eu acho muito talentoso. Ficando aos poucos bastante conhecido como singer/songwriter, mas que eu tenho convidado a cada três meses para vir nos visitar e tocar um belo set de tecno. Muito fofo o moço. Ele é da nova geração de rapazes aqui na Alemanha que levam as macacas de auditório à l-o-u-c-u-r-a quando sobem ao palco. Acho muito divertido assistir às/aos groupies que vêm ao clube só para vê-lo discotecar. Bom, eu sou obrigado a entender um pouco... estas madeixas dele são mesmo um sonho. Ele vem para um DJ set, mas mostro aqui a vocês uma das suas canções mais bonitinhas, é a minha favorita.




Bryan Kessler - "Memorization is treason"


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Quarta-feira, 25 de maio de 2011.


Por fim, encerrando o mês, voltam ao clube meus queridos Marius Funk e Simon Zachrau, que discotecam pelo menos uma vez por mês. Dois queridos. Deixo vocês com mix de Marius Funk.








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terça-feira, 19 de abril de 2011

Vídeos e trabalhos novos de amigos que conjugam texto e música: o duo Tetine, Florian Pühs e sua banda Herpes, e a belga-ruandesa Barbara Panther

Já escrevi várias vezes aqui sobre estes amigos, pessoas que respeito e admiro. Aqui seus mais recentes vídeos, extraídos de seus mais recentes álbuns.

§ - "Voodoo Dance", do Tetine, extraído do álbum Voodoo Dance & Other Stories (Slum Dunk Music, 2011).





Eliete Mejorado e Bruno Verner formaram o Tetine em 1995 e desde então vêm produzindo alguns dos trabalhos mais interessantes nas fronteiras entre performance, vídeo, poesia e instalação. Desde o início do século estão radicados em Londres, onde já organizaram para o importante selo Soul Jazz Records compilações de música brasileira, como a já lendária antologia The Sexual Life of the Savages: Underground Post-Punk from São Paulo (Soul Jazz Records, 2005), além de estarem entre os responsáveis pela disseminação de nomes como Tati Quebra-Barraco e Deize Tigrona entre os produtores de electro, grime e outros gêneros híbridos europeus. O duo já colaborou com Sophie Calle e Robin Rimbaud, suas performances e instalações foram vistas no Palais De Tokyo (Paris), no Museu Serralves (Porto), na Bienal de Liverpool e no teatro berlinense Hebbel Am Ufer. Na Whitechapel Art Gallery, em Londres, tiveram sua estreia europeia em 2000 com a performance sonora Tetine: The Politics Of Self Indulgence. Com dois amigos alemães, criei o selo Kute Bash Records apenas para relançar em vinil seu trabalho L.I.C.K. My Favela (Kute Bash Records, 2006), e criamos juntos a peça "Mula", uma das coisas que mais me alegraram na vida. Este é o décimo-primeiro álbum do Tetine. O vídeo para "Voodoo Dance" foi dirigido pela própria Eliete Mejorado (maravilhosa), como praticamente todos do duo. Nos últimos dois álbuns, o Tetine tem nos dado exemplos do que a música pop brasileira também pode ser.




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§ - "Das Karnickel im Hut", do Herpes, extraído do álbum Symptome und Beschwerden, com lançamento previsto para maio deste ano pelo selo Tapete Records.






Florian Pühs é o vocalista e letrista da banda de synthpunk alemã Herpes, formada em 2008. Aos 16 anos, por volta do ano 2002, Florian começou a angariar sua reputação no subterrâneo punk alemão com sua banda Surf Nazis Must Die, que desde o seu fim atingiu cult status na Europa e principalmente nos Estados Unidos. Eu o conheci em 2005 e tornamo-nos amigos, ele discoteca com frequência no meu evento semanal, mostrando seu lado de produções de techno. Symptome und Beschwerden (Tapete Records, 2011) é o segundo álbum de sua banda atual, Herpes.

