sábado, 24 de março de 2012

"18 de maio de 1952", página do "Diário Completo" de Lúcio Cardoso

18 de maio de 1952


"Por mais que indague de mim mesmo, não consigo saber de que modo poderia o Governo auxiliar eficazmente um escritor. Por meio de um grande prêmio? Talvez isso ajudasse a um escritor, de ano em ano, caso ajudasse... Por meio de leis sobre direitos autorais, sindicatos, etc.? Mas isso já deveria existir há muito, e se não existe ainda, que fizeram até agora os escritores, que não reclamaram coisas tão primárias para suas atividades profissionais?

No mais, em que poderia o Governo ajudar os escritores? Criando um ministério de sinecuras? Instituindo o título de "poeta do rei", como na Inglaterra, e nomeando um vate profissional, como Tennyson o foi, ou um protegido do tzar, como o foi Puchkine? Talvez fosse melhor assim – poeta oficial do Sr. Getúlio Vargas – e entre tantos, escolhesse o mais vil de todos.

Mas não, inútil zombar. Nenhum escritor que se preze viveu à sombra do Estado; muitos, ao contrário, morreram contra ele. Que significa proteger oficialmente um Dickens, um Balzac, um Proust? Trucidá-los sob que glória mesquinha e humana? Esta história de escritor sob proteção do Estado é uma reminiscência de aspecto puramente totalitário – e somente por isto é que veio encontrar eco na velha mente viciada do Sr. Getúlio Vargas."

Lúcio Cardoso, Diário Completo (Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1970)




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