O prosador japonês Kenzaburō Ōe completa hoje 76 anos. A notícia, que li casualmente, iniciou em mim uma cadeia de recordações e pensamentos sobre os textos que amo.
Quando Kenzaburō Ōe ganhou o Prêmio Nobel em 1994, eu estava morando nos Estados Unidos, terminando o colegial como estudante de intercâmbio na cidade de Shreveport, em Louisiana. Tive a sorte de ser matriculado por minha família anfitriã na melhor escola da cidade, o que não deixou de ser muito difícil no começo, pois as aulas eram realmente muito puxadas para quem não dominava a língua, e, saindo de casa e do país pela primeira vez com 16 anos, passava ainda por um tremendo choque cultural.
O nome da escola era Caddo Parish Magnet High School, e tinha uma programação especial baseada na educação artística e literária. Para dar um exemplo, que está ligado a esta postagem sobre Kenzaburō Ōe, eu tinha uma aula que se chamava simplesmente Novels. Sim, "Romances". Nesta aula, que era diária e de 55 minutos, tudo o que fazíamos era ler, discutir, destrinçar e analisar um único romance por mês: seu texto, seu autor, sua recepção crítica. A lista de romances mensais, enquanto estive ali, foi de Fiodor Dostoiévski (Crime e Castigo, 1866) a Henry David Thoreau (Walden; or, Life in the Woods, 1854), de Primo Levi (If Not Now, When?, 1982) a Henry Miller (Sexus, 1949), entre vários outros. Creio que estes quatro exemplos dão uma ideia de como a escola era progressista. A professora chamava-se Ms. Pam Peak, e pelo que vi no site da escola, dá as aulas de English, Creative Writing e Novels ainda hoje por lá.
Todo ano em outubro, quando era anunciado o Nobel, a classe então lia um trabalho do autor, fosse ele prosador, dramaturgo ou poeta. Assim, numa manhã em outubro de 1994, a senhora Peak chegou à sala de aula e escreveu na lousa:
Kenzaburō Ōe
Teach Us to Outgrow Our Madness
O original havia sido publicado no Japão em 1969 e a primeira tradução americana em 1977. A edição que usamos, cuja capa reproduzo ao lado, reunia quatro novelas de Ōe.
Teach Us to Outgrow Our Madness é um dos trabalhos que trazem certos elementos autobiográficos de Ōe, no qual a personagem principal lida com os fantasmas de sua decisão de interromper a gravidez da mulher quando descobrem que o bebê tinha a Síndrome de Down, e sua relação quase obsessiva com o filho quando este nasce. Há uma passagem na novela envolvendo um urso polar que é memorável.
O texto me impressionou tanto que decidi ler as outras três novelas incluídas no volume. Comecei por Aghwee The Sky Monster, de 1964, que à época me pareceu um dos textos mais aterrorizantes que lera nos meus 16 anos de vida. A novela conta a história de um homem que é contratado para fazer companhia à personagem que durante toda a novela é chamado apenas por sua inicial, D., um compositor de 28 anos que enlouquecera após causar a morte de seu filho recém-nascido e deficiente. D passa a ser visitado pelo fantasma do bebê, que ele chama de Aghwee por ser a única palavra que o bebê falara antes de morrer. O livro é assustador.
Depois li Prize Stock, um trabalho mais realista, que conta a história de um piloto negro norte-americano que acaba capturado e mantido preso em uma vila japonesa, por pessoas que jamais tiveram contacto com estrangeiros. Segundo o autor, é também um trabalho baseado em acontecimentos de sua infância.
Mas foi a novela que abre o volume e que deixei por último, a mais longa, estonteante e lindamente intitulada The Day He Himself Shall Wipe My Tears Away (1972), que me causou a febre, o aguar na linha do diafragma, a natação dos pulmões.
The Day He Himself Shall Wipe My Tears Away é uma das coisas mais inesquecíveis que li, e a segunda vez na minha vida de leitor, até aquele momento, em que experimentara A FEBRE. Espero que algumas pessoas lendo isso entendam o que quero dizer, sem que eu tenha que explicar muito. A febre. Aquela febre que certos textos dão, e que apenas textos muito específicos conseguem causar. Àquela altura, com 16 anos, minhas leituras ainda consistiam em grande parte de ficção científica e histórias de terror. A única vez que me lembrava de ter experimentado aquela sensação ao ler algo fora com Clarice Lispector, com o conto "O ovo e a galinha". Em poesia, até então apenas com alguns poemas de Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.
Não estou tentando estabelecer uma comparação entre Lispector e Ōe, dizer que são da mesma linhagem ou algo assim. Não sei o que os une. Sei apenas que há certos escritores que me dão esta febre, que vai além da mera "apreciação estética" ao nos depararmos com a grande técnica narrativa de um bom escritor. Há certos autores que fazem com que nossas cordas vocais vibrem mesmo enquanto os lemos em silêncio, como se numa frequência inaudível para os ouvidos humanos.
Você conhece a expressão "ficar aguado"? No interior de São Paulo, usa-se a expressão para aquela sensação infantil que temos quando ainda estamos aprendendo a lidar com o NÃO. Imagine uma criança a ouvir pela primeira vez o NÃO. Começando a descobrir que o mundo não é exatamente um fornecedor inesgotável de sonhos realizáveis.
"Não! Você não pode possuir esta coisa ou ser vivo do qual sua vida parece depender completamente neste exato instante dos seus 5 anos de vida sobre a Terra."
Eu me lembro ainda da primeira vez em que me foi dado, por adultos, o nome para aquela coisa horrível que estava sentindo no peito. Eu posso quase me ver encostado no portão da casa de minha avó, ouvindo-a dizer ao meu pai: "O menino ficou aguado"... sei que soa como ilusão da memória, mas às vezes eu acho que a primeira manifestação poética de que me lembro foi ali, aos 5 ou 6 anos, quando eu me maravilhei com aquela palavra, que parecia denominar tão bem aquela sensação horrível de frustração, decepção no peito, eu quase pareço me lembrar de pensar comigo mesmo: "Então é isso, eu fiquei aguado!, é isso o nome desta sensação horrível!". E fiquei muito tempo pensando no porquê do uso de um derivado de "água" para a sensação, mas, ao mesmo tempo, sabia que era perfeito. Era como estar chorando por dentro dos pulmões.
E é essa a sensação que me retorna ao ler certos escritores. Esta febre, misturada a este aguamento. Mas agora ela é subitamente um prazer! Como aquela alegria difícil de que fala Clarice Lispector em A Paixão Segundo GH? Talvez haja apenas muito masoquismo no tal prazer do texto. E vicia. Porque agora não tenho escolha, passo a vida buscando os escritores que me possam dar este prazer específico, este aguamento. Esta febre. Mas quanto mais passa o tempo mais difícil fica deslumbrar-se. São poucos os que dão a febre imensa... senti-a em "O ovo e a galinha", de Clarice Lispector, assim como, mais tarde, em várias passagens deslumbrantes de A Maçã no Escuro (1951); eu a senti neste The Day He Himself Shall Wipe My Tears Away comentado aqui, de Kenzaburō Ōe; naquelas páginas finais de Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa, ou na passagem assustadora em que Riobaldo deixa o bando e embrenha-se no ermo, à procura do diabo; em quase todas as páginas de Qadós (1973) e A Obscena Senhora D (1982), de Hilda Hilst, especialmente com aquela porca; passagens de Absalom, Absalom! (1943), do Faulkner; em Temor e Tremor (1843), do Kierkegaard; em Do Sentimento Trágico da Vida (1933), de Miguel de Unamuno; na passagem em que Aliocha lamenta-se durante os eventos perturbadores do velório de seu mestre no monastério, em Os Irmãos Karamazov (1880); em Fragmentos de um Discurso Amoroso (1977), do Barthes; etc, etc, e outro raro e precioso etc.
Eu estou sempre em busca destes textos. Acho que é por isso que a onda brasileira seca, objetiva e econômica dos poetas cabralistas e dos prosadores fonsequistas sempre me frustrou tanto - ainda que os próprios Cabral e Fonseca sejam muitíssimo capazes de tais textos, basta pensarmos, por exemplo, em Uma Faca Só Lâmina (1955), de Cabral. Eu preciso da febre, do texto que parece aumentar a temperatura do meu corpo entre o diafragma e as amígdalas, que faz a boca ficar --- nem frouxa nem rígida (o Brasil ataca o frouxo porém celebra o rígido) --- mas tesa.
Falei aqui apenas sobre os textos em prosa que mais me marcaram, compartilhando com vocês. Adoraria saber quais textos dão febre aos amigos. Quem quiser deixar uma lista nos comentários, como sugestões a este viciado por textualismo febril, me deixaria feliz.
Quero escrever sobre uns poemas na próxima vez.
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
Das canções favoritas: "A quarter to three", da banda Sleater-Kinney
Esta foi a primeira canção que ouvi da banda de riot grrrls de (ora, de onde mais?) Olympia, no estado norte-americano de Washington, espécie de Meca do movimento. Mais tarde, as moças fixaram quartel-general em Portland, no Oregon. Não me lembro mais ao certo onde escutei esta "A quarter to three" pela primeira vez, talvez como vinheta em algum programa da MTV. Sei que, certamente em 2001, um dos meus melhores amigos em São Paulo, o jornalista Felipe Gutierrez, me emprestou o quarto álbum da banda, chamado The Hot Rock (1999), quando comentei com ele sobre esta canção que andava me obcecando. O álbum, que é ótimo, termina justamente com a canção "A quarter to three".
Por aquela época, já estava organizando com Gutierrez uma festa de indie rock todas as quartas-feiras, no clube Matrix (ainda existe?), na Rua Aspicuelta (Vila Madalena). A festa se chamava Gum! (o nome completo da festa era, em típica arrogância indie, "Spooning Good Singing Gum", como na canção dos Cocteau Twins). Lá na festa, ao discotecar, sempre incluía esta "A quarter to three", que ainda é uma das minhas all-time-favorites:
Não sei ao certo quem escreve os textos na banda. Se tivesse que chutar, diria que é a vocalista Corin Tucker. Mas como Carrie Brownstein tem hoje uma carreira consolidada também como jornalista e escritora, é possível que fosse ela a letrista, ou que Tucker e Brownstein trabalhassem em conjunto. De qualquer maneira, o texto de "A quarter to three" é muito legal.
A quarter to three
It's 1 a.m.
You haven't called
It must be four
Wherever you are
And the photobooth strip
And the letter you wrote
They feel like nothing
I could hold
Nothing bad, nothing free
There's nothing left
For me to feel
It's like going to bed
At a quarter to three
Finally tired, finally empty
Should I be up
To play the game?
Back and forth
Get back at me
And my confidence fell
And I feel so mad
Tell me
Whose side are you on?
Nothing bad, nothing free
There's nothing left
For me to feel
It's like going to pieces
Could fix everything
At this point I'm really me
A banda tem um único vídeo oficial, para uma canção do mesmo álbum em que saiu "A quarter to three", dirigido por ninguém menos que Miranda July. O nome da canção é "Get up".
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Por aquela época, já estava organizando com Gutierrez uma festa de indie rock todas as quartas-feiras, no clube Matrix (ainda existe?), na Rua Aspicuelta (Vila Madalena). A festa se chamava Gum! (o nome completo da festa era, em típica arrogância indie, "Spooning Good Singing Gum", como na canção dos Cocteau Twins). Lá na festa, ao discotecar, sempre incluía esta "A quarter to three", que ainda é uma das minhas all-time-favorites:
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"A quarter to three", da banda Sleater-Kinney, no álbum The Hot Rock (1999).