No ano passado, com Das Kommt vom Küssen (Tapete Records, 2010) os textos satíricos de Florian Pühs já haviam ganhado fãs e desafetos para a banda, estes últimos entre os que não compreendem bem a ironia do letrista e poeta satírico alemão, nem sua marca pessoal de humor autodepreciativo (meu tipo favorito de humor). "Das Karnickel im Hut" é o novo single da banda, que traduz como "o coelho na cartola" e tem uns momentos legais, como no refrão:


"Und auch wenn das Kanninchen im Hut verschwindet
scheisst es dir früher oder später auf den Kopf”



"E mesmo que o coelho desapareça na cartola,
cedo ou tarde acaba por cagar-lhe na cabeça"

Ou então na parte final, exemplo típico da ironia de Florian Pühs, que acaba gerando desafetos:

Ich baue mir eine Karriereleiter
Und steige hinab in den Schützengraben
Oh Hallo lieber Opa
Du Loser hast auch keinen einzigen Krieg gewonnen
Ich bin das Lachen am Ende der Leiter



É difícil traduzir o jogo de palavras aqui. "Karrierleiter" é a noção de carreira profissional, algo como "escada carreirista", expressão para os que buscam (quem sabe mais sensatos que nós) sucesso financeiro. Pühs usa a ideia de "escada" no sentido também literal, para subir na vida e, no verso seguinte, usar a escada para "descer às trincheiras". Aí vem o sarcasmo e a ironia:

Eu construo uma "escada/carreira" profissional
E desço às trincheiras
Ô, olá, querido avô
Seu loser, não ganhou guerra alguma
Eu sou a gargalhada ao fim da "escada"


Eu curto muito. Para mim, é uma das possibilidades da poesia satírica contemporânea, aliar-se a guitarras. Obviamente, não para aqueles que acham que a poesia só pode habitar o sublime ou o órfico. Os que não leem Marcial, por exemplo.




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§ - "Moonlightpeople", de Barbara Panther, extraído do álbum Empire, com lançamento previsto para maio deste ano pelo selo City Slang.




Conheço Barbara Panther desde 2006, quando ela primeiro se mudou para Berlim, vinda da Bélgica. Ela nasceu em Ruanda, mas cresceu na Valônia. Foi em nosso evento às quartas-feiras que ela se apresentou pela primeira vez na Alemanha. Após anos à procura de uma gravadora, no ano passado ela teve a sorte de que o genial músico e artista britânico Matthew Herbert se apaixonasse por sua música, fazendo com que a belga-ruandesa encontrasse casa fonográfica no selo City Slang. Esperamos com ansiedade por esta estreia tardia de uma mulher muito talentosa. Mesmo que talvez não particularmente neste "Moonlightpeople", Barbara tem um talento lírico-textual muito forte, algumas de suas letras são muito potentes. Além desta música que simplesmente me pega pela jugular.






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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

1. Transitando entre gêneros: a poeta escocesa Leila Peacock. | 2. Lançamentos de Florian Pühs | 3. A dança de Thom Yorke

1. A poeta e videasta escocesa Leila Peacock.

Trabalhos que circulam entre gêneros estão entre os que mais me interessam, mas esta elisão a taxinomias não torna a vida de seus criadores exatamente fácil. Entendo bem a situação. Há poetas que veem meus trabalhos e dizem: "isso não é poesia, é vídeo"; há videastas que veem meus trabalhos e dizem: "isso não é videoarte, é poesia"; tudo isso não importa muito até o momento em que percebemos que os espaços de diálogo são muitas vezes dependentes dos contextos gerados pela taxinomia de gêneros artísticos. Tenho consciência clara de que minhas performances vídeo-textuais têm efeitos distintos se apresentadas em uma galeria de arte ou em um festival de poesia literária. Tudo isso me veio à mente ao preparar a mais recente publicação da Hilda Magazine, com trabalhos da escocesa Leila Peacock. Os trabalhos ali apresentados, em especial "Sing. Speak. Scream. Sigh", de 2008, podem parecer habitar vários espaços distintos. Para mim, trata-se de poesia, daquela que retém todo o seu contexto clássico e medieval, textualidade em performance. Ao mesmo tempo, o trabalho pode ser visto como body art, como vídeo e até mesmo como literatura, a partir da análise de seu texto. Mostro abaixo a peça em questão e convido os amigos a visitarem a página dedicada a Leila Peacock na Hilda Magazine para verem mais.



