I feel it all, canção de Leslie Feist
§
Limite, texto de Juliana Krapp
Sebe é um acúmulo de varas entretecidas
cerceando
por vezes sim por vezes não
eu sei
do esforço para persuadir
naturezas terríveis
simultaneamente
à graça dos perímetros
que permanecem estanques
(a dor de coabitar
tanto as frinchas quanto os
confinamentos)
Quando rarefeitos, os movimentos
aguardam mais do que a conclusão, preferem
o desdém e o resguardo
ou mesmo esse estalido
(um arquejo)
embalado
pelo embaraço hipnótico
das pequenas sombras
Somente as ventanias são de fato enamoradas
e apenas nelas alijam-se
as imundícias mais profundas
como somente os ramos
estraçalham-se e engravidam-se
num único carretel de músculos em escombros
(um aparelho de tensões
alimentado pelo ritmo
dos sumidouros)
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
domingo, 28 de dezembro de 2008
Edith Beale mãe e Edith Beale filha: Grey Gardens
Porque o mundo esconde criaturas fabulosas.
Há duas noites, eu jantava com meu amigo Heinz (que é também um de meus fotógrafos alemães favoritos, Heinz Peter Knes) e seu namorado Buck. Após a comida e o café, Heinz perguntou se queríamos ver um filme. Eu disse o que geralmente digo neste caso: "Claro! Mas depende do filme."
A lista de opções começou. Ele sugeriu Opening Night, do John Cassavetes, um dos meus filmes favoritos (Gena Rowlands perfeita, perfeita, perfeita), mas já vira o filme várias vezes. Após outros nomes, mais ou menos interessantes, Heinz disse: "Nós podíamos assistir Grey Gardens."
Eu respondi que não sabia do que se tratava. Heinz arregalou os olhos, esboçou o sorriso maroto de quem sabia que estava prestes a acrescentar um novo universo paralelo à cosmologia das minhas obsessões e apertou o PLAY.
Desde então, já pesquisei o que há sobre as duas Edies na rede, Big Edie - a mãe; e Little Edie, a filha: as criaturas Edith Bouvier Beale mãe e Edith Bouvier Beale filha, da família Bouvier, a de Jacqueline Kennedy, nascida Jacqueline Bouvier, mais tarde Kennedy e Onassis.
Big Edie e a maravilhosa Little Edie transformaram-se em figuras cult após o documentário dos irmãos Maysles, chamado Grey Gardens e lançado em 1975.
O documentário é realmente primoroso, apresenta as duas mulheres de maneira respeitosa, afetuosa e ao mesmo tempo é implacável. Algumas das frases de Little Edie não me saem da cabeça.
Eu pagaria qualquer coisa para ler os poemas que Edith Beale escreveu antes de morrer sozinha na Flórida em 2002 (sua mãe morrera em 1977, dois anos depois do documentário.) Seu corpo seria encontrado cinco dias depois.
Para mim, o documentário foi devastador. Esta foi a reação imediata. Terminei o filme muito triste, pensando em como criaturas fabulosas como estas terminam a vida desta maneira, esquecidas em uma casa tomada pelos ratos, gatos e racoons. Deixou-me num humor totalmente "eclesiastes", numa coisa meio "carpe diem" e "tempus fugit", inflando em minha mente um "Nasce o sol e não dura mais que um dia", um "Nothing golden stays", aquilo que me faz respeitar a moda como a tristeza camuflada do transitório, lembrei-me do que me levou a escrever o poema "Lembrete", que encerra meu primeiro livro, Carta aos anfíbios:
Lembrete
Cruz e Sousa
em vagões de
transporte
de gado.
Paul Celan
nas águas
do Sena.
Frank O’Hara
estirado n’areia.
Christine Lavant
crivada de camas
............e escamas.
Alejandra Pizarnik,
intolerância
a secobarbital.
Carlos Drummond de Andrade
doze dias após a filha.
Pier Paolo
a pau e pedra.
João Cabral de Melo Neto
...............................cego.
Orides Fontela
à beira da indigência.
§
Trata-se de um lembrete para mim mesmo.
§
Ao mesmo tempo, há algo de luminoso nestas duas criaturas. Para descrever a alegria de descobrir este documentário e suas figuras, Big Edie e Little Edie, eu gostaria de citar a própria Little Edie: "I am pulverized by this latest thing."
Pode-se assistir ao documentário no YouTube, infelizmente em 11 partes, AAQQUUII - parte 1 de 11.
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Presente de natal d´O Moço, em ficção científica e poesia
Na véspera de natal, logo após o jantar com amigos, o moço aproximou-se, tirou da mochila o que claramente tinha o formato de um livro e o ergueu, atravessando o ar na direção das minhas mãos. Era The Futurological Congress, de Stanislaw Lem.
O moço é experimentado em ficção científica. Seu escritor favorito é o próprio Stanislaw Lem, que eu conhecia apenas como autor do livro que gerara o grande filme de Tarkovski, Solaris. Sempre soube muito pouco sobre ficção científica, tinha meus preconceitos. O moço explicou, definiu, catalogou. Contou-me dos irmãos Boris e Arkadi Strugazski, de Ursula K. Le Guin (que, descobri mais tarde, escreve belos poemas), do grande Philip K. Dick, que foi colega de quarto de Jack Spicer, sim, o poeta que acreditava que o poeta era apenas um rádio, recebendo sinais de "fora", do que ele mesmo chegou a chamar de "vozes marcianas", colega de quarto do Dick a quem eu geralmente me referia apenas como "o autor do livro que gerou o filme Blade Runner", a partir da obra com aquele título de que eu tanto gosto e do qual o moço não gosta, Do Androids Dream of Electric Sheep?.
Por sua vez, o moço não lia nem gostava de poesia. Tinha lá seus preconceitos. Foi então que expliquei, defini, cataloguei. Falei de Frank O´Hara e do colega de quarto do "seu" querido Philip K. Dick, o "meu" Jack Spicer. O moço ama William Burroughs, leu tudo, mas jamais lera os poemas dos seus companheiros Beats. Mostrei-lhe o Ginsberg que ele "conhecia", mas não havia lido, o próprio Kerouac. Dei-lhe volumes de poemas de Bertolt Brecht, de H.C. Artmann, de Christian Morgenstern, de Hans Arp. Mostrei a ele a tradução para o alemão de poemas de Carlos Drummond de Andrade, de João Cabral de Melo Neto.