Não sei ao certo quem escreve os textos na banda. Se tivesse que chutar, diria que é a vocalista Corin Tucker. Mas como Carrie Brownstein tem hoje uma carreira consolidada também como jornalista e escritora, é possível que fosse ela a letrista, ou que Tucker e Brownstein trabalhassem em conjunto. De qualquer maneira, o texto de "A quarter to three" é muito legal.
A quarter to three
It's 1 a.m.
You haven't called
It must be four
Wherever you are
And the photobooth strip
And the letter you wrote
They feel like nothing
I could hold
Nothing bad, nothing free
There's nothing left
For me to feel
It's like going to bed
At a quarter to three
Finally tired, finally empty
Should I be up
To play the game?
Back and forth
Get back at me
And my confidence fell
And I feel so mad
Tell me
Whose side are you on?
Nothing bad, nothing free
There's nothing left
For me to feel
It's like going to pieces
Could fix everything
At this point I'm really me
A banda tem um único vídeo oficial, para uma canção do mesmo álbum em que saiu "A quarter to three", dirigido por ninguém menos que Miranda July. O nome da canção é "Get up".
Vídeo para a canção "Get up" da banda Sleater-Kinney, dirigido por Miranda July.
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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
A insônia mais produtiva dos últimos três meses: poema novo, "Cartografia do cobertor em uma cama de casal", que me deixou exausto e agora durmo.
Cartografia do cobertor em uma cama de casal
O cobertor não
parecia distribuído
de forma justa
entre nossos dois corpos
em concha,
e protestei contra sua falta
de percepção para as simetrias
necessárias em uma relação,
quando ele, sorrindo, voltou
o rosto em rota de colisão
com o meu e asseverou
que tampouco os pulmões
têm o mesmo tamanho,
mas que o esquerdo
seria menor
para dar espaço ao coração,
que ele, antilírico,
chamou de miocárdio,
e esta resposta,
que ele só pôde
articular graças
à cooperação
de tantos órgãos e músculos,
incluindo os seus próprios
pulmões,
o direito e seu lhano
e magnânimo
parceiro à esquerda,
não causaram em mim qualquer
ostranenie por seu non sequitur
mas sim uma curtíssima
pausa
respiratória, como se eu tivesse,
agora, que pensar duas vezes
antes de encher estes dois balões
assimétricos
que doravante exigirão de mim todas
as minhas convicções
democráticas, demográficas,
e imediatamente virei meu rosto,
em minha tática
habitual de evitar que ele mantenha
sobre meu crânio um ângulo
de olhar prolongado demais, por medo
que ele finalmente perceba
como são assimétricos, não
meus pulmões, mas os dois
pedaços do meu próprio rosto
que eu nem sequer ouso
chamar de metades
em suas proporções frankenstoicas,
com estas cicatrizes
deixadas pela acnóstica
tempestade de hormônios
de minhas glândulas pubertárias
sem qualquer noção de sobriedade,
fazendo de minha cara uma Lua,
lado visível, lado escuro
e suas crateras, Mare
Tranquillitatis aqui, Oceanus
Procellarum logo
ao lado, estas minhas narinas
e suas veias de drenagem
para o aparelho lacrimal,
que mais assemelham-se
àquelas tais Torres
enganosamente propagandeadas
como gêmeas, e que, vejam só,
também ruíram,
do pó vindo e ao pó voltando,
tal qual este queixo e nariz
desconjuntado,
ligado aos pulmões siameses
que ele ora informa-me
não serem idênticos,
um dia também hão
de ruir e decompor-se,
deixando, como herança
para este legista
das minhas ingenuidades,
um esqueleto
também pouco simétrico
em seus côncavos e convexos,
mas que doam a ele esta noite
todos os prazeres de suas bifurcações,
nesta cama, sob este cobertor
repartido
como se fosse um país
extático, feudal e multiétnico.
Ricardo Domeneck, madrugada insone de 28 de janeiro de 2011, aniversário do nascimento e morte de Marcel Broodthaers.
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Brian Kenny na Hilda Magazine e outras recomendações aos amigos, de filmes, poetas e preocupações
Algumas sugestões e recomendações aos amigos e leitores deste espaço.
Postamos alguns trabalhos recentes do jovem artista americano BRIAN KENNY (n. 1982) na Hilda Magazine, de sua série "Targets". Brian Kenny pertence a uma geração de artistas que cresceu e educou-se num mundo no qual a internet era já uma realidade, o que me parece claramente perceptível em seu trabalho e metodologia. Um dos jovens ícones da cena gay subterrânea nova-iorquina (em tempos de redes sociais, portanto global) o trabalho dele gera reações de vários tipos. As mensagens de descontentes já chegaram às caixas postais de nossa microscópica redação, assim como disparou o número de visitantes. Em minha leitura, seu trabalho expõe certas relações de poder, conectando de forma erótica símbolos de militarismo e policiamento a uma espécie de iconografia pornográfica. Sua abordagem crítica é ambígua, o que talvez incomode algumas pessoas.
Brian Kenny nasceu em 1982, em uma base militar americana na Alemanha. Quando criança, viajou e mudou-se com o pai, militar de carreira, e sua família por muitas bases na Europa e Estados Unidos, vivendo dentro deste ambiente de controle e poder que ele passaria a rever em seu trabalho. Vive e colabora há anos com seu namorado, o fotógrafo e poeta dissidente russo Slava Mogutin (n. 1974), formando o duo SUPERM. Já expôs em Nova Iorque, Berlim, Moscou e Tóquio.
Recomendo a leitura do ensaio "A revolução acabou. Começa a idade da revolta", do italiano Marco Belpoliti, traduzido por Eduardo Sterzi e publicado no número 43 da revista eletrônica Sopro, que se autodenomina panfleto político-cultural, ligado ao espaço Cultura e Barbárie. O artigo é muito bom, levantou ótimas perguntas para minha cabeçoila. Em outros números da revista é possível ler textos de Giorgio Agamben, María Zambrano e Georges Didi-Huberman.
Quem quer que tenha acompanhado este espaço por meros dias já deverá saber de minha preocupação obsessiva com a função histórica do poeta, a relação de seu trabalho com a linguagem e os acontecimentos que a rodeiam. Pois é... quando penso que estou me acalmando e poderei ser feliz escrevendo poemas de amor e dor-de-cotovelo pelo resto dos meus dias (ainda que os mais atentos já tenham percebido como mesmo estes estão eivados de minhas obsessões), algo acontece, não sei dizer o quê, mas é como se o Anjo de Benjamin e o de Rilke resolvessem fazer piquenique e discutir seu namoro no topo da minha cabeça.
De qualquer forma, há os motivos externos, como ter assistido ultimamente a certos filmes latino-americanos, ou o de Semion Aranovich sobre Anna Akhmátova; leituras recentes de livros de Hannah Arendt, Vassily Grossman e Alexander Soljenítsin; estar lendo o livro Servarios (Buenos Aires: Zama, 2005), coletânea de poemas do argentino Julián Axat (n. 1976), presente por correio do poeta carioca Pádua Fernandes (n. 1976, autor de Os Cinco Lugares da Fúria), que, por sua vez, tem discutido largamente em seu blogue a relação do Brasil com sua História recente e os crimes da ditadura. Julián Axat tem um trabalho editorial maravilhoso de recuperação do trabalho de poetas assassinados pela ditadura argentina.
Será mesmo que o Brasil NUNCA punirá os crimes da sua ditadura militar, enquanto a Argentina, por exemplo, já pôs Videla na cadeia pelo resto de seus dias?
Recomendo aos leitores deste espaço que passem pelo Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos, que mantém aberta esta discussão, no País que esquece tudo depois da ressaca do Carnaval.
O novo makar da cidade de Glasgow é a poeta Liz Lochhead (n. 1946). Makar, palavra que segue a mesma ideia de fabbro, o que faz, é o poeta, o bardo, usado antigamente para referir-se a autores escoceses como William Dunbar (1460 – 1520) e Gavin Douglas (1474 – 1522). Em 2002, a cidade de Edimburgo instituiu novamente o posto de makar, seguida por Glasgow. O último makar da cidade foi Edwin Morgan (1920 - 2010), que tem tido certa recepção no Brasil. Talvez tal tradição pareça estranha a um brasileiro, e somos lembrados do poema de Carlos Drummond de Andrade em que ele satiriza as aspirações de poetas municipais. De qualquer forma, Liz Lochhead é uma poeta com uma veia satírica maravilhosa, e tem poemas realmente muito bons. Gosto muito do poema em que ela escreve:
São versos do livro True Confessions and New Clichés (1985), do qual vou tentar traduzir alguns poemas para a Modo de Usar & Co.
Com um dos melhores atores de sua geração, Ryan Gosling (além de incrivelmente bonito e charmoso), e uma atriz competentíssima e talentosa como Michelle Williams, o filme Blue Valentine (2010) foi um dos retratos mais delicados e ao mesmo tempo secos que já vi sobre a dissolução de um relacionamento. Recomendo muito. Gosling está (mais uma vez) impecável e Williams não faz nada feio.
Por hoje é só, pessoal.
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Postamos alguns trabalhos recentes do jovem artista americano BRIAN KENNY (n. 1982) na Hilda Magazine, de sua série "Targets". Brian Kenny pertence a uma geração de artistas que cresceu e educou-se num mundo no qual a internet era já uma realidade, o que me parece claramente perceptível em seu trabalho e metodologia. Um dos jovens ícones da cena gay subterrânea nova-iorquina (em tempos de redes sociais, portanto global) o trabalho dele gera reações de vários tipos. As mensagens de descontentes já chegaram às caixas postais de nossa microscópica redação, assim como disparou o número de visitantes. Em minha leitura, seu trabalho expõe certas relações de poder, conectando de forma erótica símbolos de militarismo e policiamento a uma espécie de iconografia pornográfica. Sua abordagem crítica é ambígua, o que talvez incomode algumas pessoas.
Brian Kenny nasceu em 1982, em uma base militar americana na Alemanha. Quando criança, viajou e mudou-se com o pai, militar de carreira, e sua família por muitas bases na Europa e Estados Unidos, vivendo dentro deste ambiente de controle e poder que ele passaria a rever em seu trabalho. Vive e colabora há anos com seu namorado, o fotógrafo e poeta dissidente russo Slava Mogutin (n. 1974), formando o duo SUPERM. Já expôs em Nova Iorque, Berlim, Moscou e Tóquio.
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Recomendo a leitura do ensaio "A revolução acabou. Começa a idade da revolta", do italiano Marco Belpoliti, traduzido por Eduardo Sterzi e publicado no número 43 da revista eletrônica Sopro, que se autodenomina panfleto político-cultural, ligado ao espaço Cultura e Barbárie. O artigo é muito bom, levantou ótimas perguntas para minha cabeçoila. Em outros números da revista é possível ler textos de Giorgio Agamben, María Zambrano e Georges Didi-Huberman.
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Quem quer que tenha acompanhado este espaço por meros dias já deverá saber de minha preocupação obsessiva com a função histórica do poeta, a relação de seu trabalho com a linguagem e os acontecimentos que a rodeiam. Pois é... quando penso que estou me acalmando e poderei ser feliz escrevendo poemas de amor e dor-de-cotovelo pelo resto dos meus dias (ainda que os mais atentos já tenham percebido como mesmo estes estão eivados de minhas obsessões), algo acontece, não sei dizer o quê, mas é como se o Anjo de Benjamin e o de Rilke resolvessem fazer piquenique e discutir seu namoro no topo da minha cabeça.