"Sing. Speak. Scream. Sigh" (2008), de Leila Peacock.


Sing. Speak. Scream. Sigh
Leila Peacock

Sing speak sigh scream
I'm a sunken mouth you cannot see
I am the music of your laugh
I am the gills of your every gasp

Scream sing speak sigh
Without me you can speak no I
Hewn by lips and cut by teeth
I relieve the pressure of speech

Sigh scream sing speak
From these doors of breath
Will your last breath leak
I am a pipe with out a reed
I am the crown of an upturned tree

Speak sigh scream sing
Just don't forget to keep breathing in, in ,in ,in

Orpheus had a sister, descendant of Pandora, cousin to the sirens, whose voice was so sweet that it unseamed space. Exquisite chaos followed in her wake, buildings collapsed, people went mad, snakes threw themselves into the sea. Thus was she imprisoned for the greater good in a box made of mother-of-pearl, the first music box, where she ended her days. Once those days were done the gods preserved her voice and it was divided amongst the birds, some was gifted to the wind, some dispensed among mankind where it was kept in boxes much like me. What remained was but a whisper and that haunted the seashells in memory of her own pearlescent imprisonment, thus was she forgotten by history but remembered by the sea...



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2. Novas produções do alemão Florian Pühs.


Florian Pühs é uma figura já conhecida do subterrâneo alemão, e escrevi sobre ele algumas vezes aqui. Son os holofotes primeiro como vocalista da banda punkcore Surf Nazis Must Die e mais tarde vocalista e letrista da banda synthpunk Herpes, nos últimos tempos Florian Pühs tem produzido também techno. Ele disponibilizou algumas faixas novas em sua página no portal Soundcloud. Reproduzo aqui duas de minhas favoritas.


LEVEL022 by florianpuehs



LEVEL020 by florianpuehs


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3. Thom Yorke adere ao Movimento em Prol de Poetas que Saibam Dançar.

Creio que o mundo estava preparado para tudo, menos para um vídeo novo do Radiohead em que Thom Yorke bancasse o go-go-boy. Mais um membro do Movimento em Prol de Poetas que Saibam Dançar.


"Lotus Flower", do poeta Thom Yorke, acompanhado pelo Radiohead.


Lotus Flower
Thom Yorke

I will sneak myself into your pocket
Invisible, do what you want, do what you want
I will sink and I will disappear
I will slip into the groove and cut me up and cut me up

There's an empty space inside my heart
Where the wings take root
So now I'll set you free
I'll set you free
There's an empty space inside my heart
And it won't take root
Tonight I'll set you free
I'll set you free

Slowly we unfurl
As lotus flowers
And all I want is the moon upon a stick
Dancing around the pit
Just to see what it is
I can't kick the habit
Just to feed your fast ballooning head
Listen to your heart

We will sink and be quiet as mice
While the cat is away and do what we want
Do what we want

There's an empty space inside my heart
And now it won't take root
And now I set you free
I set you free

Because all I want is the moon upon a stick
Just to see what it is
Just to see what gives
Take the lotus flowers into my room
Slowly we unfurl
As lotus flowers
All I want is the moon upon a stick
Dance around a pit
The darkness is beneath
I can't kick the habit
Just to feed my fast ballooning head
Listen to your heart


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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Apropriação e paródia: cartaz de FEVEREIRO para a SHADE inc, a partir de um original de Annie Leibovitz, mais as atrações principais do mês