Mas a grande surpresa viria com sua descoberta, em minha "biblioteca", dos livros de John Cage com seus poemas. Alugamos documentários em que Cage oralizava seus textos e o moço ficou fascinado. Assistindo aos vídeos de Andrew Culver e Frank Scheffer reunidos em "John Cage: From Zero", o moço exclamou durante uma das leituras de Cage: "Ah! Isto é incrível, isto é ficção científica!"
Teria ficado pasmo com a afirmação, mas conheço o moço há algum tempo e o moço já explicou, definiu, catalogou. Sucintamente, na rua, disse certa vez que o interessante na ficção científica estava na tentativa dos autores de pensar em possíveis maneiras com que a humanidade poderia se desenvolver, analisando suas conseqüências, seja no aconselhamento utópico ou no diagnóstico distópico. Naquele momento, chamar de John Cage de "ficção científica", eu confesso, fez sentido para mim. Aconselhamento utópico, diagnóstico distópico: política, futuro. Nada mais histórico que a ficção científica? Como imaginar nestes termos o "Jetztzeit" de Walter Benjamin, a "agoridade" de Haroldo de Campos?
Desde que conheci o moço, fico querendo escrever um poema-de-ficção-científica para ele. Algo que ele possa ler, gostar. O que seria um poema-de-ficção-científica? Penso em Cage, penso no poema "The Image of the Machine", do George Oppen, com os versos:
The machine stares out,
Stares out
With all its eyes
Thru the glass
With the ripple in it, past the sill
Which is dusty—If there is someone
In the garden!
Outside, and so beautiful.
Algo como as pinturas do alemão Konrad Klapheck?
Tive uma idéia este mês, vejamos se conseguirei agradar o experimentado moço.
§§§
Stupid to say merely
That poets should not lead their lives
Among poets,
They have lost the metaphysical sense
Of the future, they feel themselves
The end of a chain
Of lives, single lives
And we know that lives
Are single
And cannot defend
The metaphysic
On which rest
The boundaries
Of our distances.
We want to say
‘Common sense’
And cannot. We stand on
That denial
Of death that paved the cities,
Paved the cities
Generation
For generation and the pavement
Is filthy as the corridors
Of the police.
George Oppen
in Of Being Numerous, de 1968, ano
em que é lançado 2001: A Space Odyssey, de Stanley Kubrick.
.
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O moço é experimentado em ficção científica. Seu escritor favorito é o próprio Stanislaw Lem, que eu conhecia apenas como autor do livro que gerara o grande filme de Tarkovski, Solaris. Sempre soube muito pouco sobre ficção científica, tinha meus preconceitos. O moço explicou, definiu, catalogou. Contou-me dos irmãos Boris e Arkadi Strugazski, de Ursula K. Le Guin (que, descobri mais tarde, escreve belos poemas), do grande Philip K. Dick, que foi colega de quarto de Jack Spicer, sim, o poeta que acreditava que o poeta era apenas um rádio, recebendo sinais de "fora", do que ele mesmo chegou a chamar de "vozes marcianas", colega de quarto do Dick a quem eu geralmente me referia apenas como "o autor do livro que gerou o filme Blade Runner", a partir da obra com aquele título de que eu tanto gosto e do qual o moço não gosta, Do Androids Dream of Electric Sheep?.
Por sua vez, o moço não lia nem gostava de poesia. Tinha lá seus preconceitos. Foi então que expliquei, defini, cataloguei. Falei de Frank O´Hara e do colega de quarto do "seu" querido Philip K. Dick, o "meu" Jack Spicer. O moço ama William Burroughs, leu tudo, mas jamais lera os poemas dos seus companheiros Beats. Mostrei-lhe o Ginsberg que ele "conhecia", mas não havia lido, o próprio Kerouac. Dei-lhe volumes de poemas de Bertolt Brecht, de H.C. Artmann, de Christian Morgenstern, de Hans Arp. Mostrei a ele a tradução para o alemão de poemas de Carlos Drummond de Andrade, de João Cabral de Melo Neto.
Mas a grande surpresa viria com sua descoberta, em minha "biblioteca", dos livros de John Cage com seus poemas. Alugamos documentários em que Cage oralizava seus textos e o moço ficou fascinado. Assistindo aos vídeos de Andrew Culver e Frank Scheffer reunidos em "John Cage: From Zero", o moço exclamou durante uma das leituras de Cage: "Ah! Isto é incrível, isto é ficção científica!"
Teria ficado pasmo com a afirmação, mas conheço o moço há algum tempo e o moço já explicou, definiu, catalogou. Sucintamente, na rua, disse certa vez que o interessante na ficção científica estava na tentativa dos autores de pensar em possíveis maneiras com que a humanidade poderia se desenvolver, analisando suas conseqüências, seja no aconselhamento utópico ou no diagnóstico distópico. Naquele momento, chamar de John Cage de "ficção científica", eu confesso, fez sentido para mim. Aconselhamento utópico, diagnóstico distópico: política, futuro. Nada mais histórico que a ficção científica? Como imaginar nestes termos o "Jetztzeit" de Walter Benjamin, a "agoridade" de Haroldo de Campos?
Desde que conheci o moço, fico querendo escrever um poema-de-ficção-científica para ele. Algo que ele possa ler, gostar. O que seria um poema-de-ficção-científica? Penso em Cage, penso no poema "The Image of the Machine", do George Oppen, com os versos:
The machine stares out,
Stares out
With all its eyes
Thru the glass
With the ripple in it, past the sill
Which is dusty—If there is someone
In the garden!
Outside, and so beautiful.
Talvez como uma canção do Kraftwerk?
Algo como as pinturas do alemão Konrad Klapheck?
Tive uma idéia este mês, vejamos se conseguirei agradar o experimentado moço.
§§§
Stupid to say merely
That poets should not lead their lives
Among poets,
They have lost the metaphysical sense
Of the future, they feel themselves
The end of a chain
Of lives, single lives
And we know that lives
Are single
And cannot defend
The metaphysic
On which rest
The boundaries
Of our distances.
We want to say
‘Common sense’
And cannot. We stand on
That denial
Of death that paved the cities,
Paved the cities
Generation
For generation and the pavement
Is filthy as the corridors
Of the police.
George Oppen
in Of Being Numerous, de 1968, ano
em que é lançado 2001: A Space Odyssey, de Stanley Kubrick.
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Robert Creeley - "Xmas Poem: Bolinas"
"Xmas Poem: Bolinas"
All around
the snow
don´t fall.
Come Christmas
we´ll get high
and go find it.