De qualquer forma, há os motivos externos, como ter assistido ultimamente a certos filmes latino-americanos, ou o de Semion Aranovich sobre Anna Akhmátova; leituras recentes de livros de Hannah Arendt, Vassily Grossman e Alexander Soljenítsin; estar lendo o livro Servarios (Buenos Aires: Zama, 2005), coletânea de poemas do argentino Julián Axat (n. 1976), presente por correio do poeta carioca Pádua Fernandes (n. 1976, autor de Os Cinco Lugares da Fúria), que, por sua vez, tem discutido largamente em seu blogue a relação do Brasil com sua História recente e os crimes da ditadura. Julián Axat tem um trabalho editorial maravilhoso de recuperação do trabalho de poetas assassinados pela ditadura argentina.
Será mesmo que o Brasil NUNCA punirá os crimes da sua ditadura militar, enquanto a Argentina, por exemplo, já pôs Videla na cadeia pelo resto de seus dias?
Recomendo aos leitores deste espaço que passem pelo Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos, que mantém aberta esta discussão, no País que esquece tudo depois da ressaca do Carnaval.
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O novo makar da cidade de Glasgow é a poeta Liz Lochhead (n. 1946). Makar, palavra que segue a mesma ideia de fabbro, o que faz, é o poeta, o bardo, usado antigamente para referir-se a autores escoceses como William Dunbar (1460 – 1520) e Gavin Douglas (1474 – 1522). Em 2002, a cidade de Edimburgo instituiu novamente o posto de makar, seguida por Glasgow. O último makar da cidade foi Edwin Morgan (1920 - 2010), que tem tido certa recepção no Brasil. Talvez tal tradição pareça estranha a um brasileiro, e somos lembrados do poema de Carlos Drummond de Andrade em que ele satiriza as aspirações de poetas municipais. De qualquer forma, Liz Lochhead é uma poeta com uma veia satírica maravilhosa, e tem poemas realmente muito bons. Gosto muito do poema em que ela escreve:
& just when our maiden had got
good & used to her isolation,
stopped daily expecting to be rescued,
had come almost to love her tower,
along comes This Prince
with absolutely
all the wrong answers.
good & used to her isolation,
stopped daily expecting to be rescued,
had come almost to love her tower,
along comes This Prince
with absolutely
all the wrong answers.
São versos do livro True Confessions and New Clichés (1985), do qual vou tentar traduzir alguns poemas para a Modo de Usar & Co.
§
Com um dos melhores atores de sua geração, Ryan Gosling (além de incrivelmente bonito e charmoso), e uma atriz competentíssima e talentosa como Michelle Williams, o filme Blue Valentine (2010) foi um dos retratos mais delicados e ao mesmo tempo secos que já vi sobre a dissolução de um relacionamento. Recomendo muito. Gosling está (mais uma vez) impecável e Williams não faz nada feio.
Por hoje é só, pessoal.
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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Programa da TV espanhola com reportagem sobre o festival ReVox, com imagens de minha performance
Fui entrevistado por dois programas televisivos espanhóis na noite em que me apresentei em Barcelona, no Instituto Arts Santa Mònica, ao lado de Jelle Meander e Albert Balasch, no Festival ReVox. O programa cultural diário "Miradas 2" da TVE postou há pouco tempo em seu site o programa de 16 de dezembro de 2010, no qual há trechos de minha entrevista, minha performance, assim como trechos da entrevista com Eduard Escoffet, organizador do festival, e com o poeta belga Jelle Meander.
Programa Miradas 2, da TVE, que foi ao ar a 16 de dezembro de 2010. Trechos de entrevistas com Eduard Escoffet, Jelle Meander e comigo, assim como excertos da performance de Meander e da minha.
ReVox es un programa regular para la poesía sonora europea actual. Se celebra desde mayo de 2009 en Barcelona y quiere presentar las voces más destacadas, personales y renovadoras de la joven poesía sonora, es decir, las propuestas poéticas que investigan las posibilidades de los lenguajes más contemporáneos. A partir de 2010, se presenta en Barcelona y Madrid.
El nombre del ciclo proviene del magnetófono utilizado por los pioneros de la poesía sonora a partir de los años cincuenta y sesenta del pasado siglo para editar la voz y desarrollar las bases de la poesía sonora. Y es que esta actividad quiere ser un homenaje a estos poetas avanzados que han abierto nuevas vías para la poesía, pero por encima de todo un escaparate para la poesía de hoy, vinculada a los nuevos medios y los nuevos formatos de escritura, recitación y comunicación. La poesía ya ha demostrado que había mucho terreno fuera del libro; ahora se trata de reivindicar la cotidianeidad de las escrituras que traspasan los reducidos formatos de la imprenta y sus relaciones con las artes contemporáneas. Así pues, en este contexto, ReVox quiere hacer patente cómo la tecnología ayuda a recuperar los orígenes orales y expansivos de la poesía.
La primera edición tuvo lugar el 23 de mayo de 2009, en el marco del festival Barcelona Poesía y con gran éxito de público. Reunió a los poetas Anne-James Chaton (Francia), Jörg Piringer (Austria) y Peru Saizprez (Madrid), que presentaron tres propuestas muy distintas en torno a la experimentación sonora, la poesía digital y la performance poética respectivamente.
La segunda edición, el 3 de diciembre de 2009, reunió tres poetas con un trabajo poético muy conectado con el presente de las artes y la tecnología: el trabajo de cuerpo y voz de Aymeric Hainaux (Francia), los sámplers de Dirk Hülstrunk (Alemania) y los viajes transmentales de la palabra de Martín Bakero (Chile, residente en París).
la tercera y la cuarta edición de ReVox, que tendrán lugar en Arts Santa Mònica y La Fontana (Barcelona) el 14 y el 15 de diciembre y en el Museo Reina Sofía (Madrid) el 16 y 17 de diciembre, respectivamente. ReVox es un programa regular para la poesía sonora europea actual que desde 2009 presenta anualmente dos ediciones con los autores que están definiendo las nuevas formas de crear poesía y experimentar con el sonido. Es la primera vez que el ciclo se presenta también en Madrid.
Para Revox III y IV, seis destacados poetas jóvenes de diferentes ciudades europeas presentarán sus propuestas poéticas, cada una de las cuales contará con dos sesiones. La programación está formada por un bloque central, que será común en Barcelona y Madrid, y un poeta local en cada ciudad, además de la actuación en Madrid de un poeta que ya estuvo presente en Barcelona en 2009.
El poeta francés Anne-James Chaton presentará junto al músico electrónico alemán Alva Noto y el guitarrista de The Ex Andy Moor el proyecto Décade, una confluencia entre voz, electrónica y experimentación que se presenta por primera vez en España y que es la propuesta más destacada de estas dos sesiones de ReVox. También actuarán en Barcelona y Madrid el poeta y DJ brasileño afincado en Berlín Ricardo Domeneck, que mezcla vídeo y poesía, y el poeta y musicólogo belga Jelle Meander, que trabaja en las fronteras de la música y la poesía.
En cuanto a los autores locales, actuarán en Barcelona el poeta Albert Balasch acompañado del guitarrista Hans Laguna y en Madrid el poeta de origen peruano Peru Saizprez, que combina distintos elementos de la performance en sus recitales. Finalmente, Jörg Piringer, un referente internacional de la poesía digital que ya se presentó en ReVox I (Barcelona, mayo 2009), actuará asimismo en la primera sesión de Madrid.
Los poetas que presenta ReVox tienen en común que manipulan la voz, sea con sampleos, efectos o improvisación, y que realizan un trabajo poético que tiene que ser visto y escuchado en directo, que no cabe únicamente en un libro o un CD.
ReVox es el único ciclo dedicado a estas nuevas expresiones de la poesía y la oralidad en general. Como en los inicios de la poesía sonora pero con nuevas herramientas y más eficaces, se quiere ayudar a construir una red dinámica de poetas de alcance europeo y situar Barcelona y Madrid en esta ruta de intercambio poético internacional.
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Programa Miradas 2, da TVE, que foi ao ar a 16 de dezembro de 2010. Trechos de entrevistas com Eduard Escoffet, Jelle Meander e comigo, assim como excertos da performance de Meander e da minha.
ReVox es un programa regular para la poesía sonora europea actual. Se celebra desde mayo de 2009 en Barcelona y quiere presentar las voces más destacadas, personales y renovadoras de la joven poesía sonora, es decir, las propuestas poéticas que investigan las posibilidades de los lenguajes más contemporáneos. A partir de 2010, se presenta en Barcelona y Madrid.
El nombre del ciclo proviene del magnetófono utilizado por los pioneros de la poesía sonora a partir de los años cincuenta y sesenta del pasado siglo para editar la voz y desarrollar las bases de la poesía sonora. Y es que esta actividad quiere ser un homenaje a estos poetas avanzados que han abierto nuevas vías para la poesía, pero por encima de todo un escaparate para la poesía de hoy, vinculada a los nuevos medios y los nuevos formatos de escritura, recitación y comunicación. La poesía ya ha demostrado que había mucho terreno fuera del libro; ahora se trata de reivindicar la cotidianeidad de las escrituras que traspasan los reducidos formatos de la imprenta y sus relaciones con las artes contemporáneas. Así pues, en este contexto, ReVox quiere hacer patente cómo la tecnología ayuda a recuperar los orígenes orales y expansivos de la poesía.
La primera edición tuvo lugar el 23 de mayo de 2009, en el marco del festival Barcelona Poesía y con gran éxito de público. Reunió a los poetas Anne-James Chaton (Francia), Jörg Piringer (Austria) y Peru Saizprez (Madrid), que presentaron tres propuestas muy distintas en torno a la experimentación sonora, la poesía digital y la performance poética respectivamente.
La segunda edición, el 3 de diciembre de 2009, reunió tres poetas con un trabajo poético muy conectado con el presente de las artes y la tecnología: el trabajo de cuerpo y voz de Aymeric Hainaux (Francia), los sámplers de Dirk Hülstrunk (Alemania) y los viajes transmentales de la palabra de Martín Bakero (Chile, residente en París).
la tercera y la cuarta edición de ReVox, que tendrán lugar en Arts Santa Mònica y La Fontana (Barcelona) el 14 y el 15 de diciembre y en el Museo Reina Sofía (Madrid) el 16 y 17 de diciembre, respectivamente. ReVox es un programa regular para la poesía sonora europea actual que desde 2009 presenta anualmente dos ediciones con los autores que están definiendo las nuevas formas de crear poesía y experimentar con el sonido. Es la primera vez que el ciclo se presenta también en Madrid.
Para Revox III y IV, seis destacados poetas jóvenes de diferentes ciudades europeas presentarán sus propuestas poéticas, cada una de las cuales contará con dos sesiones. La programación está formada por un bloque central, que será común en Barcelona y Madrid, y un poeta local en cada ciudad, además de la actuación en Madrid de un poeta que ya estuvo presente en Barcelona en 2009.
El poeta francés Anne-James Chaton presentará junto al músico electrónico alemán Alva Noto y el guitarrista de The Ex Andy Moor el proyecto Décade, una confluencia entre voz, electrónica y experimentación que se presenta por primera vez en España y que es la propuesta más destacada de estas dos sesiones de ReVox. También actuarán en Barcelona y Madrid el poeta y DJ brasileño afincado en Berlín Ricardo Domeneck, que mezcla vídeo y poesía, y el poeta y musicólogo belga Jelle Meander, que trabaja en las fronteras de la música y la poesía.