Convite e cartaz de fevereiro 2011 para nosso evento às quartas-feiras, SHADE inc, iniciado em abril de 2010, para substituir a antiga Berlin Hilton. Como já escrevi aqui, o conceito para os cartazes e convites segue a apropriação, reencenação ou paródia de imagens fotográficas conhecidas do século passado, da arte ou do fotojornalismo. Concebidos e produzidos pelo coletivo SHADE (em ordem alfabética: Daniel Reuter, Niklas Goldbach, Oliver A. Krüger, Ricardo Domeneck e Viktor Neumann), e então fotografados em geral por N. Goldbach ou D. Reuter. Esta fotografia, reencenando, apropriando-se e parodiando a conhecida foto comercial de Annie Leibovitz, foi feita por Niklas Goldbach.

Clique na imagem para aumentá-la.




Fevereiro de 2011. Concebido pelo coletivo SHADE, fotografado e produzido por Niklas Goldbach.



Para quem não reconhece a foto, veja a original, um retrato de Mark Wahlberg, então ainda chamado de Marky Mark, feito por Annie Leibovitz para a campanha publicitária da Calvin Klein, aqui. Na foto: o ator alemão Daniel Zillmann.

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Nos divertimos muito concebendo e produzindo o flyer deste mês. A foto original talvez seja uma das fotos mais icônicas da publicidade nos anos 90. Marky Mark se tornaria ainda de forma surpreendente o ator Mark Wahlberg.


O programa de fevereiro de 2011 para a SHADE inc inclui:

§ - DJ set com Jeremy Shaw, o artista visual e sonoro por trás do codinome Circlesquare:



"Fight sounds pt 1", do músico eletrônico canadense Circlesquare. DJ set na "SHADE inc" no dia 16 de fevereiro de 2011.


§ - DJ set com Joyce Muniz, vocalista e DJ brasileira com residência em Viena.


Joyce Muniz - "Party over here, Party over there" (Exploited Records). DJ set na "SHADE inc" no dia 9 de fevereiro de 2011.


§ - DJ set com Uli Buder, mais conhecido como Akia.


Uli Buder, mais conhecido como Akia, apresentando-se ao vivo em Berlim. DJ set na "SHADE inc" no dia 23 de fevereiro de 2011.


§ - DJ set com Florian Pühs, produtor, vocalista e letrista alemão.

LEVEL020 by florianpuehs
"Level 20" - Florian Pühs. DJ set na "SHADE inc" no dia 23 de fevereiro de 2011.


§ - DJ set com Marlon Beatt, jovem DJ alemão, apresentando-se com o projeto Three Hours of Love (Los Angeles / Berlin).

"Detroit Beatdown" by Marlon Beatt by Marlon Beatt
"Detroit Breakdown", mix de Marlon Beatt. DJ set na "SHADE inc" no dia 2 de fevereiro de 2011, HOJE.


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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"Reproduction", nova faixa e vídeo de Florian Pühs, ou Breve apresentação de um amigo, músico alemão, com notas sobre o punk no país

"Reproduction" (2010), faixa e vídeo do alemão Florian Pühs.


Conheci Florian Pühs em 2006, num clube subterrâneo do Berlimbo. Um amigo em comum estava discotecando, e eu fiquei imediatamente intrigado por aquele hipster de óculos. Eu, que sou ligeiramente obsessivo, até hoje tenho uma pequenina queda saudável por ele, e ele, por sua vez, tem uma grande queda pela namorada sueca dele, linda e inteligente (chamada Anna), tecladista da sua banda atual. Morando no mesmo bairro (o que em Berlim conta muito às vezes), ficamos muito amigos, gravei um retrato-em-vídeo dele, e acompanhei sua carreira musical na cidade. É que Florian chegou ao Berlimbo com um nome já feito na cena underground de punk core europeia, como vocalista e letrista da cultuada banda Surf Nazis Must Die. O nome da banda é um referência a um filme bizarro da década de 80. Quem escuta hoje suas produções de techno minimalista não deve acreditar que se trata do mesmo Florian Pühs que esgoelava canções de menos de 1 minuto típicas do punk, como esta "I am not anti-girls, girls are anti me":




"I am not anti-girls, girls are anti me", Surf Nazis Must Die, letra e voz de Florian Pühs.