Robert Creeley
Thirty Things (Los Angeles: Black Sparrow Press, 1974)
All around
the snow
don´t fall.
Come Christmas
we´ll get high
and go find it.
Robert Creeley
Thirty Things (Los Angeles: Black Sparrow Press, 1974)
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Anja Plaschg aka Soap & Skin
Sim, elas continuam nascendo, estas criaturas fabulosas e esquisitas, seguem surgindo para contrariar as sereias da catástrofe, os mais jovens aparecem, criam, cantam, escrevem.
Descobri esta senhorita esta semana. A austríaca Anja Plaschg, que se apresenta com o nome Soap & Skin.
Você pode ouvir mais poemas líricos de Anja Plaschg
ou Soap & Skin AAQQUUII
§
§
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ANJA PLASCHG aka SOAP & SKIN
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
"My vocabulary did this to me."
“Death is not final. Only parking lots.”
Jack Spicer (1925 - 1965)
Ida Hodes, Jack Spicer, Ruth Witt-Diamant & Robert Duncan@ Poetry Center - San Francisco State College, com foto de Allen Ginsberg ao fundo (1957)
"When I praise the sun or any bronze god derived from it
Don’t think I wouldn’t rather praise the very tall blond boy
Who ate all of my potato-chips at the Red Lizard.
It’s just that I won’t see him when I open my eyes
And I will see the sun."
Jack Spicer (1925 - 1965)
Ida Hodes, Jack Spicer, Ruth Witt-Diamant & Robert Duncan@ Poetry Center - San Francisco State College, com foto de Allen Ginsberg ao fundo (1957)
"When I praise the sun or any bronze god derived from it
Don’t think I wouldn’t rather praise the very tall blond boy
Who ate all of my potato-chips at the Red Lizard.
It’s just that I won’t see him when I open my eyes
And I will see the sun."
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terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Poesia lírica do ano / Lyric poetry of the year
A espera foi longa e valeu a pena. O terceiro álbum de poemas do Portishead (com a poeta lírica Beth Gibbons à frente e os músicos Geoff Barrow e Adrian Utley) foi uma das coisas mais lindas de 2008. Eu vi o concerto deles em Berlim e foi uma noite maravilhosa, com Beth Gibbons sorrindo, cantando seus poemas, interagindo com a platéia como jamais imaginei que faria.
Álbum de poemas líricos do ano: Third, com os textos de Beth Gibbons e os músicos que a acompanham: Portishead.
("Machine Gun", poema lírico de Beth Gibbons, acompanhamento musical do grupo Portishead)
§
Poema lírico do ano: "The Rip", Beth Gibbons e os músicos do Portishead:
Quem torcer o nariz ou estranhar que eu chame o álbum de canções também de "poemas líricos", espero que saiba que um poeta cantando seus poemas, enquanto músicos o acompanham, é algo mais velho que andar para a frente na história da tal da humanidade. O império hegemônico da literatice sobre a poesia plural está acabando, mesmo que juízes-24-horas, professores universitários e diplomatas que escrevem nas horas vagas esperneiem. O engraçado é que mesmo se vistos como "literatura", os textos de Beth Gibbons interessam mais que os de muitos deles. Fala-se tanto em sincronia histórica, enquanto segue-se babando conceitos do século XIX em textos críticos sobre a poesia do século XXI.
Espero que os poetas jovens do país não dêem muitos ouvidos aos cinqüentões que bancam hoje no país as sereias da catástrofe, fel e fortuna que regem bons vizinhos e sibilam augustos a alçar suas pérolas contra a poesia dos mais jovens... mas eles estão apenas cumprindo seu papel histórico de poetas da senilidade. O triste fim de muitos poetas brasileiros após os 50, como já disse Décio Pignatari (que jamais sofreu de senectude precoce). Ao invés de reclamarem tanto sobre prêmios literários que nunca recebem, poderiam usar de forma mais produtiva seus espaços, ainda há centenas de poetas estrangeiros esperando tradução no Brasil.
Eu sei, eu sei... é Natal e eu deveria acalmar-me, seguir acreditando na nova comunidade de poetas surgindo.
Yes we can.
Arnaut Daniel, Bertrand de Born, Beatriz de Diá,
valei-nos! guiai-nos!
Espero ter a sorte de poder,
até o último dia de sopro nos pulmões,
seguir:
escrevendo como e com os outros poetas literários vivos.
oralizando como e com os outros poetas orais vivos.
cantando como e com os outros poetas líricos vivos.
dançando como e com os outros poetas performers vivos.
urrando como e com os outros poetas sonoros vivos.
Quem sabe, aqui e ali, até mesmo um cartaz e mais vídeos,
como e com os outros poetas visuais vivos.
Álbum de poemas líricos do ano: Third, com os textos de Beth Gibbons e os músicos que a acompanham: Portishead.
("Machine Gun", poema lírico de Beth Gibbons, acompanhamento musical do grupo Portishead)
§
Poema lírico do ano: "The Rip", Beth Gibbons e os músicos do Portishead:
Quem torcer o nariz ou estranhar que eu chame o álbum de canções também de "poemas líricos", espero que saiba que um poeta cantando seus poemas, enquanto músicos o acompanham, é algo mais velho que andar para a frente na história da tal da humanidade. O império hegemônico da literatice sobre a poesia plural está acabando, mesmo que juízes-24-horas, professores universitários e diplomatas que escrevem nas horas vagas esperneiem. O engraçado é que mesmo se vistos como "literatura", os textos de Beth Gibbons interessam mais que os de muitos deles. Fala-se tanto em sincronia histórica, enquanto segue-se babando conceitos do século XIX em textos críticos sobre a poesia do século XXI.
Espero que os poetas jovens do país não dêem muitos ouvidos aos cinqüentões que bancam hoje no país as sereias da catástrofe, fel e fortuna que regem bons vizinhos e sibilam augustos a alçar suas pérolas contra a poesia dos mais jovens... mas eles estão apenas cumprindo seu papel histórico de poetas da senilidade. O triste fim de muitos poetas brasileiros após os 50, como já disse Décio Pignatari (que jamais sofreu de senectude precoce). Ao invés de reclamarem tanto sobre prêmios literários que nunca recebem, poderiam usar de forma mais produtiva seus espaços, ainda há centenas de poetas estrangeiros esperando tradução no Brasil.
Eu sei, eu sei... é Natal e eu deveria acalmar-me, seguir acreditando na nova comunidade de poetas surgindo.