En cuanto a los autores locales, actuarán en Barcelona el poeta Albert Balasch acompañado del guitarrista Hans Laguna y en Madrid el poeta de origen peruano Peru Saizprez, que combina distintos elementos de la performance en sus recitales. Finalmente, Jörg Piringer, un referente internacional de la poesía digital que ya se presentó en ReVox I (Barcelona, mayo 2009), actuará asimismo en la primera sesión de Madrid.
Los poetas que presenta ReVox tienen en común que manipulan la voz, sea con sampleos, efectos o improvisación, y que realizan un trabajo poético que tiene que ser visto y escuchado en directo, que no cabe únicamente en un libro o un CD.
ReVox es el único ciclo dedicado a estas nuevas expresiones de la poesía y la oralidad en general. Como en los inicios de la poesía sonora pero con nuevas herramientas y más eficaces, se quiere ayudar a construir una red dinámica de poetas de alcance europeo y situar Barcelona y Madrid en esta ruta de intercambio poético internacional.
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domingo, 23 de janeiro de 2011
O impressionante filme de Semion Aranovich sobre a poeta russa Anna Akhmátova
Descobri e assisti ontem à noite ao (realmente excelente) filme The Anna Akhmátova File (1989), do diretor e documentarista soviético Semion Aranovich (1934 - 1995).
Recentemente disponibilizado de forma integral na Rede, The Anna Akhmatova File (1989) segue a vida, obra e conturbadíssimo contexto histórico da poeta russo-ucraniana, autora de Anno Domini MCMXXI e Réquiem. O filme traz fotos e raras cenas da própria poeta, de seu primeiro marido, o também poeta Nikolai Gumiliov (fuzilado em 1921 sob acusação de ser um contra-revolucionário), seus grandes amigos e poetas Alexander Blok (1880 - 1921) e Ossip Mandelshtam (1891 - 1938), discute sua relação e admiração por Boris Pasternak (1890 - 1960), Marina Tsvetáieva e Alexander Soljenítsin (1918 – 2008)), com leituras de seus poemas e diários, justapostos de forma perturbadora a cenas de discursos (e até mesmo descontração) de Joseph Stálin (1878 - 1953) e Nikita Khrushchev (1894 - 1971).
The Anna Akhmatova File foi primeiramente proibido. Com 65 minutos de duração, é competentíssimo ao usar apenas trechos de poemas e diários da Akhmátova, unidos a cenas marcantes da vida russa durante sua existência marcada por tragédias históricas, para criar um retrato tocante e perturbador sobre o destino dos escritores russos durante a Era Soviética.
The Anna Akhmatova File (1989), filme ::: completo ::: de Semion Aranovich (1934 - 1995).
§
de Réquiem (1935 - 1940)
Era no tempo em que só um morto,
contente por estar em paz, sorria.
Como peso morto, Leninegrado
dependurava-se das enxovias.
E quando legiões de condenados
já marchavam loucos e aflitos
e as locomotivas já soltavam
os apitos do breve canto do adeus,
sobre nós gelavam estrelas de morte
e a Rússia inocente se contorcia
sob as cardas de ensanguentadas botas,
sob as rodas negras dos carros sombrios.
Anna Akhmátova,
tradução de Arlindo Correia
§
Anna Akhmátova nasceu a 23 de junho de 1889 em Odessa, então ainda Império Russo, hoje Ucrânia. Com seu primeiro marido, o poeta Nikolai Gumiliov (1886 – 1921), Serguei Gorodetski (1884 – 1967) e ainda Ossip Mandelshtam (1891 - 1938), formou o grupo de vanguarda dos Acmeístas, ligado à tradição do simbolismo russo, em especial à obra de Alexander Blok (1880 - 1921), apenas cerca de uma década mais velho que eles. Anna Akhmátova estreou em livro com Vecher ("Noite"), em 1912, seguido de Chetki ("Rosário") em 1914. O início da Grande Guerra (1914 - 1918), da Revolução Russa (1917) e dos terríveis anos de Guerra Civil (1918 - 1922) põem fim à chamada Era de Prata da Poesia Russa. Alexander Blok adoece e, necessitando de tratamento fora do país, morre a 7 de agosto de 1921 à espera da permissão do governo para viajar, concedida 10 dias depois de sua morte; Nikolai Gumiliov é fuzilado poucos dias depois como contra-revolucionário; Akhmátova e Mandelshtam, considerados poetas "aristocráticos e incompreensíveis para as massas", têm cada vez mais dificuldade de publicar, até que Mandelshtam é preso e condenado a trabalhos forçados no Gulag (mesmo destino de Liev Gumiliov, filho de Akhmátova com o poeta Nikolai Gumiliov), acontecimentos que encontrariam seu memorial em livros de Akhmátova como Anno Domini MCMXXI (1921) e Réquiem, escrito entre 1935 e 1940.
§
Semyon Aranovich nasceu a 23 de julho de 1934, em Derazhnya, na União Soviética. Dirigiu, além deste O Arquivo Anna Akhmátova (1989), outros documentários como Sonata para Viola de Dmitri Shostakovitch (1981) e O Guarda-Costas de Stálin (1990). O diretor morreu em 1995, na Ucrânia.
§
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
"Entre o fogo e a derme", um dos poemas publicados na página "Risco", do jornal carioca O GLOBO.
O poema abaixo, intitulado "Entre o fogo e a derme", foi um dos dois poemas inéditos meus publicados no fim-de-semana passado na página Risco do caderno Prosa & Verso, do jornal carioca O Globo. A página é editada por Carlito Azevedo desde abril de 2010, e já publicou poetas brasileiros contemporâneos como Lu Menezes, Juliana Krapp e Laura Liuzzi, assim como traduções para textos de poetas estrangeiros como os grandes Zbigniew Herbert (Polônia), Yehuda Amichai (Israel) e Saburô Kuroda (Japão).
Entre o fogo e a derme
Como quem sopra
a própria pele antes
para você queimar
melhor, mais
eficaz. Com você,
os pontos da sutura
são auxílio ao corte.
Deito e observo
o prazer com que
você me desinfecta
para proteger,
contra minha tez,
os seus insetos.
Eis-me aqui,
querido, todo pós-
utópico depois
que você confunde
pela centésima vez
sulco e charrua
durante o sexo
ou seu exagero
em buscar no dicionário
antes de me tocar
a etimologia de palavras
como amortecimento.
Quando você fala,
arreganho os ouvidos
e olvidos e Ovídios
e respondo
à attention span
de peixe dourado
que você me dedica
em nossa vida de aquário.
Sei que devo soar,
aos seus ouvidos,
como um conjunto
de erratas e spam.
Resigno-me
como inseto extinto
preso em sua resina.
Os amigos sugerem
que eu deixe o cronômetro
vir coser os lábios
da ferida, enquanto
você seleciona
em random mode
por trilha-sonora
o sonzim dos meus ossos
que engranzam
sob o seu corpo.
Silêncio não
é costureira,
nem na Espanha
onde talvez haja
alguma que atenda
por Martírio ou Remédios,
como numa peça qualquer
de Lorca ou outra louca.
Sinto-me como uma Orca
justiceira ou uma Scarlett O´Hara
sem Tara.
Resta-me a esperança
que arqueólogos futuros
me descubram, soterrado,
fossilizado, esquecido
sob as suas vírgulas.
Hei de voltar, como um vírus
trancafiado nas tumbas
de Tutancâmon ou outra múmia,
devastarei paisagens e populações
à procura dos seus pulmões.
Ricardo Domeneck. Publicado originalmente na página mensal de poesia contemporânea do caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo, a 15 de janeiro de 2011.
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
No qual o poeta, vivo da silva e em sangria desatada, pede perdão ao mestre morto por seus arroubos tragicômicos
No ano dois mil e onze de nossa era,
chamada agora de comum
por motivos politicamente corretos,
na cidade ex-bombardeada de Berlim,
o poeta escreve ao seu mestre eleito.
chamada agora de comum
por motivos politicamente corretos,
na cidade ex-bombardeada de Berlim,
o poeta escreve ao seu mestre eleito.
...............Mestre, dói-me confessar, mas quando li em um de seus poemas tardios que você webernizara-se, mondrianizara-se, foi inevitável e incontrolável pensar: “Este já não pode me ajudar”. Pergunto-me, caso nos houvesse sido dada a oportunidade de compartilhar o oxigênio dos mesmos dias, se teria vergonha deste seu discípulo repetente e repetitivo, discípulo que você mesmo não escolheu, se constrange-lhe agora que meio me douglas-sirkei, eu, todo desejoso de fassbindar-me, olhe, mestre, veja como estou todo almodovaricado.
...............Mestre, perdoe, sei que jamais ganharei o Nobel, talvez mereça um dia um Troféu Imprensa como Poeta B televisivo, mas sei hoje também que o cânone não passa de um equivalente mais prestigioso de um Vale A Pena Ver De Novo, e não me aflijo, pois, ao final das contas pagas, por que gerações futuras haveriam de se importar com nossas tragicomédias individuosas, como esta que ora me ocupa? Elas terão as próprias e nos saquearão como se fôssemos meras bulas de remédios com datas de validade vencidas, ai de nós.
...............Mestre, já não tem volta, traduzi "Ein jeder Engel ist schrecklich" por "toda Ângela Ro Ro é terrível". Piora tudo que em algum bairro do Berlimbo um moço com cabelos em caracóis não telefone há 36 horas, e a memória de todas as perdas passadas deixa uma pessoa em polvorosa, mestre, um hematoma nos glúteos basta para o pavor alérgico de todos os tarsos, metatarsos e dedos, conheço a lhanura das plantas dos pés dos homens, experimentei falanges e tornozelos. Imagino que você ainda nos compreenda, mesmo morto há tanto tempo e de quem talvez nem mesmo pó mais haja, pois, a quem já presenciou o ato de retroacção de sentimentos que se cria irrevogáveis, um dia de ausência é a certeza do sumidouro, da mesma forma como suspeitamos que o sol nascerá amanhã apenas porque o fez todos os dias de nossa vida, mestre, é o Magnum Mysterium.
...............Mestre, se quiser me extirpar dentre os seus parcos discípulos, entenderei, tudo bem, sou um fracasso como cristão e como modernista, pode repreender-me, expulsar-me até, nem precisarei remendar as iniciais no meu uniforme de poeta escolar, sei que Maysa Matarazzo há de me aceitar em seu curso noturno, e de seu amado nome, Murilo Mendes, até poderão permanecer os dois M iniciais em minha saia plissada.
...............Mestre, como eu poderia acalmar-me com blocos simétricos de cores ou palavras se os dias são sete e ímpares, os pratos da balança nunca em equilíbrio e os pulmões são estas bolhas precárias de pânico? A loteria dos dias tão raramente nos bendiz, perdoe-me esta postura nas ruas, esta corcunda, meus ombros suportam todos os breakups do mundo. Quisera ser o gladiador das éticas, o xamã a abrir com xampu místico os portões de Xanadu, o poetóide beijoqueiro que ressuscitasse o amor cortês de medievezas, mas, björkices à parte, contento-me com os ósculos ao espelho, com as alegrias que me caem sobre a cabeça porque os anjos erraram de endereço. Assim e assado, todo maysado em náuseas, sussurro: “Moço, não me quite a paz, não me quite a paz”, e por fim angelizado ronrono para não perturbar o público quando, plúmbeo e com plumas, tudo o que queria era uivar à lua como uma cadela em que a sarna houvesse doado certo tom rosáceo de solteirice aguda.