Já escrevi sobre ele aqui, em um artigo chamado "Heine para punks", sobre sua canção "Neue Dresdener Schule", que usa versos de Heinrich Heine numa das minhas canções favoritas do punk dos últimos anos. Florian é hoje vocalista da banda Herpes, na linhagem do electropunk do Le Tigre, ou melhor talvez dizer na linha do synthpunk de uma banda sueca como The Hives. Os críticos os enquadram no que se convencionou chamar por aqui de movimento do Post-Punk Revival, pós-industrial, ou, numa clave bastante absurda em minha opinião, de neopóspunk. As raízes do movimento na Alemanha estão nas incríveis bandas do país nas décadas de 70/80, da chamada Neue Deutsche Welle (Nova Onda Alemã), como os grupos Palais Schaumburg, Einstürzende Neubauten, Grauzone, Hans-A-Plast, Deutsch-Amerikanische Freundschaft (também conhecida como DAF), Die Tödliche Doris, ou Malaria!.

A banda de Florian hoje, Herpes, é em minha opinião uma das melhores do movimento, ao lado de duas bandas contemporâneas da cidade de Colônia, chamadas MIT e Schwefelgelb. Desde 2007, quando a banda se formou, eles têm tocado no nosso evento uma vez por ano. Quanto eles tocam, nós chamamos a noite de Herpes Annual Celebration. Abaixo, vocês podem ver um vídeo do show deles no nosso clube em 2008:



Herpes ao vivo no nosso evento semanal em 2009.

Florian é um das minhas criaturas favoritas no mundo e um divertidíssimo poeta satírico em suas letras, que vão direto ao ponto. Posto abaixo duas canções dele com a banda, traduzindo a letra, poemas satíricos e canções punk. As duas são simples e diretas, como numa fatrasie medieval ou poema dadaísta. Em outras letras, seu sarcasmo com certos aspectos da vida berlinense aparece em textos mais sofisticados, que ainda quero traduzir para postar aqui. Por ora, vão os sopapos de "Du bist kein Mann" e "Very Berlin":


"Du bist kein Mann" (2008), Herpes, letra e voz de Florian Pühs.

Você não é homem, nada
texto de Florian Pühs, tradução de Ricardo Domeneck

E você corre e corre e corre
Mas não chega a paragem alguma
E você procura e procura e procura
Alguma coisa que não encontra, nunca

A vida é tão anti-você
Sobre você a vida só chove

E você corre e corre e corre
Mas não chega a paragem alguma
E você tem uma penca de sonhos
Mas só os constrói sobre dunas

E você corre e corre e corre
Pra dar de cara em outra parede
E mesmo que foda e trepe e beije
Mesmo assim não é nenhum homem

A vida é tão anti-você
Sobre você a vida só chove


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"Very Berlin", da banda alemã Herpes, letra e voz de Florian Pühs.

Very Berlin
texto de Florian Pühs, tradução de Ricardo Domeneck

Essa batida, esse baixo, essa monotonia
Isso é very Berlin, você é very Berlin
Esse som, esse estilo, esses jeans
Isso é very Berlin, você é very Berlin

Baby, enfim chegamos ao fim
Enfim chegamos a Berlim

Vem pra cá,
Saia do buraco,
Tão mesquinho
E tão ferrado

Sem contrato,
Sem dinheiro,
Dá na mesma.

Essa batida, esse baixo, essa monotonia
Isso é very Berlin, você é very Berlin
Essa camisa, nessa cor!
Isso é very Berlin, você é very Berlin

§


A propósito, Florian Pühs discoteca hoje à noite em nossa SHADE inc.