Yes we can.
Arnaut Daniel, Bertrand de Born, Beatriz de Diá,
valei-nos! guiai-nos!
Espero ter a sorte de poder,
até o último dia de sopro nos pulmões,
seguir:
escrevendo como e com os outros poetas literários vivos.
oralizando como e com os outros poetas orais vivos.
cantando como e com os outros poetas líricos vivos.
dançando como e com os outros poetas performers vivos.
urrando como e com os outros poetas sonoros vivos.
Quem sabe, aqui e ali, até mesmo um cartaz e mais vídeos,
como e com os outros poetas visuais vivos.
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Hit Parade 2008
As duas canções com as quais mais chacoalhei o esqueleto e o cadáver adiado (que não procria) este ano foram, sem dúvida, "Blind" do Hercules and Love Affair (featuring Antony Hegarty) e "Kids" do MGMT. O vocalista do MGMT, o jovem senhor Andrew VanWyngarden, fica aqui também eleito como o mecanismo biodinâmico que mais frequentou o censo de minhas fantasias em 2008. E está dito o necessário sobre entretenimento. Em prol do Movimento "Poetas que sabem dançar".
"Blind", do HERCULES AND LOVE AFFAIR (feat. Antony Hegarty)
§
"Kids", do MGMT (Ben Goldwasser & Andrew VanWyngarden)
§
MECANISMO BIODINÂMICO DO ANO:
ANDREW VANWYNGARDEN
(Nota: Caro sr. VanWyngarden, por ser assim tão formoso, oficializo aqui meu perdão por você ter ajudado a trazer esta onda neohippie às paragens onde resido, espalhando texturas, cores e estampas horrorosas pelas ruas onde sou obrigado a manter os olhos abertos.)
"Blind", do HERCULES AND LOVE AFFAIR (feat. Antony Hegarty)
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"Kids", do MGMT (Ben Goldwasser & Andrew VanWyngarden)
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MECANISMO BIODINÂMICO DO ANO:
ANDREW VANWYNGARDEN
(Nota: Caro sr. VanWyngarden, por ser assim tão formoso, oficializo aqui meu perdão por você ter ajudado a trazer esta onda neohippie às paragens onde resido, espalhando texturas, cores e estampas horrorosas pelas ruas onde sou obrigado a manter os olhos abertos.)
domingo, 21 de dezembro de 2008
Livro do ano / Book of the year.
Eu já encomendei o meu. Há quem acredite que se trata de um acontecimento para a poesia americana. É um acontecimento para a poesia desta parte do mundo. Do planeta? Ron Silliman chamou o livro de "um dos mais importantes livros de poesia dos últimos 50 anos."
Língua Coisa
Este oceano, humilhante em seus disfarces
Resiste a tudo.
Ninguém sintoniza na poesia. O oceano
Emite ondas para a sintonia de ninguém. Gota
Ou tromba d´água. Omite
Significados.
É
Manteiga e pão
Pimenta e sal. A morte
Que os jovens almejam. Sem mira
Alveja as margens. Sinais sem mira, alvos. Ninguém
Sintoniza na poesia.
(tradução de Ricardo Domeneck)
Thing language - Jack Spicer
Thing Language
This ocean, humiliating in its disguises
Tougher than anything.
No one listens to poetry. The ocean
Does not mean to be listened to. A drop
Or crash of water. It means
Nothing.
It
Is bread and butter
Pepper and salt. The death
That young men hope for. Aimlessly
It pounds the shore. White and aimless signals. No
One listens to poetry.
Leia AAQQUUII a postagem sobre Jack Spicer na Modo de Usar & Co.
Língua Coisa
Este oceano, humilhante em seus disfarces
Resiste a tudo.
Ninguém sintoniza na poesia. O oceano
Emite ondas para a sintonia de ninguém. Gota
Ou tromba d´água. Omite
Significados.
É
Manteiga e pão
Pimenta e sal. A morte
Que os jovens almejam. Sem mira
Alveja as margens. Sinais sem mira, alvos. Ninguém
Sintoniza na poesia.
(tradução de Ricardo Domeneck)
Thing language - Jack Spicer
Thing Language
This ocean, humiliating in its disguises
Tougher than anything.
No one listens to poetry. The ocean
Does not mean to be listened to. A drop
Or crash of water. It means
Nothing.
It
Is bread and butter
Pepper and salt. The death
That young men hope for. Aimlessly
It pounds the shore. White and aimless signals. No
One listens to poetry.
Leia AAQQUUII a postagem sobre Jack Spicer na Modo de Usar & Co.
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Voz no texto
Um dos exemplos mais claros e interessantes do que a voz pode fazer com o "sentido" de um texto está em duas leituras distintas de Allen Ginsberg para seu poema "America", publicado em Howl and other poems (1959), na edição histórica da City Lights. Em uma das leituras (no primeiro vídeo), Ginsberg faz do poema uma tocante elegia ao país sonhado por Whitman e Thoreau. Na segunda, o poema transforma-se na mais cáustica sátira. Até que ponto o público influenciou cada desenvolvimento?
"America" - a elegia de Ginsberg
"America" - a sátira de Ginsberg
"America" - a elegia de Ginsberg
"America" - a sátira de Ginsberg
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Perturbação crítica da semana: Julia Kristeva
§
Lendo esta semana uma das obras mais conhecidas de Julia Kristeva, uma tradução para o inglês de sua La Révolution du langage poétique (1974):
"This signifying practice - a particular type of modern literature - attests to a `crisis´ of social structures and their ideological, coercive, and necrophilic manifestations. To be sure, such crises have occurred at the dawn and decline of every mode of production: the Pindaric obscurity that followed Homeric clarity and community is one of many examples. However, with Lautréamont, Mallarmé, Joyce, and Artaud, to name only a few, this crisis represents a new phenomenon. For the capitalist mode of production produces and marginalizes, but simultaneously exploits for its own regeneration, one of the most spectacular shatterings of discourse. (...) Because of its specific isolation within the discursive totality of our time, this shattering of discourse reveals that linguistic changes constitute changes in the status of the subject - his relation to the body, to others, and to objects..."