...............Mestre, o que posso dizer em minha defesa é que em prato que como só cuspo se este mo implora por qualquer fantasia erotizada, cachorro magro nunca fui, sempre comi e então ali fiquei, aos pés do que me alimentara, disposto a lealdades de mouros salvos num deserto, dizendo: “Eis que agora seguir-te-ei até o fim dos teus dias, salvaste-me a vida, sou teu escravoso cravo na lapela, oro para que nossos lábios costurem-se um no outro como se formassem, quando separados, o lábio leporino da mesma pessoa.”
...............Mestre, encontrei enfim um moço com paciência de Jó e potência de Thor, toda antilirice desértica em mim sumiu quando as chuvas regulares da saliva deste despencaram em minha boca, e enquanto houver em cada esquina o perigo do litígio amoroso, enquanto houver a cada aurora o risco do céu cair das bombas, ou de que eles venham todos em uma guirlanda de brechas: dependerei, dependerei, dependerei.
Rocirda Demencock. "No qual o poeta, vivo da silva e em sangria desatada, pede perdão ao mestre morto por seus arroubos tragicômicos", ou "Ricardograma para Murilo Mendes". Berlim, 18 de janeiro de 2011.
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Oh captain, my captain!
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sábado, 15 de janeiro de 2011
Tenho dois poemas inéditos publicados HOJE no caderno PROSA & VERSO do jornal carioca O GLOBO
Tenho dois poemas inéditos publicados hoje no caderno PROSA & VERSO do jornal carioca O Globo, na página RISCO, que traz mensalmente poesia contemporânea brasileira inédita, acompanhada sempre de um poeta estrangeiro. Hoje faço companhia ao português Manuel António Pina. A página é editada por Carlito Azevedo, mais uma contribuição do carioca à divulgação da poesia de hoje do e no país.
Começou em abril de 2010, com poema inédito da carioca Laura Liuzzi e uma tradução do excepcional polonês Zbigniew Herbert, um dos meus poetas favoritos de TODOS OS TEMPOS. Já publicou poetas brasileiros como Lu Menezes, Juliana Krapp e Franklin Alves Dassie, e estrangeiros como o japonês Saburô Kuroda e o israelense Yehuda Amichai.
Estou aqui do outro lado do charco atlântico no inverno berlinense, então comemoro com um tiro de tequila e um chocolate quente.
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Começou em abril de 2010, com poema inédito da carioca Laura Liuzzi e uma tradução do excepcional polonês Zbigniew Herbert, um dos meus poetas favoritos de TODOS OS TEMPOS. Já publicou poetas brasileiros como Lu Menezes, Juliana Krapp e Franklin Alves Dassie, e estrangeiros como o japonês Saburô Kuroda e o israelense Yehuda Amichai.
Estou aqui do outro lado do charco atlântico no inverno berlinense, então comemoro com um tiro de tequila e um chocolate quente.
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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Coração de fã partido com a morte de Trish Keenan esta manhã
Foi anunciada há pouco a morte de Trish Keenan, às nove desta manhã, por complicações de uma pneumonia contra a qual ela lutava já há duas semanas. Algumas fontes têm informado que a pneumonia resultara de uma infecção de gripe suína (H1N1). Keenan foi a letrista e vocalista da banda britânica Broadcast. Seu álbum Tender Buttons, em clara referência a Gertrude Stein (uma das canções do álbum chama-se ainda "Michael A Grammar", brincando com o Arthur A Grammar de Stein) e lançado em 2005, foi um dos trabalhos poético-musicais que mais ouvi nos últimos anos.
Keenan era a letrista e vocalista do grupo, ou seja, sua poeta lírica.
"America´s boy" foi o primeiro poema lírico seu que eu escutei e me apaixonei imediatamente, por sua voz, seu texto, sua música.
America´s boy
Trish Keenan
Quaker toil & Texan oil
Rockets on we're arm in arm
Nasa nude you're manly you
Oi American soldier
America's boy
Gun me down with yankee power
Cock pit tom with army charm
The eagle lands army commands
Oi American soldier
America's boy
Cowboy corn & bugle horn
On son don't post me on
You are dean and me the queen
Oi American soldier
America's boy
Que literatozinho infeliz seria capaz de texto tão conciso, crítico e ao mesmo tempo quase erótico em seu poder de sugestões, unindo símbolos fálicos de poder, militarismo e sexo?
§
Corporeal
Trish Keenan
Under the white chalk
Drawn on the black board
Under the X-ray
I'm just a vertebrate
Do that to me
Do that to my anatomy
Corporeal
Corporeal
We are mankind
We are manikin
With and without mind
With or without Darwin
Classify me
The strings of my autonomy
Corporeal
Corporeal
A thorny red heart
Around a thin arm
Inside a white bone
The love is inborn
Close up to me
Up close to my anatomy
Corporeal
Corporeal
§
Tears in the typing pool
Trish Keenan
Succumb to the line
The finishing time
The long distance runner
Has stopped on the corner
But i won't give up
Although i've stopped too
Before the end of me and you
The patchwork explains
The land is unchanged
Interpret the rooms
My tears in the typing pool
The letters are sighing
The ink is still drying
I told you the truth
And now i sigh too
The page turns on me and you
Across that white plain
The land is unchanged
§
Tender Buttons
Trish Keenan
The coal
The coal light
The callous
The caress
The comb
The calm
The colour
The cortex
The code
The codine
The comma
The context
The collector
The green
The fine
The fall
The financer
The dream
The fen
The fine
The fin
The defend
The fawn
Then do
The coal
The coal light
The colours
The caress
The comb
The calm
The colour
The caress
The cortex
The comb
The codine
The comma
The context
The corpse
The likeness
Die cut
Die cut
Die cut
Die cut
Die cut
Die cut
Die
§
QUERIDOS POETAS, POR FAVOR PAREM DE MORRER.
Keenan era a letrista e vocalista do grupo, ou seja, sua poeta lírica.
"America´s boy" foi o primeiro poema lírico seu que eu escutei e me apaixonei imediatamente, por sua voz, seu texto, sua música.
America´s boy
Trish Keenan
Quaker toil & Texan oil
Rockets on we're arm in arm
Nasa nude you're manly you
Oi American soldier
America's boy
Gun me down with yankee power
Cock pit tom with army charm
The eagle lands army commands
Oi American soldier
America's boy
Cowboy corn & bugle horn
On son don't post me on
You are dean and me the queen
Oi American soldier
America's boy
Que literatozinho infeliz seria capaz de texto tão conciso, crítico e ao mesmo tempo quase erótico em seu poder de sugestões, unindo símbolos fálicos de poder, militarismo e sexo?
§
Corporeal
Trish Keenan
Under the white chalk
Drawn on the black board
Under the X-ray
I'm just a vertebrate
Do that to me
Do that to my anatomy
Corporeal
Corporeal
We are mankind
We are manikin
With and without mind
With or without Darwin
Classify me
The strings of my autonomy
Corporeal
Corporeal
A thorny red heart
Around a thin arm
Inside a white bone
The love is inborn
Close up to me
Up close to my anatomy
Corporeal
Corporeal
§
Tears in the typing pool
Trish Keenan
Succumb to the line
The finishing time
The long distance runner
Has stopped on the corner
But i won't give up
Although i've stopped too
Before the end of me and you
The patchwork explains
The land is unchanged
Interpret the rooms
My tears in the typing pool
The letters are sighing
The ink is still drying
I told you the truth
And now i sigh too
The page turns on me and you
Across that white plain
The land is unchanged
§
Tender Buttons
Trish Keenan
The coal
The coal light
The callous
The caress
The comb
The calm
The colour
The cortex
The code
The codine
The comma
The context
The collector
The green
The fine
The fall
The financer
The dream
The fen
The fine
The fin
The defend
The fawn
Then do
The coal
The coal light
The colours
The caress
The comb
The calm
The colour
The caress
The cortex
The comb
The codine
The comma
The context
The corpse
The likeness
Die cut
Die cut
Die cut
Die cut
Die cut
Die cut
Die
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QUERIDOS POETAS, POR FAVOR PAREM DE MORRER.
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Apropriação, reencenação, paródia: cartazes de dezembro e janeiro da SHADE inc
Convites e cartazes de janeiro 2011 e dezembro 2010 para nosso evento às quartas-feiras, SHADE inc, iniciado em abril de 2010, para substituir a antiga Berlin Hilton. O conceito para os cartazes e convites segue a apropriação, reencenação ou paródia de imagens fotográficas conhecidas do século passado, da arte ou do fotojornalismo. Concebidos e produzidos pelo coletivo SHADE (em ordem alfabética: Daniel Reuter, Niklas Goldbach, Oliver A. Krüger, Ricardo Domeneck e Viktor Neumann), e então fotografados em geral por N. Goldbach ou D. Reuter. A fotografia de dezembro foi feita por Benjamin Schnepp.
Este é um dos meus favoritos, de todos os que já fizemos. Concebido pelo coletivo, foi lindamente executado por Niklas Goldbach, o membro mais visualmente talentoso do nosso grupo, encaixando-se perfeitamente no trabalho est-É-tico que ele vem realizando no seu próprio trabalho pessoal. Veja abaixo excertos do último vídeo de Niklas:
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Clique nas imagens para aumentá-las.
Janeiro de 2011. Concebido pelo coletivo SHADE, fotografado e produzido por Niklas Goldbach.
Para quem não reconhece a foto, veja a original, um retrato de Dean Martin e Jerry Lewis (de 1951), feito pelo incrível Philippe Halsman (1906 - 1979), aqui. Na foto: o próprio Niklas Goldbach.
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Este é um dos meus favoritos, de todos os que já fizemos. Concebido pelo coletivo, foi lindamente executado por Niklas Goldbach, o membro mais visualmente talentoso do nosso grupo, encaixando-se perfeitamente no trabalho est-É-tico que ele vem realizando no seu próprio trabalho pessoal. Veja abaixo excertos do último vídeo de Niklas:
TEN (excerpts) from Niklas Goldbach on Vimeo.
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Dezembro de 2010. Concebido pelo coletivo SHADE, fotografado por Benjamin Schnepp.
Para quem não reconhece a foto, veja a original, retrato famoso do estilista Yves Saint Lauren, aqui. Na foto: Dominic Hauser. Nosso amigo Dominic é bonito demais para que possamos chamar esta foto de "paródia". É uma reencenação... daquelas bem bonitas de se olhar.
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Hoje à noite, Max Hattler (Londres) e Uli Buder (Berlim) como convidados especiais na "SHADE inc"
Quarta-feira, dia do coletivo Shade atacar em Berlim. Esta noite, em nosso desbunde semanal aqui na capital alemã, o artista visual (e um dos melhores VJs da Europa) no comando das imagens na SHADE inc, our own private Cabaret Voltaire no clube Neue Berliner Initiative.
Max Hattler - excerto da premiada animação "Spin"
Seu trabalho consegue fazer política em plena abstração de forma inteligente. A animação "Collision", usando motivos de bandeiras islâmicas e da americana, parece-me um exemplo emblemático neste sentido.
Max Hattler - "Collision"
Max Hattler vive em Londres e já mostrou seu trabalho nos maiores festivais do continente.
Max Hattler - "1925 a.k.a. Hell", inspirado pelo trabalho de Augustin Lesage (1876 - 1954)
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Max Hattler - "1923 a.k.a. Heaven", inspirado pelo trabalho de Augustin Lesage (1876 - 1954)
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Max Hattler - "Drift"
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Enquanto ele cuida do visual, meu querido amigo e talentosíssimo músico Uli Buder, que se apresenta com o codinome Akia, estará cuidando do sonoro.