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terça-feira, 8 de junho de 2010

Enquanto isso, no Berlimbo, canta-se e dança-se em meio às velhas crateras e os colapsos econômicos em redor.

§ - O músico alemão Apparat, como gancho para comentar o "Pop sintético" ou Synth-Pop, e a Música Eletrônica Alemã.

Amanhã, uma de minhas criaturas contemporâneas alemãs prediletas apresenta-se em nossa SHADE inc. Trata-se de Sascha Ring, o artista/produtor sonoro conhecido como Apparat. Já o apresentei em minha HILDA magazine há dois anos, não sei ao certo o quanto ele é conhecido no Brasil. Na Europa, ele é muito respeitado. Eu gosto muito do seu trabalho. Em um país onde as raízes com a música popular foram cortadas e arrancadas, por questões políticas (a suspeita de nacionalismo que imediatamente remetia aos crimes nazistas), a música teve que buscar espaço de intervenção e criação no sintético, digamos. Daí a excelência e caráter ponta-de-lança da música eletrônica alemã, com coletivos como Kraftwerk, Can ou Tangerine Dream, e, mais tarde, do Punk alemão e da chamada Neue Deutsche Welle (Nova Onda Alemã), com coletivos como Die Tödliche Doris, Die Goldenen Zitronen, Malaria!, Palais Schaumburg, Hans-A-Plast, etc.

Com a explosão do techno e outros gêneros da música eletrônica na década de 90, Berlim confirmou-se mais uma vez como um dos grandes centros musicais para a experimentação com sintetizadores e, mais tarde, programas de computador. Muito da música produzida na década de 90, em minha opinião, parece por vezes cerebral demais, ou, pelo contrário, dirigida tão-somente para a espinha dorsal - basta que você dance. O que eu aprecio em Apparat é que, mesmo quando ele está produzindo minimal techno, há emoção e delicadeza em sua música. A faixa que mostro aqui, chamada "Arcadia", é de seu último álbum. Em sua linda e delicada voz, ele canta uma pequenina peça lírica de poucos versos. O vídeo me parece muito lindo também.




Arcadia
Sascha Ring aka Apparat.

What's the point
Of waiting
For life to come
I could go further
And no one's surprised
Your plans collapse
Run off
Or fall apart



Outra composição de que gosto muitíssimo é esta "Fractales I & II", do mesmo álbum, também com um belo vídeo.


("Fractales I & II", Apparat, do álbum Walls, 2007)


§- O Synth-Punk da banda Herpes, do vocalista e poeta punk-satírico Florian Pühs.


Este ano foi lançado o primeiro álbum da banda Herpes, sobre a qual já escrevi aqui. Eu chamaria o que eles fazem de Synth-Punk. As letras de Florian Pühs são ótimas, inteligentes e com a dose necessária de sarcasmo ao lidar com a Alemanha e o Berlimbo. Já escrevi aqui sobre sua canção "Neue Dresdener Schule", que usa versos do poeta alemão Heinrich Heine. Esta canção que mostro hoje, a também satírica "Very Berlin", está tocando sem parar nas rádios daqui. Este é o vídeo que a gravadora insistiu em fazer. Na verdade, Florian Pühs havia idealizado outro, que chegamos a gravar e no qual eu dançava, reencenando uma das cenas mais famosas do primeiro filme de Jim Jarmusch, Permanent Vacation (1980), mas a gravadora achou que o que fizemos era "conceitual demais", e não o aprovou (a cegueira da maioria das gravadoras e editoras é a única coisa que me parece "universal"). Resta este aqui.