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Diário de Poesía (Buenos Aires / Rosário)
Já está circulando na Argentina o número 77 do Diário de Poesía, editado por Daniel Samoilovich. Este número traz um dossiê sobre a poesia brasileira do pós-guerra, com um ensaio de Cristian De Nápoli, chamado "Formación de la poesía brasileña: 1945 - 2008", e ainda uma mini-antologia de poesia contemporânea que inclui poemas (traduzidos por De Nápoli e Aníbal Cristobo) dos autores:
Angélica Freitas, Carlito Azevedo, Joca Reiners Terron, Juliana Krapp, Manoel Ricardo de Lima, Marcos Siscar, Marília Garcia, Renato Mazzini, Ricardo Aleixo e deste que vos digita.
São 12 páginas (o Diário de Poesía é editado em formato jornal, páginas grandes) em que Cristian De Nápoli discute o construtivismo poético que dominou a poesia brasileira no pós-guerra, as influências de João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos e Ferreira Gullar, além de Roberto Piva e Horácio Costa, chegando a nossos dias.
Esta edição traz ainda um ensaio de Eduardo Milán, em que discute de forma interessante a conexão entre Nicanor Parra e a Poesia Concreta brasileira, assim como poemas inéditos e entrevistas com a argentina Irene Gruss e o chileno Diego Maquieira.
Angélica Freitas, Carlito Azevedo, Joca Reiners Terron, Juliana Krapp, Manoel Ricardo de Lima, Marcos Siscar, Marília Garcia, Renato Mazzini, Ricardo Aleixo e deste que vos digita.
São 12 páginas (o Diário de Poesía é editado em formato jornal, páginas grandes) em que Cristian De Nápoli discute o construtivismo poético que dominou a poesia brasileira no pós-guerra, as influências de João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos e Ferreira Gullar, além de Roberto Piva e Horácio Costa, chegando a nossos dias.
Esta edição traz ainda um ensaio de Eduardo Milán, em que discute de forma interessante a conexão entre Nicanor Parra e a Poesia Concreta brasileira, assim como poemas inéditos e entrevistas com a argentina Irene Gruss e o chileno Diego Maquieira.
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Poemas em revistas
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Resultante da ação da gravidade sobre os porcos
Sorte tua,
criatura,
que não
tenho acesso
à tua provisão
de oxigênio.
Azar meu,
filisteu,
pois controlo
o protocolo
do fornecimento
de meu leito.
À míngua
da Olimpíada
de tua saliva,
minha língua
represa a seca,
saqueia a sétima
vaca
magra.
Cada gânglio
como hirco,
piso, sigo
e decido
se pá
ao pó,
se cão
ao pão.
§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§
Como quem sopra antes para queimar melhor. Contigo os pontos são o corte. Prazer do que me desinfecta para proteger da tez teus insetos. Eis-me, queridinho, pós-utópico sou eu após confundires sulco com sutura, ou teu exagero na etimologia de amortecimento por implicação. Arreganho os ouvidos e olvidos e Ovídios e tudo o que oiço é "deixa que o cronômetro venha coser os lábios da ferida", enquanto selecionas (random mode) por trilha-sonora o sonzim de ossos que engranzam. Silêncio não é costureira, nem na Espanha onde talvez haja alguma que atenda por Martírio ou Remédios, como numa peça qualquer de uma Lorca louca ou Orca justiceira.
PARA ALIMENTAR A RAIVA:
PARA CURAR A RAIVA:
criatura,
que não
tenho acesso
à tua provisão
de oxigênio.
Azar meu,
filisteu,
pois controlo
o protocolo
do fornecimento
de meu leito.
À míngua
da Olimpíada
de tua saliva,
minha língua
represa a seca,
saqueia a sétima
vaca
magra.
Cada gânglio
como hirco,
piso, sigo
e decido
se pá
ao pó,
se cão
ao pão.
§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§
Como quem sopra antes para queimar melhor. Contigo os pontos são o corte. Prazer do que me desinfecta para proteger da tez teus insetos. Eis-me, queridinho, pós-utópico sou eu após confundires sulco com sutura, ou teu exagero na etimologia de amortecimento por implicação. Arreganho os ouvidos e olvidos e Ovídios e tudo o que oiço é "deixa que o cronômetro venha coser os lábios da ferida", enquanto selecionas (random mode) por trilha-sonora o sonzim de ossos que engranzam. Silêncio não é costureira, nem na Espanha onde talvez haja alguma que atenda por Martírio ou Remédios, como numa peça qualquer de uma Lorca louca ou Orca justiceira.
PARA ALIMENTAR A RAIVA:
PARA CURAR A RAIVA:
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
De volta a Berlim, ex-cratera
(Hildegard Knef - "In dieser Stadt")
§§§
BERLIN IN 1945
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berlin,
música para os meus ouvidos
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Jovens poetas europeus: Eduard Escoffet
Eduard Escoffet nasceu em Barcelona, em 1979. É um dos mais ativos poetas da capital catalã, figura central da jovem poesia experimental espanhola. Desde o fim da década de 90, ainda muito jovem, Escoffet vem organizando festivais e encontros de poesia experimental em Barcelona. Entre 2000 e 2004, foi responsável pelo Festival Proposta de Polipoesia, trazendo à Catalunha poetas sonoros e performers como Américo Rodrigues (Portugal), Nobuo Kubota (Canadá), Nathalie Quintane, Anne-James Chaton e Christophe Fiat (França), Jörg Piringer e Christian Ide Hintze (Áustria), Michael Lentz (Alemanha), Sten Hanson (Suécia), além de catalães como Dolors Miquel, Josep Ramon Roig e o mestre Bartomeu Ferrando. A primeira edição do festival teria contado com a presença do brasileiro Philadelpho Menezes (1960 - 2000), se a morte não o tivesse colhido naquela estrada entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Mesmo após o fim do festival Proposta, Eduard Escoffet segue organizando leituras e performances em Barcelona, sendo também um dos nomes espanhóis mais constantes em festivais de poesia experimental europeus.
Por muito tempo, seu trabalho esteve primordialmente ligado, segundo ele, a uma vindicação da oralidade, recusando-se à publicação. No entanto, Eduard Escoffet é um belíssimo exemplo daquele poeta verbivocovisual / multimedieval que acredito estar nascendo com força nestes últimos anos. Pois, em Escoffet, assim como em outros poetas atuais, o verbivocovisual assume um equilíbrio criativo em cada uma de suas raízes, num trabalho verbal de escrita, vocal em oralidade e visual, tanto em seu trabalho gráfico como em seu aspecto corporal, performático.