Uli Buder, mais conhecido como Akia - "Kuku"
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Hoje à noite, na SHADE inc.
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Hoje à noite, na SHADE inc.
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terça-feira, 11 de janeiro de 2011
A artista visual e interventora urbana NÉLE AZEVEDO na Hilda Magazine
Há alguns meses, a mineira Néle Azevedo apresentou em Berlim sua intervenção urbana conhecida como "Monumento Mínimo", na qual homúnculos de gelo são postos em escadarias e monumentos urbanos de grandes cidades, levando-nos por implicação a meditar sobre nossa relação com a memória e História "públicas", entre outras possíveis implicações políticas. Para mim, é um exemplo belo, inteligente e delicadíssimo de intervenção est-É-tica. Parece-me um daqueles exemplos de trabalhos que atingem o exuberante pelo ascético, o vertiginoso pelo simples. Pessoalmente, encontro na meditação a que este trabalho me incita várias implicações para o trabalho lírico contemporâneo.
Convidei Néle Azevedo para mostrar este seu trabalho na Hilda Magazine. Estou feliz que ela aceitou e que agora alguns de vocês também podem conhecê-lo, se já não o conhecem:
NÉLE AZEVEDO na Hilda Magazine
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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Deliciando-se com referências, este esporte para poucos: uma epifania de domingo, envolvendo Laurence Olivier e Morrissey
Em minha visita diária à locadora do bairro, trouxera uma produção inglesa de 1972, em grande parte pelo nome do diretor: Joseph L. Mankiewicz (1909 – 1993), o que em geral é garantia suficiente de bom cinema, mas o elenco trazia também Laurence Olivier e Michael Caine, com uma prometida batalha de chistes (aquele esporte inglês de wit) neste que é o último filme de Mankiewicz. O diretor americano é um dos meus favoritos. Ora, bastaria que ele houvesse filmado tão-somente o clássico estupendo que é All About Eve (1950) para que eu o venerasse. Mas ele é também o diretor de outros oásis divescos como A Letter to Three Wives (1949), The Barefoot Contessa (1954), Guys and Dolls (1955) e aquele fracasso formidável e exuberante que foi Cleopatra (1963), que o arruinou. Por tudo isso, eu até o perdoei por aquele Suddenly, Last Summer (1959) e sua homofobia velada. O filme, de qualquer forma, acaba sendo um ótimo thriller, já que Mankiewicz era o gênio que era.
Sleuth (1972) é mesmo divertidíssimo. Pelo que li a respeito, é baseado numa peça homônima premiada de Anthony Shaffer (1926 – 2001), um autor de peças e romances de mistério. Sleuth é ao mesmo tempo uma ótima comédia e bom filme de suspense, e ainda veículo excelente para o talento de Laurence Olivier (que eu jamais imaginei pudesse ser tão engraçado) e Michael Caine.
Trailer para o filme Sleuth (1972), de Joseph L. Mankiewicz.
Por fim, em um dos momentos em que a comédia se transforma em tragédia e desta em farsa, a personagem de Laurence Olivier começa uma torrente de impropérios contra a personagem de Michael Caine, listando os motivos pelos quais o odeia, e, entre eles, este:
__ "You are a jumped-up pantry boy who never knew his place."
Ah! Epifania de adolescente indie! Não, querido, não índio. Indie, classe social algo esnobe e ridícula à qual já pertenci e de certa forma ainda pertenço, provavelmente não se escapa dela. Uma definição? Ai, que difícil, somos criaturinhas urbanas que se deliciam em conhecer bandas obscuras de pequenos selos musicais, os tais de independentes, que podem na verdade vir do pós-punk industrial britânico ou de bandinhas de garagem americanas que tocam em estações de rádio universitárias. ANTES de indie se tornar uma espécie de gênero em si, especialmente entre pessoas mais jovens, digamos, que acreditam que este começou quando Julian Casablancas primeiro viu um microfone. Ufa... não leve a mal este desabafo de fã musical começando seu leve declínio adiposo e capilar.
De qualquer forma, voltemos à epifania intertextual.
Ora, para uma criaturete que foi adolescente quando eu fui e sofreu, entre quatro paredes, com a trilha sonora que a mim serviu de acompanhamento musical para tragédias amorosas tardo-infantis seria impossível não reconhecer imediatamente esta sequência de palavras! Oh, Morrissey, sua diva esnobe!
"This Charming Man", canção dos Smiths, letra de Steven Patrick Morrissey.
Não é apenas uma das canções mais importantes da minha adolescência, uma espécie de código pessoal que eu cantava pela casa enquanto meus pais monolíngues não percebiam o que exatamente eu estava lhes revelando. Eu sempre considerei este texto excelente em sugestão e economia de meios na descrição de uma cena.
This Charming Man
Steven Patrick Morrissey
Punctured bicycle
On a hillside desolate
Will nature make a man of me yet?
When in this charming car,
This charming man.
Why pamper life's complexity
When the leather runs smooth
On the passenger seat?
I would go out tonight
But I haven't got a stitch to wear
This man said:
"It's gruesome that someone so handsome should care"
A jumped up pantry boy
Who never knew his place
He said "return the ring"
He knows so much about these things
Há todo um affair descrito aqui, do começo ao fim, até mesmo com suas cenas de crueldade, flerte e ofensa separados por um refrão. Não são assim nossos relacionamentos, tantos deles, flerte e ofensa separados apenas por um refrão? Mesmo assim, como sonhei com esta cena, como quis esquecer todas as complexidades da existência por alguns segundos enquanto meus dedos afagassem o couro no assento do passageiro de um carro qualquer, correndo pela estrada deserta, admirando os braços de macho ao volante, pensando "quando eu crescer, quero ser como this charming man."
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Sleuth (1972) é mesmo divertidíssimo. Pelo que li a respeito, é baseado numa peça homônima premiada de Anthony Shaffer (1926 – 2001), um autor de peças e romances de mistério. Sleuth é ao mesmo tempo uma ótima comédia e bom filme de suspense, e ainda veículo excelente para o talento de Laurence Olivier (que eu jamais imaginei pudesse ser tão engraçado) e Michael Caine.
Trailer para o filme Sleuth (1972), de Joseph L. Mankiewicz.
Por fim, em um dos momentos em que a comédia se transforma em tragédia e desta em farsa, a personagem de Laurence Olivier começa uma torrente de impropérios contra a personagem de Michael Caine, listando os motivos pelos quais o odeia, e, entre eles, este:
__ "You are a jumped-up pantry boy who never knew his place."
Ah! Epifania de adolescente indie! Não, querido, não índio. Indie, classe social algo esnobe e ridícula à qual já pertenci e de certa forma ainda pertenço, provavelmente não se escapa dela. Uma definição? Ai, que difícil, somos criaturinhas urbanas que se deliciam em conhecer bandas obscuras de pequenos selos musicais, os tais de independentes, que podem na verdade vir do pós-punk industrial britânico ou de bandinhas de garagem americanas que tocam em estações de rádio universitárias. ANTES de indie se tornar uma espécie de gênero em si, especialmente entre pessoas mais jovens, digamos, que acreditam que este começou quando Julian Casablancas primeiro viu um microfone. Ufa... não leve a mal este desabafo de fã musical começando seu leve declínio adiposo e capilar.
De qualquer forma, voltemos à epifania intertextual.
Ora, para uma criaturete que foi adolescente quando eu fui e sofreu, entre quatro paredes, com a trilha sonora que a mim serviu de acompanhamento musical para tragédias amorosas tardo-infantis seria impossível não reconhecer imediatamente esta sequência de palavras! Oh, Morrissey, sua diva esnobe!
"This Charming Man", canção dos Smiths, letra de Steven Patrick Morrissey.
Não é apenas uma das canções mais importantes da minha adolescência, uma espécie de código pessoal que eu cantava pela casa enquanto meus pais monolíngues não percebiam o que exatamente eu estava lhes revelando. Eu sempre considerei este texto excelente em sugestão e economia de meios na descrição de uma cena.
This Charming Man
Steven Patrick Morrissey
Punctured bicycle
On a hillside desolate
Will nature make a man of me yet?
When in this charming car,
This charming man.
Why pamper life's complexity
When the leather runs smooth
On the passenger seat?
I would go out tonight
But I haven't got a stitch to wear
This man said:
"It's gruesome that someone so handsome should care"
A jumped up pantry boy
Who never knew his place
He said "return the ring"
He knows so much about these things
Há todo um affair descrito aqui, do começo ao fim, até mesmo com suas cenas de crueldade, flerte e ofensa separados por um refrão. Não são assim nossos relacionamentos, tantos deles, flerte e ofensa separados apenas por um refrão? Mesmo assim, como sonhei com esta cena, como quis esquecer todas as complexidades da existência por alguns segundos enquanto meus dedos afagassem o couro no assento do passageiro de um carro qualquer, correndo pela estrada deserta, admirando os braços de macho ao volante, pensando "quando eu crescer, quero ser como this charming man."
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sábado, 8 de janeiro de 2011
Poemas na antologia mexicana "Porque El País No Alcanza: Poesía Emigrante de la América Latina" (Ciudad de México: Billar de Lucrécia, 2010)
Foi publicada há pouco no México a antologia Porque El País No Alcanza: Poesía Emigrante de la América Latina (Ciudad de México: Billar de Lucrécia, 2010), que traz poetas latino-americanos vivendo fora de seus países ou em constante diáspora, para quem a migração por fronteiras e o questionamento de noções de cidadania e pertencimento acabam por se tornar elementos vitais. Tenho alguns poemas incluídos no volume, com tradução para o castelhano do poeta argentino Cristian De Nápoli. Sou o único brasileiro na antologia, que traz vários mexicanos, onde naturalmente a questão de migração por fronteiras assume um caráter tão determinante. O volume tem seleção e apresentação do poeta alemão Timo Berger e prólogo de Héctor Villarreal. O livro encerra o projeto editorial mexicano Billar de Lucrécia e inclui os seguintes autores:
Omar Pimienta (Tijuana, 1978)
Alejandro Tarrab (Ciudad de México, 1972)
Maricela Guerrero (Ciudad de México, 1977)
Alejandro Zambra (Santiago de Chile, 1975)
Miguel Ildefonso (Lima, 1970)
Cristino Bogado (Asunción, 1967)
Cecilia Pavón (Mendoza, 1973)
Matías Moscardi (Buenos Aires, 1983)
Sayak Valencia (Tijuana, 1980)
Julio Espinosa Guerra (Santiago de Chile, 1974)
Diego Palmath (Lima, 1977)
Edgardo Dobry (Rosario, 1962)
Milagros Salcedo-Roguet (Lima)
Rery Maldonado (Tarija, Bolivia, 1976)
Ricardo Domeneck (São Paulo, 1977)
Lalo Barrubia (Montevideo, 1967)
Roxana Crisólogo (Lima, 1966)
Jennifer Adcock (Monterrey, 1982)
Rogelio Guedea (Colima, 1974)
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terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Aprendendo a fazer drama com os melhores: Lição 3: Como adentrar o habitat da concorrência
Rocirda Demencock segue aqui com seu manual cine-ilustrativo
sobre as melhores formas de fazer drama, em lições pontuais,
tomadas dos mestres.
§
Lição 3: Como adentrar o habitat da concorrência
Lição teórica de Ricardo Domeneck, poeta e mula.
sobre as melhores formas de fazer drama, em lições pontuais,
tomadas dos mestres.