("Very Berlin", da banda Herpes, letra de Florian Pühs, 2010)
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Florian Pühs & Herpes @ NBI, quarta passada



Herpes, a banda de Florian Puehs, ao vivo na berlin hilton. 18 de fevereiro de 2009.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Heine para punks

Florian Pühs, ex-vocalista da banda Surf Nazis Must Die, atual vocalista da banda Herpes, disse-me uma vez na sala de seu apartamento em Berlim: "Se você quer ler alemães, leia Heine... só Heine."

Quando ele disse isso, não me surpreendi muito. Lembrei-me imediatamente de uma outra situação, em que outro amigo aqui em Berlim disse, quando a conversa descarrilhou para literatura, e então poesia, sem o menor pudor: "Detesto poesia... com Heine como única exceção." Em seu ABC of Reading, se não me engano, Heinrich Heine é um dos poucos alemães a quem Pound menciona com certo apreço.

Não me supreende que Florian Pühs, vocalista e letrista punk, se interesse por Heine e o considere o único poeta alemão legível. Seu exagero tem, obviamente, motivações políticas. Heine foi um dos poetas mais politicamente ativos no século XIX, tornando necessário seu exílio. Foi Heine quem exalou a profética: "Quem queima livros, logo queimará gente", 150 anos antes da Shoah. Além disso, como cantor, Florian Pühs privilegia um poeta-cantor. O "livro das canções" (Buch der Lieder) de Heine ainda é um dos trabalhos poéticos mais lidos na Alemanha.

É interessante que, em outros países, os poetas alemães "privilegiados" sejam os de outra linhagem. Pois, talvez em um mundo de hegemonia literária sobre o poético, unida à busca do que João Cabral de Melo Neto chamava de meditabúndio da poesia profunda, "poeta que canta" tenha se tornado metáfora para o vate apenas, daquele que parece estar sempre a um passo do órfico. E o órfico, em nossa cultura, passou a ser associado a um único ato: a descida ao Hades. Ou seja, na língua alemã, a linhagem de Novalis, Hölderlin, Rilke, Celan.

É como se o mundo esperasse de germânicos que eles se entregassem tão-somente ao metafísico, ao abstrato, ao eixo da transcendência, nunca ao plano da carnalidade.

No entanto, existe toda uma linhagem da poesia germânica que é extremamente telúrica, corporal, do poeta que canta com a garganta de carne e sangue, sobre um mundo terrestre, terreno, terráqueo (e nem por isso menos terrível). É a linhagem, confesso, que eu mais amo neste país, a dos minnesänger (a versão germânica do trovador), como Walther von der Vogelweide (c. 1170 - c. 1230), assim como algo desta tradição se manteve viva em Heinrich Heine, poeta telúrico, como eram telúricos Christian Morgenstern, Hans Arp, Bertolt Brecht (sem mencionar seu trabalho com Kurt Weill), H.C. Artmann ou Rolf Dieter Brinkmann.

Florian Pühs apresenta-se hoje em nossa intervenção semanal Berlin Hilton, com sua banda Herpes. Uma das minhas canções favoritas de sua banda chama-se "Neue Dresdener Schule", em que Puehs toma os primeiros versos do poema "Nachtgedanken", de Heine: "Denk ich an Deutschland in der Nacht / Dann bin ich um den Schlaf gebracht", versos tristes e ambíguos de Heine, em que a idéia de "pensar na Alemanha à noite" traz tanto o sonho, quanto o pesadelo, com "todos os que afundam às covas", como escreve Heine adiante, no poema. O contexto político da escrita de Heine desapareceu, mas repetir-se-ia de forma constante nas décadas e décadas que se seguiram na Alemanha.

Florian Pühs reatualiza o contexto político, retirando do poema, no entanto, toda nostalgia de exilado, fazendo da canção algo de resistência interna, daquele que fica para resistir à "Vaterland", dando à canção, com sarcasmo, o nome de "Neue Dresdener Schule", como é conhecida certa associação alemã em que resistem ideais fascistas.



(HERPES - "Neue Dresdener Schule",
gravado em Leipzig, janeiro de 2009)

Hoje à noite, na Berlin Hilton:

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