Ligado tanto à tradição da poesia moderna catalã de mestres como J.V. Foix (1893-1987) como ao trabalho do grupo barcelonês da retomada das estratégias das vanguardas no pós-guerra, o Dau-al-Set (tendo Joan Brossa como mestre maior, e ainda Antoni Tàpies, Joan Ponç e Arnau Puig), o trabalho poético de Eduard Escoffet manifesta-se como poesia sonora (ligada ao textualismo de Bernard Heidsieck e Michael Lentz), como poesia literária (fortemente marcada por uma intertextualidade rica em referências à tradição da poesia catalã medieval) e como performance, em que podemos sentir influências diversas como DADA, Fluxus, poetas como John Giorno e o grupo dos Ugly Americans (Lydia Lunch, Thurston Moore, Bibbe Hanson, etc).
Ainda que Escoffet tenha prazer em ironizar o papel de literatos na produção poética contemporânea (sabendo-se herdeiro de uma tradição poética da voz, que remonta ao século XI), o poeta catalão segue produzindo belíssimos poemas escritos, compilados em seu livro gaire, que deverá ser lançado em 2009. Além destes textos escritos, produz textos para vídeos e peças sonoras, colaborando com artistas de diversas partes da Europa.
Atacando uma noção literarizante do século XVIII / XIX (que ridiculamente se crê antiquíssima), Eduard Escoffet alinha-se aos poetas trovadores occitanos (tanto provençais, com trabalhos da simplicidade minimalista de Guilherme da Aquitânia ou a exuberância formal de Arnaut Daniel, quanto catalães como Hug de Mataplana e Guillem de Cervera), mas também às vanguardas do início do século XX, em especial DADA (que é ruptura apenas se justaposta à noção poética literarizante do século XIX, sendo DADA muito mais uma religação à tradição poética medieval) e ainda aos grupos de retomada das vanguardas do pós-guerra, como os Lettristes parisienses, o Dau-al-Set barcelonês, o Noigandres paulistano, o British Poetry Revival londrino, etc.
Apresentamos aqui alguns exemplos do trabalho poético de Eduard Escoffet, como o poema sonoro "nadala tsingtao", o texto "mtp 1" e um vídeo de sua leitura no Festival de Poesia de Berlim de 2007, quando o conheci.
POEMAS DE EDUARD ESCOFFET:
mtp 1
a)
"um escritor é aquele que impõe silêncio à palavra" – Maurice Blanchot
b)
quase às vezes / quase quase sempre
quase às vezes / quase quase sempre
o texto que digitas:
cada letra escrita tem o traço
de um corpo: os cabelos e a pele vão tomando forma:
a letra. e um nome que é desintegrado.
quase às vezes / quase quase sempre.
c)
nada há a dizer e contudo necessitamos escrever.
as palavras sulcam a necessidade e contudo as reiventamos como calafetadores:
a madeira, a madeira que já não é madeira:
madeira no crânio, madeira no tórax, madeira nas entranhas.
hoje qualquer corpo / ele é a madeira
(a de um outro escrito)
d) agora agito as mãos e se move um pouco o ar.
(tradução inédita de Ricardo Domeneck)
mtp1
a)
"un escriptor és aquell que imposa silenci a la paraula" maurice blanchot
b)
quasi de vegades / quasi quasi sempre
quasi de vegades / quasi quasi sempre
el text que estàs picant:
cada lletra escrita té la traca
d´un cos: els cabells i la pell van prenent forma:
la lletra. i un nom que es desdibuixa.
quasi de vegades / quasi quasi sempre
c)
no hi ha res a dir, i tanmateix necessitem escriure.
les paraules solquen la necessitat, i tanmateix les reinventem talment calafatadors:
la fusta, la fusta que ja no és fusta:
fusta al cervell, fusta al cor, fusta a les entranyes.
avui qualsevol cos / ell és la fusta
(la d´un altre escrit)
d)
ara bellugo les mans e es mou un poc l´aire.
mtp, 1-viii-02
§§§
(Eduard Escoffet no Poesiefestival Berlin 2007)
§§§
Recomendo a visita à página de Eduard Escoffet no portal Myspace, onde se pode ouvir outros poemas sonoros, ver vídeos e poemas visuais.
Basta clicar AAQQUUII: POEMAS DE EDUARD ESCOFFET
§§§
(La Cooperative Montpellier: Eduard Escoffet, Jean-François Blanquet, Lucille Calmel e Mathias Beyler / video : Jean-François Blanquet, 2002)
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domingo, 14 de dezembro de 2008
Poetas brasileiros em livrarias de Barcelona
Na Livraria Central, loja ao lado do MACBA (Museu d'Art Contemporània de Barcelona), há um sonho de qualquer poeta quando pensa na seção de poesia de uma livraria. Não apenas uma parte gigantesca de poesia catalã, como poesia em castelhano, seja espanhola ou latino-americana, livros em francês, inglês, português. É o único lugar em que entro e encontro, sem ter que encomendar, livros de poetas americanos como George Oppen, Susan Howe e Rosmarie Waldrop, ou franceses como Pierre Albert-Birot, Michel Deguy, sem falar nas traduções para o castelhano e catalão de poetas israelenses, japoneses, poloneses, suecos.
Este fim-de-semana, visitando a livraria, comecei a pensar na idéia de Pound de que todo grande período de criação poética é precedido por um momento de intensa tradução. Se ele estiver correto, podemos predizer um século XXI frutífero para a poesia espanhola.
Comprei uma antologia bilíngüe do português Mário Cesariny, uma tradução para o castelhano do poeta israelense (nascido em Berlim, emigra para a Palestina com os pais durante o regime fascista) chamado Nathan Zach, e o livro de um poeta francês de quem eu jamais ouvira falar, nascido em Estrasburgo e chamado Jean-Paul de Dadelsen, que morreu muito jovem e praticamente inédito, amigo de Albert Camus (que estava preparando a edição póstuma de sua obra quando também morreu inesperadamente), um livro que me surpreendeu muito, chamado Jonas (Paris: Gallimard, 2005).
.
.
.
"La baleine, dit Jonas, c´est la guerre et son black-out.
(...)
La baleine est toujours plus loin, plus vaste; croyez-moi, on n´échappe guère, on échappe difficilement, à la baleine.
La baleine est nécessaire."
Jean-Paul de Dadelsen, "Jonas" (1956).
&
Poetas brasileiros vistos nas estantes
de poesia da Livraria Central, em Barcelona:
Manuel Bandeira (antologia em castelhano)
Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo & O Amor Natural, traduzidos para o castelhano)
Murilo Mendes (Tempo espanhol, traduzido para o castelhano)
Vinícius de Moraes (antologia, traduzida para o castelhano)
Mario Quintana (antologia em castelhano)
Manoel de Barros (Gramática Expositiva do Chão - a edição brasileira, além de uma antologia em castelhano)
João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas, traduzido para o castelhano, além de uma antologia também em castelhano.)