Lição 3: Como adentrar o habitat da concorrência
É incrível como muitas das lições vêm condensadas em filmes irmanados. Alguns filmes são fontes inesgotáveis de aprendizagem para o seu melodrama pessoal e intransferível de pessoa física, querido leitor e leitora. Com alguns trabalhos do cinema, seria possível escrever manuais inteiros. No entanto, talvez a cena mais condensada para esta lição, sobre como entrar no recinto onde está presente sua concorrência (especialmente se estivermos falando de uma concorrente vitoriosa), está em Gone With The Wind (1939), na cena em que Scarlett O´Hara é forçada por Rhett Butler a ir ao aniversário de Melanie (Hamilton) Wilkes logo após ter sido flagrada aconchegando-se ao torso de Ashley Wilkes, seu príncipe encantado, mas casado com Melanie.
Lição prática e ilustrativa de Scarlett O´Hara, esposa três vezes, viúva duas, noiva eterna.
A personagem Scarlett O´Hara, interpretada por Vivien Leigh, no aniversário de sua concorrente Melanie Hamilton, interpretada por Olivia de Havilland em Gone With The Wind (1939).
§
Lição 3: Como adentrar o habitat da concorrência
Lição teórica de Ricardo Domeneck, poeta e mula.
§ - Sendo ou não, cruze o umbral tão-somente se houver se convencido de que todos os orifícios de seu corpo são mais desejáveis que o de sua concorrente.
§ - Para isso, qualquer método é legítimo, dos fornecedores de autoestima conhecidos como Chanel e Prada, à macumba diante do espelho e os banhos de água com açúcar.
§ - Que cor usar? Não importa a sua preferida, mas qualquer uma que apague ainda mais aquela sonsa que, sem brilho, venha a delir-se ao seu lado.
§ - Por fora, uma mestiçagem de Magdalena Frackowiak com Naomi Campbell, Bündchen-Moss; por dentro, uma Rainha de Copas louca e mais que pronta para decapitar Alice, Malévola querendo presentear Aurora com o coma.
§ - Saudações nos lábios, maldições na mente.
§ - Só se adentra tal recinto como se encarnasse uma pessoa jurídica, nunca mera pessoa física, não, você é CEO, Chief Executive Officer do seu Ego.
§ - Você é um corpo e seu amor uma Corporação.
§ - Roube a cena e a ceia, que cada um veja você como o prato principal.
§ - Em sua boca, coloque uma foto dela dissolvendo-se, como se você fosse um sapo de boca costurada.
§ - Bonecos e agulhas são obsoletos, o voodoo você pratica com olhares e sobrancelhas, espete sua concorrente com seus cílios como se ela fosse apenas uma boneca de palha.
§ - Diante da sua determinação em conseguir o que quer e quer e quer, ela é mesmo apenas uma boneca de palha.
§ - O momento para mimos de princesa passou, a esta altura do campeonato melhor acionar o módulo Jezebel.
§ - Oblíqua, oblíqua e dissimulada são tudo o que eles merecem de sua lista de adjetivos.
§ - Como uma ovelha você dá seus passos firmes sala adentro, em verdade toda lupina, até que eles vejam pelúcia onde você nutre e cresce bombril.
§ - Culpada, culpada até que provem o contrário.
§ - Faça-os engolir o veredito e você, desça seus esôfagos com as unhas em riste.
§ - Aos amigos impertinentes, diga: "Às vezes, o que os mansos herdam é a guerra".
§ - Ao fim da festa, quando a concorrente perguntar a você se quer levar um pedaço de bolo para casa, responda-lhe que sim e que embrulhe o homem concorrido junto.
§§§
Lição 3: Como adentrar o habitat da concorrência
Lição prática e ilustrativa ALTERNATIVA: Malévola, bruxa e milf recalcada.
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domingo, 2 de janeiro de 2011
O questionário de João Filho à maneira de João Condé, com alguns comentários
Há alguns meses, o prosador e poeta bahiano João Filho (Bom Jesus da Lapa, Bahia, 1975) me perguntou se eu toparia responder as perguntas dos seus Arquivos Implacáveis, à Maneira de João Condé. Mais tarde, ele postou as respostas em seu blogue, chamado Voo Sem Pouso. Você o conhece? Escrevi sobre o trabalho de João Filho neste espaço, por ocasião do lançamento de seu livro de contos Ao longo da linha amarela (2009). Como fiz ao responder as perguntas do Questionário Dourado, de Jorge Wakabara, reproduzo aqui as perguntas e respostas, com alguns comentários a algumas.
ARQUIVOS IMPLACÁVEIS (de João Filho). À maneira de João Condé.
Nome:
Ricardo Domeneck
Onde nasceu e a data:
No município paulista de Bebedouro, no dia 4 de julho de 1977.
COMENTÁRIO: Às vezes me pergunto o quanto ter nascido naquela cidade me marca. Para alguns poetas brasileiros, seu local de nascimento torna-se mítico. É claro que isso depende da própria poética do autor. É natural que um poeta como Carlos Drummond de Andrade tenha feito de Itabira do Mato Dentro uma das cidades míticas do Brasil, pelo menos entre poetas. Ao mesmo tempo, para mencionarmos um contemporâneo e conterrâneo seu: quantas pessoas saberiam dizer onde nasceu Murilo Mendes? As cidades mais declaradamente marcantes em minha vida foram cidades de eleição: São Paulo e Berlim. No entanto, alguns dos poemas em Carta aos Anfíbios foram escritos em 2002, enquanto estava em Bebedouro, passando alguns meses com meus pais.
É casado, tem filhos?
Separado, sem filhos.
COMENTÁRIO: Não tenho filhos, mas gostaria de tê-los, gostaria muito de transmitir a outra criatura o legado de nossa _______________ (Preencha a lacuna com a coisa mais feliz e positiva que lhe parece encher a existência).
Altura:
1,84
COMENTÁRIO: No Brasil isso é considerado "alto". Lembro daquela descrição que ouvia nos anos 80 sobre o homem de 1 metro e oitenta como o supra-sumo da perfeição. Após viver por alguns anos entre gigantes germânicos (vários amigos meus aqui beiram os 2 metros de altura), passei a achar engraçada a descrição.
Peso:
60 kg
Número dos sapatos:
41
Prato preferido, bebida e jogo:
Bife com arroz e salada de tomate. Ou baião-de-dois. Tequila, porque é a única que não me deixa de ressaca. Quanto ao jogo, começo a me entediar cerca de 5 minutos depois de começar qualquer um, seja de cartas ou tabuleiro.
COMENTÁRIO: Pode ficar parecendo jogueteio de quem quer soar "simples", mas apesar de ter desenvolvido alguns hábitos culinários exóticos aqui na Alemanha, ainda gosto e prefiro certas comidas da infância.
Gosta de cinema, teatro, quais prefere?
Posso dizer, creio, que prefiro cinema, em tela de qualquer tamanho. Não poderia contar quantas experiências importantes tive no cinema. Cito duas: O sétimo selo, de Bergman, visto em um cinema de São Paulo aos 20 anos;
outra: La pianiste, de Michael Haneke, visto 11 vezes no cinema, filme por que fiquei obcecado por algum tempo.
As experiências inesquecíveis em teatro foram menos frequentes, mas cito uma: Vozes dissonantes, da Denise Stoklos.
COMENTÁRIO: Eu poderia haver citado outros filmes. O de Bergman foi simplesmente um momento de descoberta do cinema em São Paulo, com 20 anos, quando comecei a ver filmes de gente como o sueco, ou Godard, Pasolini, Tarkóvski. Alguns filmes estão tão marcados na minha mente que sua influência é totalmente vital. Poderia ter mencionado Não Amarás, de Kieslowski; O Espelho, de Tarkóvski; ter assistido a Éloge de l´amour, de Godard, na telona do cinema; ou, para falar de um filme recente, o mais novo trabalho de Darren Aronofsky, sobre o qual ainda pretendo escrever aqui, Black Swan, com uma performance radiante de Natalie Portman.
Poeta e prosador preferido:
Tendo que escolher um, menciono o mestre que elegi para mim mesmo: Murilo Mendes.
COMENTÁRIO: O poema "Janela do caos" ainda é uma das pedras de toque de tanto que aprendi sobre poesia.
Três primeiros movimentos de "Janela do caos"
1
Tudo se passa
Num Egito de corredores aéreos,
Numa galeria sem lâmpadas
À espera de que Alguém
Desfira o violoncelo
_ Ou teu coração?
Azul de guerra.
2
Telefonam embrulhos,
Telefonam lamentos,
Inúteis encontros,
Bocejos e remorsos.
Ah! Quem telefonaria o consolo,
O puro orvalho
E a carruagem de cristal.
3
Tu não carregaste pianos
Nem carregaste pedras,
Mas em tua alma subsiste
- Ninguém se recorda
E as praias antecedentes ouviram -
O canto dos carregadores de pianos,
O canto dos carregadores de pedras.
Não tenho prosador favorito, a preferência oscila entre Machado de Assis e Dostoiévski, Beckett e Hilst. O último que me impressionou foi Bolaño.
COMENTÁRIO: A menção a Machado de Assis e Fiódor Dostoiévski talvez pareça estranha a quem conhece meu trabalho, referências talvez não muito óbvias. Talvez deva qualificar um pouco as escolhas. Considero Machado importante e central para o que queiramos fazer hoje no Brasil. Há um poder de alusão e implicação, uma sutileza nele, que me parecem simplesmente exemplares. Como na passagem em que Sofia cai do cavalo em Quincas Borba. Aquele capítulo é para mim de uma perfeição inigualável em sugestão. Já Dostoiévski, na verdade, teve um impacto gigante em mim por causa de um romance específico. A verdade é que não gosto de quase nada mais que li do russo, com exceção do magnífico Os Irmãos Karamazov. Aquele romance está nas minhas entranhas desde que o li. Aliosha é uma das minhas personagens masculinas favoritas no mundo literário. As escolhas de Beckett e Hilst são mais óbvias, talvez. Dentre os "novos", Bolaño segue me parecendo um milagre. Mas ainda tenho que ler alguns americanos como David Foster Wallace, Jonathan Franzen e alguns outros.
Tipo de música e músico preferido:
Qualquer uma, desde que tenha letra e esta seja cantada por uma mulher: Beth Gibbons ou Billie Holiday, Björk ou Elis Regina, Kate Bush ou Chan Marshall.
Entre os compositores clássicos: Schubert.
Qual pintor preferido?
Meus pintores favoritos são dois videoartistas: Douglas Gordon e Péter Forgács.
COMENTÁRIO: Mais uma vez, não é jogueteio. É claro que há a decisão aqui est-É-tica de mencionar videoartistas onde João Filho me perguntou por pintores. Como foi a única pergunta em que ele mencionou as artes visuais, precisei escolher est-é-ticamente. Poderia, é claro, ter mencionado Jean Dubuffet, por exemplo, um pintor que amo; mas hoje dirijo meus olhos em geral para outras práticas.
Qual a cor predileta?
A quantidade de roupas sujas azuis espalhadas no chão do meu quarto deve indicar essa cor como a favorita, mesmo que inconsciente.
Quando escreveu seu primeiro texto?
Aos 12 anos, creio.
Dos seus livros publicados qual o preferido e por quê?
O primeiro, Carta aos anfíbios, porque aquela alegria difícil e meio inocente de terminar o primeiro livro nunca mais volta.
