quarta-feira, 28 de março de 2012

Anotação de Walter Benjamin encontrada entre seus papéis. Benjamin-Archiv, Ms 500.



Arquivo Benjamin. Manuscrito 500.

Tipos de conhecimento

I. O conhecimento da verdade
Isto não existe. Pois a verdade é a morte da intenção

II. Conhecimento redentor
Este é o conhecimento que surge com a redenção, que dessarte é consumada
Mas não é o conhecimento que precipita a redenção

III. Conhecimento ensinável
Sua mais significativa forma de aparição é a banalidade

IV. Conhecimento determinante
Há conhecimento que determina a ação. Não é, porém, determinante como "motivo", mas em verdade por razão da força de sua estrutura linguística. O momento linguístico na moralidade está conectado ao conhecimento. É de uma certeza absoluta que este conhecimento que determina a ação leva ao silêncio. Dessarte, como tal, não é ensinável. Este conhecimento determinante está intimamente ligado ao conceito do Tao. Isto está em contradição direta à Doutrina da Virtude de Sócrates. Enquanto este é motivante à ação, não determina aqueles que agem.

V. Conhecimento por discernimento* ou percepção
Este tipo é altamente enigmático. Na região do conhecimento, é algo que se assemelha ao presente na região do tempo. Existe apenas como transição incontível**. De que a quê? Entre o presságio e o conhecimento da verdade.


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NOTAS:

* Benjamin escrevia numa letra minúscula, prática que o livro em que estes fragmentos foram publicados (veja capa acima) chamou de micrografia. A palavra no manuscrito, quase ilegível, parece ser Einsicht, que Esther Leslie, a tradutora para o inglês (estou lendo o volume lançado pela excelente editora britânica Verso, da New Left Books), optou por traduzir como insight. Optei por discernimento, palavra que me é muito cara e parece ser a que mais se aproxima à que Benjamin usa.

** Benjamin escreve unfassbaren Übergang, que Esther Leslie traduz como ungraspable transition. Estou ciente da estranheza de minha solução, transição incontível, mas este unfassbar é bastante difícil de verter, especialmente por seu uso atual na língua alemã, muito mais próximo de inconcebível ou inacreditável. Fica aqui o alerta.


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Um comentário:

Helena disse...

sempre apareço aqui por acaso e me agrada muito ler seus textos. fico sempre mais um tempo, relendo a frase enfática ou tentando entender do assunto - tanto faz. sempre muito bom.

um abraço

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