Haroldo de Campos (Crisantempo, traduzido para o castelhano)
Ferreira Gullar (Poema Sujo, traduzido para o castelhano)
Armando Freitas Filho (Raro mar & Numeral Nominal, traduzidos para o catalão)
&
A performance foi boa, apesar de um ou outro "erro". Volto hoje a Berlim, saudades da cidade, mas preguiça do país de que é a capital (cada vez mais).
"A baleia é necessária."
Este fim-de-semana, visitando a livraria, comecei a pensar na idéia de Pound de que todo grande período de criação poética é precedido por um momento de intensa tradução. Se ele estiver correto, podemos predizer um século XXI frutífero para a poesia espanhola.
Comprei uma antologia bilíngüe do português Mário Cesariny, uma tradução para o castelhano do poeta israelense (nascido em Berlim, emigra para a Palestina com os pais durante o regime fascista) chamado Nathan Zach, e o livro de um poeta francês de quem eu jamais ouvira falar, nascido em Estrasburgo e chamado Jean-Paul de Dadelsen, que morreu muito jovem e praticamente inédito, amigo de Albert Camus (que estava preparando a edição póstuma de sua obra quando também morreu inesperadamente), um livro que me surpreendeu muito, chamado Jonas (Paris: Gallimard, 2005).
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"La baleine, dit Jonas, c´est la guerre et son black-out.
(...)
La baleine est toujours plus loin, plus vaste; croyez-moi, on n´échappe guère, on échappe difficilement, à la baleine.
La baleine est nécessaire."
Jean-Paul de Dadelsen, "Jonas" (1956).
&
Poetas brasileiros vistos nas estantes
de poesia da Livraria Central, em Barcelona:
Manuel Bandeira (antologia em castelhano)
Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo & O Amor Natural, traduzidos para o castelhano)
Murilo Mendes (Tempo espanhol, traduzido para o castelhano)
Vinícius de Moraes (antologia, traduzida para o castelhano)
Mario Quintana (antologia em castelhano)
Manoel de Barros (Gramática Expositiva do Chão - a edição brasileira, além de uma antologia em castelhano)
João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas, traduzido para o castelhano, além de uma antologia também em castelhano.)
Haroldo de Campos (Crisantempo, traduzido para o castelhano)
Ferreira Gullar (Poema Sujo, traduzido para o castelhano)
Armando Freitas Filho (Raro mar & Numeral Nominal, traduzidos para o catalão)
&
A performance foi boa, apesar de um ou outro "erro". Volto hoje a Berlim, saudades da cidade, mas preguiça do país de que é a capital (cada vez mais).
"A baleia é necessária."
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
terra de Brossa / Ferrater / Ferrando
Catalunya, terra do meu avô paterno,
Joan Domènech por estas bandas,
João Domeneck mais tarde no Brasil,
quisera fazer disto um poema,
grafia que muda, pronúncia
que permanece.
Gosto demais de Barcelona, é a única outra cidade
nesta Zooropa, além de Berlim, onde me sinto
estranhamente
em casa.
Catalunya dos poetas. Delícia de cidade, cheia de livrarias
(como Buenos Aires), as mais frutíferas e abarrotadas estantes
de poesia que já vi estão aqui.
Terra de
JOAN BROSSA (1919 - 1998)
·
·
GABRIEL FERRATER (1922 - 1972)
OCI
Ella dorm. L'hora que els homes
ja s'han despertat, i poca llum
entra encara a ferir-los.
Amb ben poc en tenim prou. Només
el sentiment de dues coses:
la terra gira, i les dones dormen.
Conciliats, fem via
cap a la fi del món. No ens cal
fer res per ajudar-lo.
(Gabriel Ferrater, in Teoria dels cossos, 1966)
Ócio
Ela dorme. A hora em que os homens
já estão despertos, e pouca luz
entra por ora a feri-los.
Com tão pouco temos tanto. Apenas
o sentimento de duas coisas:
a terra gira, mulheres dormem.
Reconciliados, seguimos
direto ao fim do mundo, que não
requer nossa ajuda.
(tradução de Ricardo Domeneck)
·
·
BARTOMEU FERRANDO (n. 1951)
Joan Domènech por estas bandas,
João Domeneck mais tarde no Brasil,
quisera fazer disto um poema,
grafia que muda, pronúncia
que permanece.
Gosto demais de Barcelona, é a única outra cidade
nesta Zooropa, além de Berlim, onde me sinto
estranhamente
em casa.
Catalunya dos poetas. Delícia de cidade, cheia de livrarias
(como Buenos Aires), as mais frutíferas e abarrotadas estantes
de poesia que já vi estão aqui.
Terra de
JOAN BROSSA (1919 - 1998)
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GABRIEL FERRATER (1922 - 1972)
OCI
Ella dorm. L'hora que els homes
ja s'han despertat, i poca llum
entra encara a ferir-los.
Amb ben poc en tenim prou. Només
el sentiment de dues coses:
la terra gira, i les dones dormen.
Conciliats, fem via
cap a la fi del món. No ens cal
fer res per ajudar-lo.
(Gabriel Ferrater, in Teoria dels cossos, 1966)
Ócio
Ela dorme. A hora em que os homens
já estão despertos, e pouca luz
entra por ora a feri-los.
Com tão pouco temos tanto. Apenas
o sentimento de duas coisas:
a terra gira, mulheres dormem.
Reconciliados, seguimos
direto ao fim do mundo, que não
requer nossa ajuda.
(tradução de Ricardo Domeneck)
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BARTOMEU FERRANDO (n. 1951)
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Em Barcelona
Cheguei hoje a Barcelona, após uma noite daquelas na berlin hilton. Apresento-me hoje à noite como DJ no Lotus Theater, em um evento organizado pela artista visual espanhola Silvia Prada.