COMENTÁRIO: Isso é difícil de responder. A resposta acima me pareceu plausível. Ao mesmo tempo, gosto do último que publiquei por motivos muito diferentes. No entanto, hoje teria que responder que o livro de que mais gosto é o que estou escrevendo agora.
Se pudesse recomeçar a vida o que desejaria ser?
Ser capaz de compor música é a única coisa que desejaria acrescentar ao que já sou e tenho.
Seu principal defeito:
Ciumento, muito, muito ciumento. Muito.
COMENTÁRIO: Algo que já tomou tanta energia minha e o qual, ao mesmo tempo, contraditoriamente doou-me meu poema mais conciso.
Sua principal virtude:
Lealdade extrema aos amigos, o que às vezes pode ser um defeito quando é cega.
Coleciona alguma coisa?
Cruzar rios. Da forma como João Cabral relata sobre Murilo Mendes em um poema.
Algum hobby?
Na verdade, eu tenho a imensa sorte de viver do dinheiro ganhado com meu hobby: trabalho como DJ.
Uma ou duas grandes emoções em sua vida?
Receber o sim da editora que publicou meu primeiro livro. Receber o sim da editora que publicou o segundo.
É crente ou ateu?
Crente. A resposta à próxima pergunta indicará o quanto e como.
Três livros que mudaram sua vida ou, se não mudaram, mas tocaram fundo:
Teria que citar cinco - O Livro de Jó; Do sentimento trágico da vida, do Miguel de Unamuno; Os Irmãos Karamazov, do Dostoiévski; Investigações filosóficas, do Wittgenstein; Qadós, da Hilda Hilst. Parece-me mais que necessário mencionar também o que mais me divertiu e mais me fez rir em público, nos ônibus e trens de Berlim: o delicioso The Autobiography of Alice B. Toklas, da Gertrude Stein.
COMENTÁRIO: Outra vez, difícil fazer uma lista. Relendo esta hoje, fiquei pensando em tantos outros livros que me transformaram, como A Maçã no Escuro, da Clarice; Fragmentos de um Discurso Amoroso, do Barthes; Dom Quixote, do Cervantes; no fundo, tudo o que espero é que a lista continue crescendo.
Se pudesse escolher como gostaria de morrer?
De forma indolor; e feliz.
COMENTÁRIO: Esta resposta é auto-explicativa.
Agradeço a João Filho pelos diálogos.
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ARQUIVOS IMPLACÁVEIS (de João Filho). À maneira de João Condé.
Nome:
Ricardo Domeneck
Onde nasceu e a data:
No município paulista de Bebedouro, no dia 4 de julho de 1977.
COMENTÁRIO: Às vezes me pergunto o quanto ter nascido naquela cidade me marca. Para alguns poetas brasileiros, seu local de nascimento torna-se mítico. É claro que isso depende da própria poética do autor. É natural que um poeta como Carlos Drummond de Andrade tenha feito de Itabira do Mato Dentro uma das cidades míticas do Brasil, pelo menos entre poetas. Ao mesmo tempo, para mencionarmos um contemporâneo e conterrâneo seu: quantas pessoas saberiam dizer onde nasceu Murilo Mendes? As cidades mais declaradamente marcantes em minha vida foram cidades de eleição: São Paulo e Berlim. No entanto, alguns dos poemas em Carta aos Anfíbios foram escritos em 2002, enquanto estava em Bebedouro, passando alguns meses com meus pais.
É casado, tem filhos?
Separado, sem filhos.
COMENTÁRIO: Não tenho filhos, mas gostaria de tê-los, gostaria muito de transmitir a outra criatura o legado de nossa _______________ (Preencha a lacuna com a coisa mais feliz e positiva que lhe parece encher a existência).
Altura:
1,84
COMENTÁRIO: No Brasil isso é considerado "alto". Lembro daquela descrição que ouvia nos anos 80 sobre o homem de 1 metro e oitenta como o supra-sumo da perfeição. Após viver por alguns anos entre gigantes germânicos (vários amigos meus aqui beiram os 2 metros de altura), passei a achar engraçada a descrição.
Peso:
60 kg
Número dos sapatos:
41
Prato preferido, bebida e jogo:
Bife com arroz e salada de tomate. Ou baião-de-dois. Tequila, porque é a única que não me deixa de ressaca. Quanto ao jogo, começo a me entediar cerca de 5 minutos depois de começar qualquer um, seja de cartas ou tabuleiro.
COMENTÁRIO: Pode ficar parecendo jogueteio de quem quer soar "simples", mas apesar de ter desenvolvido alguns hábitos culinários exóticos aqui na Alemanha, ainda gosto e prefiro certas comidas da infância.
Gosta de cinema, teatro, quais prefere?
Posso dizer, creio, que prefiro cinema, em tela de qualquer tamanho. Não poderia contar quantas experiências importantes tive no cinema. Cito duas: O sétimo selo, de Bergman, visto em um cinema de São Paulo aos 20 anos;
outra: La pianiste, de Michael Haneke, visto 11 vezes no cinema, filme por que fiquei obcecado por algum tempo.
As experiências inesquecíveis em teatro foram menos frequentes, mas cito uma: Vozes dissonantes, da Denise Stoklos.
COMENTÁRIO: Eu poderia haver citado outros filmes. O de Bergman foi simplesmente um momento de descoberta do cinema em São Paulo, com 20 anos, quando comecei a ver filmes de gente como o sueco, ou Godard, Pasolini, Tarkóvski. Alguns filmes estão tão marcados na minha mente que sua influência é totalmente vital. Poderia ter mencionado Não Amarás, de Kieslowski; O Espelho, de Tarkóvski; ter assistido a Éloge de l´amour, de Godard, na telona do cinema; ou, para falar de um filme recente, o mais novo trabalho de Darren Aronofsky, sobre o qual ainda pretendo escrever aqui, Black Swan, com uma performance radiante de Natalie Portman.
Poeta e prosador preferido:
Tendo que escolher um, menciono o mestre que elegi para mim mesmo: Murilo Mendes.
COMENTÁRIO: O poema "Janela do caos" ainda é uma das pedras de toque de tanto que aprendi sobre poesia.
Três primeiros movimentos de "Janela do caos"
1
Tudo se passa
Num Egito de corredores aéreos,
Numa galeria sem lâmpadas
À espera de que Alguém
Desfira o violoncelo
_ Ou teu coração?
Azul de guerra.
2
Telefonam embrulhos,
Telefonam lamentos,
Inúteis encontros,
Bocejos e remorsos.
Ah! Quem telefonaria o consolo,
O puro orvalho
E a carruagem de cristal.
3
Tu não carregaste pianos
Nem carregaste pedras,
Mas em tua alma subsiste
- Ninguém se recorda
E as praias antecedentes ouviram -
O canto dos carregadores de pianos,
O canto dos carregadores de pedras.
Não tenho prosador favorito, a preferência oscila entre Machado de Assis e Dostoiévski, Beckett e Hilst. O último que me impressionou foi Bolaño.
COMENTÁRIO: A menção a Machado de Assis e Fiódor Dostoiévski talvez pareça estranha a quem conhece meu trabalho, referências talvez não muito óbvias. Talvez deva qualificar um pouco as escolhas. Considero Machado importante e central para o que queiramos fazer hoje no Brasil. Há um poder de alusão e implicação, uma sutileza nele, que me parecem simplesmente exemplares. Como na passagem em que Sofia cai do cavalo em Quincas Borba. Aquele capítulo é para mim de uma perfeição inigualável em sugestão. Já Dostoiévski, na verdade, teve um impacto gigante em mim por causa de um romance específico. A verdade é que não gosto de quase nada mais que li do russo, com exceção do magnífico Os Irmãos Karamazov. Aquele romance está nas minhas entranhas desde que o li. Aliosha é uma das minhas personagens masculinas favoritas no mundo literário. As escolhas de Beckett e Hilst são mais óbvias, talvez. Dentre os "novos", Bolaño segue me parecendo um milagre. Mas ainda tenho que ler alguns americanos como David Foster Wallace, Jonathan Franzen e alguns outros.
Tipo de música e músico preferido:
Qualquer uma, desde que tenha letra e esta seja cantada por uma mulher: Beth Gibbons ou Billie Holiday, Björk ou Elis Regina, Kate Bush ou Chan Marshall.
Entre os compositores clássicos: Schubert.
Qual pintor preferido?
Meus pintores favoritos são dois videoartistas: Douglas Gordon e Péter Forgács.
COMENTÁRIO: Mais uma vez, não é jogueteio. É claro que há a decisão aqui est-É-tica de mencionar videoartistas onde João Filho me perguntou por pintores. Como foi a única pergunta em que ele mencionou as artes visuais, precisei escolher est-é-ticamente. Poderia, é claro, ter mencionado Jean Dubuffet, por exemplo, um pintor que amo; mas hoje dirijo meus olhos em geral para outras práticas.
Qual a cor predileta?
A quantidade de roupas sujas azuis espalhadas no chão do meu quarto deve indicar essa cor como a favorita, mesmo que inconsciente.
Quando escreveu seu primeiro texto?
Aos 12 anos, creio.
Dos seus livros publicados qual o preferido e por quê?
O primeiro, Carta aos anfíbios, porque aquela alegria difícil e meio inocente de terminar o primeiro livro nunca mais volta.
COMENTÁRIO: Isso é difícil de responder. A resposta acima me pareceu plausível. Ao mesmo tempo, gosto do último que publiquei por motivos muito diferentes. No entanto, hoje teria que responder que o livro de que mais gosto é o que estou escrevendo agora.
Se pudesse recomeçar a vida o que desejaria ser?
Ser capaz de compor música é a única coisa que desejaria acrescentar ao que já sou e tenho.
Seu principal defeito:
Ciumento, muito, muito ciumento. Muito.
COMENTÁRIO: Algo que já tomou tanta energia minha e o qual, ao mesmo tempo, contraditoriamente doou-me meu poema mais conciso.
Sua principal virtude:
Lealdade extrema aos amigos, o que às vezes pode ser um defeito quando é cega.
Coleciona alguma coisa?
Cruzar rios. Da forma como João Cabral relata sobre Murilo Mendes em um poema.
Algum hobby?
Na verdade, eu tenho a imensa sorte de viver do dinheiro ganhado com meu hobby: trabalho como DJ.
Uma ou duas grandes emoções em sua vida?
Receber o sim da editora que publicou meu primeiro livro. Receber o sim da editora que publicou o segundo.
É crente ou ateu?
Crente. A resposta à próxima pergunta indicará o quanto e como.
Três livros que mudaram sua vida ou, se não mudaram, mas tocaram fundo:
Teria que citar cinco - O Livro de Jó; Do sentimento trágico da vida, do Miguel de Unamuno; Os Irmãos Karamazov, do Dostoiévski; Investigações filosóficas, do Wittgenstein; Qadós, da Hilda Hilst. Parece-me mais que necessário mencionar também o que mais me divertiu e mais me fez rir em público, nos ônibus e trens de Berlim: o delicioso The Autobiography of Alice B. Toklas, da Gertrude Stein.
COMENTÁRIO: Outra vez, difícil fazer uma lista. Relendo esta hoje, fiquei pensando em tantos outros livros que me transformaram, como A Maçã no Escuro, da Clarice; Fragmentos de um Discurso Amoroso, do Barthes; Dom Quixote, do Cervantes; no fundo, tudo o que espero é que a lista continue crescendo.
Se pudesse escolher como gostaria de morrer?
De forma indolor; e feliz.
COMENTÁRIO: Esta resposta é auto-explicativa.
Agradeço a João Filho pelos diálogos.
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