·
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No sábado, faço uma leitura/performance em um evento com curadoria do poeta catalão Eduard Escoffet, chamado Text, Veu i Vídeo en Directe. O conceito é reunir poetas residentes na Europa que trabalham com vídeo em suas leituras-performances. Apresento-me ao lado do mexicano Eugenio Tisselli e da espanhola Miriam Reyes.
de la pàgina a la pantalla: text, veu i vídeo en directe
de la página a la pantalla: texto, voz y video en directo
dissabte 13 de desembre de 2008, de 19.30 a 22h
sábado 13 de diciembre de 2008, de 19.30 a 22h
sala conservas (barcelona)
Actuacions de Ricardo Domeneck, Miriam Reyes i Eugenio Tisselli
Sala Conservas
Sant Pau, 58, baixos
08001 Barcelona
Entrada col·laboració: 3 eur
www.conservas.tk
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No sábado, faço uma leitura/performance em um evento com curadoria do poeta catalão Eduard Escoffet, chamado Text, Veu i Vídeo en Directe. O conceito é reunir poetas residentes na Europa que trabalham com vídeo em suas leituras-performances. Apresento-me ao lado do mexicano Eugenio Tisselli e da espanhola Miriam Reyes.
de la pàgina a la pantalla: text, veu i vídeo en directe
de la página a la pantalla: texto, voz y video en directo
dissabte 13 de desembre de 2008, de 19.30 a 22h
sábado 13 de diciembre de 2008, de 19.30 a 22h
sala conservas (barcelona)
Actuacions de Ricardo Domeneck, Miriam Reyes i Eugenio Tisselli
Sala Conservas
Sant Pau, 58, baixos
08001 Barcelona
Entrada col·laboració: 3 eur
www.conservas.tk
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Bianca "Coco" Casady
Há alguns dias, comentei aqui sobre a versão do duo CocoRosie para a canção "Turn me on". Três dias depois, out of the blue e por coincidência, recebo uma mensagem eletrônica de Bianca Casady, dizendo que estava em Berlim e que gostaria de fazer algo com seu amigo Simon Guzylack na berlin hilton, our own private Cabaret Voltaire. Quase caí da cadeira. Portanto hoje, na berlin hilton, a convidada especial é Bianca "Coco" Casady (que forma com sua irmã Sierra "Rosie" Casady o duo CocoRosie), acompanhada de seu amigo Simon Guzylack. Eles pediram por conexões para dois computadores, dois tape recorders (Bianca Casady é já conhecida por experimentar com gravadores em suas performances) e um microfone. Just so excited. Em pleno Berlimbo.
Kenneth Goldsmith define o duelo
Na cena da poesia jovem americana, dois grupos de poetas "experimentais" têm angariado atenção nos últimos anos: os poetas da "Conceptual poetry", que tem como membro mais conhecido o poeta Kenneth Goldsmith, além do canadense Christian Bök; e o grupo conhecido como FLARF, ligado ao antigo "Flarflist Collective", que tem como "membros" mais conhecidos os poetas K. Silem Mohammad, Michael Magee e Nada Gordon.
Em piada contra o dualismo fictício definindo a cena jovem experimental da poesia norte-americana, o "conceptual" Kenneth Goldsmith publicou o seguinte "duelo conceitual-flarfístico" no blog da Poetry Foundation:
FLARF versus CONCEPTUAL WRITING according to Kenneth Goldsmith
§§§
FLARF:
CONCEPTUAL WRITING:
Bom, meu favorito no time dos "Conceptual writers" não é exatamente Kenneth-pai do ubu.com-Goldsmith, mas o canadense Christian Bök, sobre quem eu escrevi na Modo de Usar & Co. eletrônica (leia AAQQUUII).
Entre os flarfistas, meu favorito é Michael Magee. Mas eu creio que gosto de Bök e Magee justamente por serem os que poderiam "trocar de time", os que misturam e borram as fronteiras, os que mostram que este é outro dualismo limitador.
Em piada contra o dualismo fictício definindo a cena jovem experimental da poesia norte-americana, o "conceptual" Kenneth Goldsmith publicou o seguinte "duelo conceitual-flarfístico" no blog da Poetry Foundation:
FLARF versus CONCEPTUAL WRITING according to Kenneth Goldsmith
§§§
FLARF:
CONCEPTUAL WRITING:
Bom, meu favorito no time dos "Conceptual writers" não é exatamente Kenneth-pai do ubu.com-Goldsmith, mas o canadense Christian Bök, sobre quem eu escrevi na Modo de Usar & Co. eletrônica (leia AAQQUUII).
Entre os flarfistas, meu favorito é Michael Magee. Mas eu creio que gosto de Bök e Magee justamente por serem os que poderiam "trocar de time", os que misturam e borram as fronteiras, os que mostram que este é outro dualismo limitador.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
A ex-bebedeira de Chan Marshall
Chan Marshall aka Cat Power fala de sua bebedeira. Senti o "erratic behavior on stage" de Ms. Marshall na pele. A apresentação dela em São Paulo (em 2001) foi uma das piores coisas que presenciei num palco. Mas nunca deixei de amar sua voz e música, seus textos lindos. Sua canção "Nude as the news" está entre minhas all-time favourites. Ela está ficando cada vez mais bonita.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Grupal parece gostoso
Sim, parece ser produtivo. É. Como já disse Ron Silliman: "poetry is community", e há uma diferença gigantesca entre comunidade e máfia. Poeta aprende rápido a viver, sabe que lenda é para depois. Entre os que se liam uns aos outros e os que trocavam outros fluidos além de tinta, algumas das histórias mais divertidas e influentes da poesia do século passado foram concebidas entre amigos. Poesia e coterie andam de mãos dadas há muito tempo. Precisamos pensar sobre a poesia, sua produção e recepção sem delírios imperiais. Pensar, talvez, até mesmo no que há de certo e errado em ter alguns poucos leitores e dedicar-se a eles. Sem delírios totalitários. Engraçado imaginar que a era digital esteja talvez quebrando as ilusoes de totalidade dos séculos XVIII e XIX, como o cargo ridiculamente provinciano do "poeta nacional", o único coroável, adorável, salve, salve. "Era no tempo do rei" ou "Era no tempo de Bandeira/Drummond/Cabral" são intercambiáveis (eu teria votado em Murilo Mendes, de qualquer forma) para os historiadores das hegemonias literárias e os poetas que anseiam por láureas e cargos em secretarias de educação e cultura de governos municipais estaduais federais. Eu prefiro viver agora com alguns companheiros. Há, sim, comunidades de poetas em atividade hoje. A lenda é para depois.
Abaixo, algumas comunidades de poetas, pequenas coteries (sem os seus poucos fiéis primeiros leitores) que mais tarde se tornariam história totalitária.
Abaixo, algumas comunidades de poetas, pequenas coteries (sem os seus poucos fiéis primeiros leitores) que mais tarde se tornariam história totalitária.
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